O diretor David Schurmann não sabe se comemora a escolha de “Pequeno Segredo” como representante do Brasil para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Oscar 2017, ou se lamenta os ataques que seu filme passou a receber por conta disso, de gente que não o viu.
“Fico muito feliz e honrado com a escolha. Tínhamos esperança, afinal, a esperança é a última que morre, apesar de não ser um dos filmes mais falados”, ele disse ao jornal O Globo. “Sabemos que tem muita gente falando que não foi a melhor escolha da equipe, mas quero dizer que, quando essas pessoas assistirem ao filme, vão entender por que ele foi escolhido”, defendeu.
Schurmann acredita que a escolha de seu filme foi consequência do perfil de produções que costumam ser premiadas pela Academia. Ele lembrou que raramente filmes de “arte”, como o defendido “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, são premiados pela Academia. “É uma história muito forte, sobre adoção e HIV, que fala de encontros de pessoas diferentes pelo mundo. A Academia busca este tipo de filme. Uma história que quebra tabus, que abre a mente das pessoas para dramas universais, como a doença. É diferente do perfil dos filmes que vão para Cannes. São perfis diferentes de filmes: por isso, não é certo que um filme que vá bem em Cannes seja indicado ao Oscar”, comparou.
Em relação às críticas que vem sofrendo nas redes sociais, o cineasta desabafou a O Globo que lamenta as distorções, e cita o boato de “metade da equipe ser estrangeira”. Segundo ele, as mentiras se propagam sem que ninguém tenha o cuidado de verificar.
“As pessoas estão muito inflamadas, é uma característica do nosso tempo, acho natural, mas eu sou só um cineasta defendendo seu filme, que levou seis anos para ficar pronto. Ao contrário do que estão dizendo, o meu filme não tem ‘metade da equipe estrangeira’: temos uma diretora de arte que não é brasileira, porque o nosso diretor de arte, que era brasileiro, foi chamado para fazer ‘Narcos’ em cima da hora e ficamos na mão, e todos os grandes diretores de arte brasileiros já estavam trabalhando. Recebi uma indicação da Bridget Broch, que logo comprou a ideia do filme. O diretor de fotografia Inti Briones é peruano, chileno e brasileiro, e disso pouca gente sabe. Mesma coisa, o nosso diretor foi para ‘Nise’ e todos os grandes diretores de fotografia brasileiros já estavam trabalhando. E era meu primeiro longa, eu queria um grande diretor de fotografia. Além deles, dois atores são de fora, porque fazia sentido à história.
Cansado de ser atacado, ele contra-ataca, dizendo que sua equipe é até mais brasileira que a dos filmes da “panelinha”, que só filmam com gente do mesmo estado, porque emprega profissionais de dez estados diferentes do pais. “Considero meu filme mais brasileiro do que muitos filmes que só fazem com a sua panelinha”, arrematou.
Para completar, ele explica porque porque “ninguém viu o filme”. “A estreia estava marcada para junho, mas estávamos aperfeiçoando a mixagem de som e os efeitos especiais. Tem uma cena com uma baleia que eu não sosseguei enquanto não ficou perfeita. Não queria que ninguém achasse que não era uma baleia de verdade. É um filme de padrão internacional”.
Por isso, “Pequeno Segredo” só ficou pronto agora, sem tempo de entrar no circuito dos festivais. Vale lembrar que isso é muito comum entre os filmes do Oscar, com estreias no último fim de semana do ano para se qualificar à disputa de indicações, sem passar pelos festivais que precedem o período – casos, por exemplo, de “O Regresso”, um dos filmes mais premiados pela Academia em 2016.