Mais uma semana, mais um blockbuster para ocupar cerca de 40% de todos os cinemas disponíveis no Brasil. Desta vez, a iniciativa é da Fox, que lança “X-Men: Apocalipse” em 1.276 salas nesta quinta (19/5), com 814 telas 3D e domínio do circuito IMAX (12 salas).
O longa completa o reboot da franquia – um reinicio que rendeu trilogia, com “X-Men: Primeira Classe” (2011) e “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” (2014) – e reintroduz, em suas versões juvenis, alguns dos mutantes mais famosos da Marvel, Cíclope, Jean Grey, Tempestade e Noturno, interpretados por jovens em ascensão – respectivamente, Sophie Turner (série “Game of Thrones”), Tye Sheridan (“Amor Bandido”), Alexandra Shipp (“Straight Outta Compton”) e Kodi Smit-McPhee (“Planeta dos Macacos: O Confronto”). O elenco é impressionante, com James McAvoy (“Victor Frankenstein”), Michael Fassbender (“Macbeth”), Nicholas Hoult (“Mad Max: Estrada da Fúria”), Oscar Isaac (“Star Wars: O Despertar da Força”) e, desta vez, faz bom uso do status de estrela de Jennifer Lawrence (franquia “Jogos Vorazes”) como líder dos X-Men.
O que atrapalha é o tema que se repete pelo terceiro filme de super-herói consecutivo do ano: o conflito entre os “mocinhos” – justificando os 49% (melhor que “Batman vs. Superman”) de aprovação no Rotten Tomatoes. O filme só estreia na próxima semana nos EUA. Espera-se que, esgotado o assunto, Fox, Marvel e Warner descubram logo outras histórias.
Como ainda há salas lotadas com a briga de “Capitão América: Guerra Civil”, a sequência de outro sucesso tem que se contentar com módicas 250 salas. É o tamanho da distribuição reservada para a comédia “Vizinhos 2”, que volta a juntar Seth Rogen e Zac Efron, desta vez contra uma república de garotas bagunceiras comandada por Chlöe Grace Moretz (“Carrie, a Estranha”). O humor é grosseiro como o filme anterior, mas tem seu apelo. 62% dos críticos americanos aprovaram.
Todos os demais lançamentos disputam o já saturado circuito limitado. Mas não são exatamente clássicos, exceto por um, que é de, de fato, um marco de 1982.
Os maiores entre os pequenos são dois dramas com astros famosos, o australiano “A Vingança Está na Moda”, estrelado por Kate Winslet (“O Leitor”), que venceu diversos prêmios em seu país de origem, e “Pais & Filhas”, em que Russell Crowe (“Noé”) e Amanda Seyfried (“Ted 2”) enfrentam seus demônios pessoais, separados por uma geração. Ambos ocupam em torno de 45 telas, mas apenas o primeiro vale o ingresso. Para se ter noção, “Pais & Filhas”, dirigido pelo ex-superestimado Gabriele Muccino (“Sete Vidas”), foi considerado podre, com 18% no Rotten Tomatoes.
Dois filmes brasileiros entram na faixa seguinte, com 19 e 17 salas, respectivamente. “Amores Urbanos”, estreia na direção de Vera Egito (assistente de “A Deriva”), tenta retratar as crises da geração que cresceu com a MTV, com roqueiros indies atrás e diante das câmeras, mas a cenografia supera a dramaturgia, deixando sua história de adultos imaturos muito abaixo de, por exemplo, “Califórnia”, sobre o amadurecimento de uma adolescente, feito por uma ex-VJ com sangue de cineasta. Já o documentário “Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil” explora a relação artística e espiritual da artista com o país.
Os menores lançamentos inéditos são o drama francês de época “Os Anarquistas” (em 12 salas), mais um romance convencional que uma obra sobre o assunto de seu título, e o exercício sul-coreano “Certo Agora, Errado Antes” (3 salas), em que o diretor Hong Sang-soo se mostra mais Hong Sang-soo que nunca, contando duas vezes a mesma história com pequenas diferenças. Seriam dois filmes pelo preço de um único ingresso? Meio filme pelo preço de um ingresso inteiro? Uma lição sobre contemplação zen? Uma pegadinha que deixa críticos teorizando como trouxas? Ah, as reflexões filosóficas profundas que Hong Sang-soo enseja…
Fãs paulistas e cariocas de clássicos ainda tem a opção de assistir à versão remasterizada do imponente “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog, um desastre amazônico com tantas histórias de bastidores quanto as que foram eternizadas na tela. O relançamento chega a duas salas, uma em São Paulo e outra no Rio.