A Polônia vai reabrir o processo de extradição do cineasta franco-polonês Roman Polanski para os EUA, anunciou nesta terça-feira(31/5) o Ministro da Justiça polonês Zbigniew Ziobro. O diretor é acusado de ter estuprado uma menor de idade em 1977 e encontra-se foragido desde então.
O ministro informou que apresentará um recurso ao Tribunal Supremo para impugnar “uma decisão do tribunal de Cracóvia de não extraditar aos Estados Unidos Polanski, acusado de um crime cruel contra uma menor, o estupro de uma menor”.
A declaração foi feita durante uma entrevista a uma rádio pública.
“Para nós, isto não é uma surpresa”, disse à AFP Jerzy Stachowicz, um dos advogados do diretor. “Nós já esperávamos. O senhor Ziobro já havia declarado há algum tempo que faria isto. No momento, não podemos fazer comentários, pois não sabemos se já fez ou se ainda vai fazer”, completou o advogado.
O tribunal de Cracóvia rejeitou no dia 30 de outubro a extradição de Roman Polanski e a promotoria da cidade decidiu não apelar contra a decisão.
Ele se arriscou a enfrentar o processo na Polônia para poder filmar seu novo drama na terra natal de seus pais.
O diretor de clássicos como “O Bebê de Rosemary” (1968), “Chinatown” (1974) e “O Pianista” (2002) foi acusado de violentar Samantha Geimer em 1977, quando ela tinha 13 anos, após uma sessão de fotos em Los Angeles. Na ocasião, ele tinha 43 anos.
Embora tenha celebrado um acordo judicial, declarando-se culpado e cumprido pena de 42 dias na prisão, Polanski fugiu para a França ao obter liberdade condicional, antes de uma nova audiência em 1978, temendo que seu acordo original fosse revisto por outro juiz. Como é cidadão francês, ele não pode ser extraditado da França, o que o tornou, desde então, foragido da justiça americana.
Mesmo foragido, ele continuou filmando na França e conquistando reconhecimentos da indústria cinematográfica. Chegou até a vencer o Oscar nos EUA, por seu trabalho em “O Pianista”.
Mas o caso de quatro décadas não foi esquecido pela justiça americana, que, em 2009, conseguiu convencer a Suiça a prendê-lo, quando ele desembarcou no país a caminho do Festival de Zurique. Curiosamente, o caso repercutiu negativamente e, com o apoio da comunidade artística, ele lutou contra a extradição e ganhou, voltando para sua casa na França. Logo em seguida, foi premiado como Melhor Diretor no Festival de Berlim por “O Escritor Fantasma” (2010).
Assim como a justiça suíça, o tribunal de Cracóvia considerou que Polanski tinha cumprido sua pena original e que seus direitos tinham sido violados na perseguição movida pelos EUA. Contudo, a promotoria de Los Angeles argumenta que o diretor continua sendo um fugitivo e está sujeito à prisão imediata nos Estados Unidos, porque ele fugiu do país antes da sentença.
Polanski chegou a dizer, em entrevista coletiva logo após a decisão da justiça polonesa, que considerava o caso acabado. “O caso acabou, pelo menos na Polônia, eu espero. Eu posso suspirar com alívio. É difícil descrever quanto tempo, energia e esforço isso custa, quanto sofrimento que trouxe para a minha família”, ele se manifestou, afirmando já ter cumprido sua pena. “É simples. Eu me declarei culpado, eu fui para a prisão. Eu cumpri o meu castigo. Acabou”, resumiu.
Uma eventual ordem de extradição não obrigaria Polanski, hoje com 82 anos, a voltar aos EUA, pois ele está na França. Mas atrapalharia seus planos para fazer seu novo longa-metragem na Polônia: “The Dreyfus Affair”, adaptação cinematográfica do livro “An Officer and a Spy”, de Robert Harris. Este seria apenas seu segundo longa totalmente filmado no pais, após “A Faca na Água” (1962), no começo de sua carreira.