PIPOCAMODERNA
Pipoca Moderna
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc
  • Filme
  • Série
  • Reality
  • TV
  • Música
  • Etc

Nenhum widget encontrado na barra lateral Alt!

Filme|15 de maio de 2016

Ralé oferece alegria como alternativa

“Ralé” é cinema alternativo, libertário, na contramão das tendências conservadoras e moralistas que parecem estar vencendo batalhas importantes no momento atual brasileiro. É, portanto, muito bem-vindo para reforçar a ideia de que já avançamos o suficiente para não poder mais aceitar retrocessos.

A começar da questão do desejo, do amor e do casamento gay, que tem amplo destaque no filme. O casamento dos personagens Barão e Marcelo é uma espécie de fio condutor da trama, motivo de alegria e festa, ensejando manifestações claras e explícitas de afetividade e tesão. Assim como eles, outros personagens se expressam com a mesma desenvoltura, sem amarras ou falsos pudores.

Não é só isso, o filme celebra a natureza, o espírito e a poética amazônica, a busca constante da liberdade e até a ayahuasca dos rituais do Santo Daime e da União do Vegetal. Não tanto pelo caráter religioso, mas por poder vê-la sem o estigma da droga. Já a maconha, estigmatizada socialmente ou não, é parte integrante e natural da vida dessas pessoas. Sem grilos.

A natureza também se faz presente na cidade, numa sequência em que uma chuva muito forte alaga ruas e destrói um guarda-chuva, algo já corriqueiro nos nossos dias. A cena é bonita e serve de alerta e contraponto. Sem dramas ou vítimas, com suavidade.

Os personagens riem, se divertem, dançam, cantam. E a música brasileira é parte importante dessa grande celebração que é a vida, digamos, marginal. Isso para ficar num termo que remete a um cinema caro à diretora Helena Ignez.

São muitas sequências belas, ousadas, provocadoras, talvez, mas cheias de vitalidade e de crença na capacidade dos indivíduos de experimentar o sentido real da liberdade. É, nesse sentido, um filme de alto astral.

O elenco é maravilhoso para a proposta da obra de Helena Ignez. Ney Matogrosso se entrega ao papel de modo pleno e ainda canta divinamente, como de costume. Zé Celso Martinez, da mesma forma, completamente solto e à vontade. E também canta e se acompanha ao piano. Djin Sganzerla e Simone Spaladore estão ótimas. Gente do teatro alternativo, como Mário Bortolotto e Marcelo Drummond, além da própria Helena Ignez, fazem participações importantes.

Os personagens se confundem com os atores, que são, em larga medida, muito próximos deles mesmos. Ficção documental é o tom, já que não há uma história a contar, mas coisas legais a fazer. E que eles fazem com a maior naturalidade do mundo. Ou, pelo menos, assim parece.

Há espaço para tanta soltura, tanto descompromisso, tanta liberdade e diversidade nesses tempos tão tensos, de crises, conflitos e guerras para todo lado? Por que não? Cada um busca os seus caminhos onde pode se encontrar. Uns, nos prédios envidraçados dos escritórios, outros, na selva amazônica. Talvez embalados pela mesma e rica música popular brasileira, que de Luiz Gonzaga a Ney Matogrosso acompanha sonhadores de todos os tipos. A seleção musical, que a própria diretora escolheu para o filme, é preciosa. De fato, a realização toda é muito boa.

Sem posts relacionados

Antonio Carlos Egypto

Antonio Carlos Egypto é psicólogo educacional e clínico, sociólogo e crítico de cinema. Membro fundador do GTPOS - Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual. Autor de "Sexualidade e Transgressão no Cinema de Pedro Almodóvar","No Meu Corpo Mando Eu","Sexo, Prazeres e Riscos", "Drogas e Prevenção: a Cena e a Reflexão" e "Orientação Sexual na Escola: um Projeto Apaixonante", entre outros. Cinéfilo desde a adolescência, que já vai longe, curte tanto os clássicos quanto o cinema contemporâneo de todo o mundo. Participa da Confraria Lumière, é associado da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e edita o blog Cinema com Recheio

@Pipoca Moderna 2025
Privacidade | Cookies | Facebook | X | Bluesky | Flipboard | Anuncie