Cannes ficou mais picante com a exibição do thriller erótico “The Handmaiden” (Ah-ga-ssi), do diretor sul-coreano Park Chan-wook (“Oldboy”). O filme é uma adaptação do romance lésbico “Na Ponta dos Dedos” da escritora galesa Sarah Waters, mesma autora do livro que inspirou a minissérie britânica “Toque de Veludo” (Tipping the Velvet, 2002) e o filme “Afinidade” (Affinity, 2008), todos de temática lésbica e passados na Inglaterra vitoriana.
Park manteve o enredo, mas avançou algumas décadas, mudou a locação e alterou a etnia das personagens. Passada na Coreia nos anos 1930, durante o período de domínio colonial japonês, a trama acompanha Sook-Hee, uma espécie de “Oliver Twist” lésbica, garota órfã de bom coração que mora num cortiço com ladrões e vigaristas, que se vê envolvida num elaborado golpe do baú planejado por um vigarista profissional. O trapaceiro consegue empregar a jovem órfã como criada na casa de uma família japonesa rica, esperando que ela convença Lady Hideko, herdeira de uma fortuna, a casar-se com ele. Seu plano, porém, não conta com o sentimento que surge entre as duas mulheres. Não por acaso, o título de duplo sentido do romance original alude tanto aos dedos leves dos larápios quanto ao prazer sexual provocado por massagens no clitóris.
A encenação das cenas de sexo evoca o frisson provocado por “Azul É a Cor Mais Quente”, vencedor da Palma de Ouro no festival de 2013. Durante o encontro com a imprensa, Park Chan-wook defendeu o lesbianismo explícito dizendo que evitar o sexo seria como fazer “um filme de guerra, sem cenas de batalha”.
“É claro que o amor entre estas duas mulheres é o elemento chave do filme”, ele explicou. “Na interpretação deste amor, não há nenhuma maneira de contornar o ato que surge a partir de tanta emoção e desejo”.
Mas quando o golpe de sedução falha e vira paixão, o filme adentra outra área, em que Park Chan-wook já se mostrou especialista: a vingança. Juntas, as duas mulheres traçam um plano sangrento contra os homens que tentaram destruí-las. O resultado é uma fantasia de vingança lésbica, que pode ser considerada apelativa para alguns, mas nem por isso deixa de ser lindamente fotografada, muito bem dirigida e absolutamente excitante. Se não estourar nos cinemas, vai virar cult.
“Com tantos pequenos detalhes suculentos aqui e ali, eu diria que é a minha obra mais colorida”, acrescenta o cineasta.
“The Handmaiden” é o terceiro longa do diretor exibido em Cannes, que reverenciou suas participações anteriores, “Oldboy” (2003) e “Sede de Sangue” (2009), com o Prêmio do Júri. A produção também marca o retorno de Park Chan-Wook ao seu país de origem, após filmar nos EUA o suspense “Segredos de Sangue” (2013).
Além do filme, que vai ser lançado nos EUA pela Amazon, o diretor pretende lançar um livro com as fotografias em preto e branco que ele registrou no set durante as filmagens. Ainda não há previsão para a estreia.