Em época de crise econômica mundial, flexibilização de direitos trabalhistas, desemprego, recursos escassos, a falta de dinheiro atinge todos, de uma forma ou de outra.
Quando as dívidas se acumulam, qual pode ser a saída? Jogar na loteria, roubar? Mais charmoso, por certo, é imaginar que exista algum tesouro enterrado no jardim de algum lugar, que a gente possa encontrar e resolver o problema. A história da busca ao tesouro povoa a imaginação das crianças, desde sempre. E se de repente ela puder ser verdadeira?
Conta a lenda que, numa vila romena, uma fortuna teria sido enterrada no quintal, para preservá-la do confisco pelo regime comunista. Um detector de metal, que pode ser alugado por um dia, poderia servir para encontrá-la. Verdade ou não, a questão é: o que seria hoje o tão almejado tesouro, se ele existir? Façam suas apostas, vendo o ótimo filme “O Tesouro’, de Corneliu Porumboiu.
O cineasta é um talento já reconhecido depois de dois trabalhos muito criativos e originais na forma como se desenvolvem, dentro de um clima onde, aparentemente, nada acontece. São os filmes “A Leste de Bucareste”, de 2006, e “Polícia, Adjetivo”, de 2010.
Porumboiu nos convida, em todos os seus filmes, em que ele também é responsável pelo roteiro original, a observar calmamente a vida de personagens do povo, na lida diária, mas com alguma ideia estranha na cabeça. O que pode gerar problemas, conflitos e, via de regra, complicações com a polícia.
Revela o que foi o regime opressor e desconectado da realidade de Ceausescu, por meio desses personagens, tentando sobreviver como podem, uma vez que as regras do jogo estão sempre contra eles.
O trabalho de Corneliu Porumboiu merece ser conhecido. Quem não viu seus filmes anteriores, tente encontrá-los por aí. E aproveite para ver no cinema “O Tesouro”. É preciso ter paciência com o ritmo do filme, mas não deixar de vê-lo até o fim. Como em seus outros trabalhos, é chegando lá que tudo se decide e se revela, sempre de modo inteligente e original.