Com o circuito ainda sob o impacto de “Batman vs. Superman”, a programação da semana se contenta com estreias de distribuição modesta nos shoppings. As opções incluem diferentes gêneros, num bolo de qualidade uniforme – nivelada por baixo. Quando a massa fermenta, são sempre os lançamentos limitados, de ingredientes mais refinados, que fogem da receita comum.
O lançamento mais amplo chega em 362 salas. Com apelo nostálgico, a comédia “Casamento Grego 2” retoma a história da família de Toula (Nia Vardalos), 14 anos após o primeiro filme fazer história como o maior sucesso do cinema indie americano. Desta vez, o casamento do título é da filha da protagonista de 2002. Sem novidades, seu humor evoca séries de TV como “Modern Family” e não repetiu o sucesso de público e crítica do original. Abriu em 3º lugar na semana passada nos EUA, com 25% de aprovação no levantamento do site Rotten Tomatoes.
Com a segunda maior distribuição aparece a pior estreia, a animação “Norm e os Invencíveis”, em 297 salas. Coprodução indiana, acompanha um urso polar que viaja a Nova York para conscientizar a humanidade a respeito dos perigos que envolvem a exploração do Ártico. Mas a mensagem se perde totalmente quando Norm começa a rebolar, as piadas ruins se acumulam e a trama começa a ficar cada vez mais parecida como uma reciclagem de “Happy Feet”, “A Era do Gelo” e “Madagascar” de baixa qualidade. Considerada podre na avaliação do Rotten Tomatoes, teve somente 9% de aprovação e fracassou com uma bilheteria total de US$ 17 milhões.
A mediocridade continua com o terror “Visões do Passado”, estrelado por Adrian Brody (“O Pianista”). Psicólogo perturbado pela morta da filha descobre ter virado o personagem de Bruce Willis em “O Sexto Sentido” (1999). O que era novidade na época, é clichê agora. Chega em 115 salas, mas sequer teve lançamento cinematográfico nos EUA, onde vai sair direto em vídeo em abril (com 21% no RT).
Outro fracasso de público nos EUA, a comédia “Voando Alto” entra em 114 salas. Mas, ao contrário dos anteriores, a crítica americana gostou deste filme (76% no RT), que tem dois astros carismáticos e é baseada numa improvável história real. A trama acompanha os esforços de Eddie Edwards (Taron Egerton, de “Kingsman – Serviço Secreto”), que, apesar da falta de talento, tenta competir como esquiador nos Jogos Olímpicos, com a ajuda de um treinador pouco convencional (Hugh Jackman, de “Wolverine – Imortal”). Infelizmente, o déjà vu é inevitável após “Jamaica Abaixo de Zero” (1993).
Fecha o circuito dos multiplexes a estreia de “Zoom”, coprodução brasileira e canadense, falada em inglês, com atores dos dois países (e um mexicano) e dirigida pelo brasileiro Pedro Morelli (“Entre Nós”). O longa mistura animação e atores reais (Mariana Ximenes, Gael García Bernal, Claudia Ohana, Jason Priestley e Alison Pill) para entrelaçar, com metalinguagem, a história de três artistas: uma escritora (Ximenes), um diretor de cinema (Gael) e uma autora de histórias em quadrinhos (Pill). Estiloso, tem até potencial para virar cult, mas tende a dividir opiniões, devido à ênfase conferida à forma sobre o conteúdo. Abre em 93 cinemas.
O cinema brasileiro também é representado por dois lançamentos do circuito limitado. O mais empolgante também tem maior alcance. O thriller “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, leva para 30 salas a história de um marido que procura provas da infidelidade de sua esposa falecida, tramando uma vingança contra o suposto amante. Premiado nos festivais de Montreal e Brasília, a trama alude aos suspenses psicológicos clássicos, da escola de Hitchcock, mas entrega uma antítese, com pouca tensão.
O outro filme brasileiro é uma coprodução portuguesa, que tem a menor distribuição da semana. O drama “Histórias de Alice”, de Oswaldo Caldeira (“O Bom Burguês”) estreia em duas salas no Rio e uma em São Paulo, contando a busca de um cineasta brasileiro (Leonardo Medeiros) por suas raízes portuguesas. Repleto de flashbacks e uma Portugal de cartão postal, o filme só ganha ritmo pela metade, mas seu público é mesmo limitado.
Principal destaque dos “cinemas de arte”, o aguardado “A Juventude”, do cineasta italiano Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza”), chega em apenas 20 salas. Belíssimo, acompanha um maestro aposentado que, durante suas férias na companhia da filha e do melhor amigo, é convidado a retomar a carreira. Sorrentino, que já tinha impressionado com a plasticidade de “A Grande Beleza”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, consegue superar o elevado padrão estético daquele filme. E ainda conta com três astros veteranos (Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda), que combinam seus talentos míticos para conferir uma qualidade interpretativa insuperável à produção. Sua inexplicável ausência no último Oscar é contrastada pela vitória dos troféus de Melhor Filme, Diretor e Ator (Caine) na premiação da Academia de Cinema da Europa – o “Oscar europeu”.
Completa a programação o drama espanhol “A Garota de Fogo”, de Carlos Vermut, vencedor do Festival de San Sebastian e que rendeu o Goya de Melhor Atriz à Bárbara Lennie. Trata-se de outro lançamento de ótima qualidade lançado em meia dúzia de salas numa única cidade – exclusivamente no Rio de Janeiro. A trama instigante acompanha um pai que tenta realizar o último desejo de sua filha doente: comprar o vestido da personagem de uma série japonesa que a menina cultua. Mas esta busca o leva por caminhos tortuosos e ao encontro de personagens bizarros.