A justiça polonesa negou o pedido dos Estados Unidos para extraditar Roman Polanski, mantendo a suposta impunidade do cineasta no caso de abuso sexual de menor em que foi condenado em 1977. Ele se arriscou a enfrentar o processo na Polônia para garantir o direito de filmar na terra natal de seus pais.
O diretor de filmes de sucesso como “O Bebê de Rosemary” (1968), “Chinatown” (1974) e “O Pianista” (2002) foi acusado de violentar Samantha Geimer em 1977, quando ela tinha 13 anos, após uma sessão de fotos em Los Angeles. Ele tinha 43 anos.
Embora tenha celebrado um acordo judicial, declarando-se culpado e cumprido pena de 42 dias na prisão, Polanski fugiu para a França ao obter liberdade condicional, antes de uma nova audiência em 1978, temendo que seu acordo original fosse revisto por outro juiz. Como é cidadão francês, ele não poderia ser extraditado do país, o que o tornou, desde então, foragido da justiça americana.
Mesmo foragido, ele continuou filmando na França e conquistando reconhecimentos da indústria cinematográfica. Chegou até a vencer o Oscar nos EUA, por seu trabalho em “O Pianista”.
Mas o caso de quatro décadas não foi esquecido pela justiça americana, que, em 2009, conseguiu convencer a Suiça a prendê-lo, quando ele desembarcou no país a caminho do Festival de Zurique. Curiosamente, o caso repercutiu negativamente e, com o apoio da comunidade artística, ele lutou contra a extradição e ganhou, voltando para sua casa na França. Logo em seguida, foi premiado como Melhor Diretor no Festival de Berlim por “O Escritor Fantasma” (2010).
Assim como a justiça suiça, os poloneses consideraram que Polanski tinha cumprido sua pena original e que seus direitos tinham sido violados na perseguição movida pelos EUA. Contudo, a promotoria de Los Angeles argumenta que o diretor continua sendo um fugitivo e está sujeito à prisão imediata nos Estados Unidos, porque ele fugiu do país antes da sentença.
Em entrevista coletiva, Polanski se disse agradecido e aliviado pela decisão do tribunal polonês. “O caso acabou, pelo menos na Polônia, eu espero. Eu posso suspirar com alívio. É difícil descrever quanto tempo, energia e esforço isso custa, quanto sofrimento que trouxe para a minha família”, ele se manifestou, afirmando já ter cumprido sua pena. “É simples. Eu me declarei culpado, eu fui para a prisão. Eu cumpri o meu castigo. Acabou”, resumiu.
A promotoria tem até sete dias para recorrer da decisão do tribunal. Se isso não for feito, Polanski ficará livre para rodar na Polônia o seu novo projeto: “The Dreyfus Affair”, adaptação cinematográfica do livro “An Officer and a Spy”, de Robert Harris.
A obra conta a história real do militar judeu francês Alfred Dreyfus, que foi falsamente acusado de traição e condenado à prisão na Ilha do Diabo no final do século 19. Logo, a suspeita de um ato de antissemitismo ganhou força e ele acabou exonerado. O caso é famosíssimo e o único exemplo conhecido em que um artista conseguiu mudar de fato o curso da História. O “caso Dreyfus” sofreu reviravolta após o escritor Emile Zola escrever um célebre ensaio editorial, intitulado “J’accuse” (Eu Acuso), no formato de carta aberta ao Presidente da França e publicado na primeira página do jornal L’Aurora. Graças a este texto, a condenação de Dreyfus tomou proporções de escândalo, virando consternação pública e gerando clamores contra a injustiça.
Uma eventual ordem de extradição não obrigaria mais Polanski, hoje com 82 anos, a voltar aos EUA, mas atrapalharia seus planos para fazer o longa-metragem na Polônia. Este seria apenas seu segundo longa totalmente filmado no pais, após “A Faca na Água” (1962), no começo de sua carreira.