R. F. Lucchetti, um dos mestres do terror brasileiro, morre aos 94 anos

O escritor publicou mais de mil livros, centenas de quadrinhos e roteirizou dezenas de filmes, inclusive do Zé do Caixão

Facebook/R.F. Lucchetti

O escritor Rubens Francisco Lucchetti, conhecido pelos fãs como R.F. Lucchetti e considerado um dos grandes mestres do horror no Brasil, morreu na quinta-feira (4/4) em Ribeirão Preto (SP), aos 94 anos. Ele estava internado em um hospital particular para tratar um quadro grave de insuficiência respiratória.

Ele era o rei da pulp fiction, tendo escrito milhares de livrinhos baratos ao longo da carreira. Também foi jornalista e fundador do Clube de Cinema de Ribeirão Preto, mas sua trajetória foi ganhar impulso quando passou a escrever quadrinhos de terror nos anos 1960, especialmente ao firmar uma famosa parceria com o desenhista Nico Rosso, com quem desenvolveu histórias de Drácula de dar inveja nos filmes da Hammer. Ele trabalhou com os maiores desenhistas do gênero, incluindo Eugênio Colonnese, Rodolfo Zalla e Julio Shimamoto, em diversas obras que marcaram época.

A parceria com Zé do Caixão

As publicações chamaram atenção de José Mojica Marins, que convidou Lucchetti para escrever as HQs do seu personagem mais famoso, Zé do Caixão, o programa “Além, Muito Além do Além”, em que o diretor apresentava longas de terror caracterizado como o coveiro, e diversos filmes.

A parceria entre roteirista e cineasta floresceu no cinema, onde rendeu obras como “Trilogia de Terror” (1968), “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), “O Ritual dos Sádicos” (1970), “Finis Hominis – O Fim do Homem” (1971), “Exorcismo Negro” (1974), “A Estranha Hospedaria dos Prazeres” (1976), “Inferno Carnal” (1977), “Delírios de um Anormal” (1978) e “Mundo-mercado do Sexo” (1979) – além de produções de outros gêneros como a aventura “Sexo e Sangue na Trilha do Tesouro” (1972) e a comédia “Quando os Deuses Adormecem” (1972).

A dupla colaborou em cerca de 15 filmes. Mas quando Mojica foi influenciado pela era da pornochanchada a fazer obras de apelo sexual, Lucchetti iniciou outra parceria duradoura com o diretor Ivan Cardoso, especialista em comédias de terror. O escritor assinou as obras mais populares do cineasta, como “O Segredo da Múmia” (1982) e “As Sete Vampiras” (1986), além de “O Escorpião Escarlate” (1990) e “Um Lobisomem na Amazônia” (2005).

A macabra biblioteca

Paralelamente, ele publicou uma quantidade incontável de livrinhos de bolso. Dez anos atrás, Lucchetti disse ao g1 que somava 1.547 livros publicados, 300 quadrinhos assinados, mais de 25 roteiros de filmes, três programas de televisão e centenas de artigos divulgados em revistas e jornais e produções para rádio. Seus livros, por sinal, têm títulos tão sugestivos quantos seus filmes, como “Noite Diabólica” (1963), “Os Vampiros Não Fazem Sexo” (1974) e “O Fantasma de Tio William” (1992).

Em 2022, seus textos inspiraram a websérie “A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti”, com 10 episódios disponíveis no YouTube. Mas parte de sua obra não leva seu nome, já que, para publicar por editoras concorrentes, ele frequentemente usava pseudônimos – entre eles Vincent Lugosi, Brian Stockler e Myléne Damarest.

Sobre sua preferência por histórias de terror e suspense, Lucchetti uma vez explicou: “Eu tenho horror à realidade. Por isso, sou um ficcionista.”