A programação de cinema desta quinta (10/4) destaca ação e suspense, com “Drop – Ameaça Anônima” e “Operação Vingança”, os lançamentos mais amplos da semana. A relação completa de estreias traz mais oito títulos, incluindo três produções sul-coreanas, um drama brasileiro, capítulos de séries e documentários. Conheça a seguir cada título novo em cartaz.
Drop – Ameaça Anônima

O cineasta Christopher Landon, reconhecido por comédias de terror como “A Morte Te Dá Parabéns” e “Freaky – No Corpo de um Assassino”, abandona o tom leve e bem-humorado em seu retorno ao cinema, após a comédia desastrosa “Fantasma e CIA” na Netflix. O suspense segue Violet, uma viúva que tenta retomar a vida amorosa e é chantageada durante um encontro casual. O que começa como um jantar elegante com Henry, homem simpático que conheceu por aplicativo, vira um jogo de terror psicológico quando ela recebe mensagens de um chantagista ameaçando a vida de seus filhos. Obrigada a cumprir ordens cada vez mais extremas sem alertar ninguém, Violet passa por situações humilhantes e perigosas. O ponto alto da tensão ocorre quando ela precisa escolher entre a sobrevivência dos filhos ou se tornar assassina e matar o simpático Henry.
Landon troca os toques de humor de seus trabalhos anteriores por um clima de claustrofobia e paranoia total. Meghann Fahy (“The White Lotus”) conduz a narrativa com intensidade crescente, e Brandon Sklenar (“É Assim que Acaba”) interpreta Henry com ambiguidade calculada. A ambientação — um restaurante chique, ruas vazias, a solidão digital — contribui para criar um suspense enxuto, com duração de 85 minutos, que mantém o espectador sob tensão até o desfecho.
Operação Vingança

O thriller de ação traz o ator Rami Malek indo de “Mr. Robot” a “007: Sem Tempo para Morrer” em ritmo acelerado, como um nerd a serviço da CIA que embarca numa missão de vingança. Charles Heller é um criptógrafo brilhante, mas profundamente introvertido, que fica furioso depois que sua esposa (Rachel Brosnahan, a “Maravilhosa Sra. Maisel”) é morta num ataque terrorista e seus chefes se recusam a agir contra os culpados por prioridades conflitantes.
Disposto a resolver o problema com as próprias mãos, ele pressiona a agência para treiná-lo, mas o treinador da CIA (Laurence Fishburne, de “John Wick 4: Baba Yaga”) avalia que ele não tem capacidade e sangue frio para matar ninguém. Revoltado, Heller resolve agir usando o que já tem: conhecimentos técnicos. E logo se torna um assassino que nem a CIA é capaz de deter.
Dirigido por James Hawes (da série “Slow Horses”), o filme também traz em seu elenco Jon Bernthal (“O Justiceiro”), Michael Stuhlbarg (“Dopesick”), Caitríona Balfe (“Outlander”), Holt McCallany (“Mindhunter”), Julianne Nicholson (“O Homem dos Sonhos”) e Adrian Martinez (“Stumptown”).
Força Bruta: Punição

O terceiro capítulo da franquia de ação estrelada pelo detetive Ma Seok-do mergulha no submundo dos cassinos ilegais internacionais. Desta vez, o brutamontes carismático vivido por Ma Dong-seok (também conhecido como Don Lee) integra a equipe de Investigação Cibernética da polícia de Seul. Sua missão: derrubar uma quadrilha de jogo online que opera a partir da Ásia tropical. A trama se inspira em um caso real de 2015, quando criminosos sul-coreanos sequestraram programadores na Tailândia para manter um site clandestino de apostas.
Em sua nova função, Ma percorre cassinos clandestinos, enfrenta tiroteios e persegue criminosos do sudeste asiático até as vielas da Coreia, sempre com os punhos como principais aliados. O vilão Baek Chang-ki, vivido por Kim Mu-yeol (“Nova Ordem Espacial”), traz um antagonismo à altura, com requintes de crueldade e motivação pessoal. Park Ji-hwan retorna como o parceiro desastrado, mantendo o humor como marca da franquia.
A produção é conduzida por Heo Myeong-haeng, ex-coordenador de dublês, que imprime ritmo veloz e criatividade às cenas de ação. A fórmula continua eficaz: coreografias de ação bem planejadas, ambientação urbana realista e personagens carismáticos. O público sul-coreano respondeu com entusiasmo, consolidando o filme como um dos maiores sucessos do ano.
Regras do Amor na Cidade Grande

Na comédia romântica sul-coreana, uma amizade improvável entre uma jovem irreverente e um escritor introspectivo desafia padrões sociais conservadores em Seul. Kim Go-eun (de “Goblin”) interpreta Jae-hee, personagem carismática e excêntrica, que decide morar com o amigo Heung-soo (Steve Sanghyun Noh, de “Pachinko”) após boatos sobre a natureza do relacionamento dos dois. Com uma convivência baseada em afeto, confidências e enfrentamento de preconceitos, eles constroem uma relação que vai além dos rótulos.
O longa é baseado no livro homônimo de Park Sang-young e marca a estreia de Lee Eon-hee na direção. A diretora preserva as nuances LGBTQIA+ do romance original e destaca a química entre os protagonistas, embalada por uma estética urbana e uma trilha envolvente, enquanto questiona convenções de forma sutil, mas contundente.
As Aventuras de uma Francesa na Coreia

Isabelle Huppert encarna Iris, uma estrangeira à deriva em Seul e, que recorre ao ensino de francês para sobreviver. Além disso, ela busca conforto deitando-se em pedras e consumindo makgeolli, um vinho de arroz típico da Coreia. O drama, escrito e dirigido por Hong Sang-soo, investe no cotidiano aparentemente banal da personagem, girando em torno de encontros casuais e situações absurdas, filmadas com o minimalismo característico do cineasta sul-coreano.
Esta já é a terceira parceria de Huppert com Hong, depois de “A Câmera de Claire” (2017) e “A Visitante Francesa” (2012). Ela compõe uma figura ambígua, alternando inocência e mistério, em contraponto a personagens locais que se dividem entre encantamento e perplexidade diante de sua presença. O elenco inclui Lee Hye-young e Kwon Hae-hyo, colaboradores frequentes do diretor. Como de praxe nos trabalhos do diretor, não há uma estrutura narrativa convencional: o fil se organiza em conversas longas, pausas contemplativas e deslocamentos erráticos.
Premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim 2024, foi saudado como um dos trabalhos mais bem-humorados de Hong em anos. A filmagem ao ar livre, com luz natural, confere um tom quase documental à experiência.
Café, Pepi e Limão

O drama retrata com crueza e empatia a vida de três adolescentes em situação de rua em Salvador. Café foge do interior para buscar o pai preso. Pépi foi expulsa de casa pela mãe. Limão vive sob um viaduto com uma usuária de crack debilitada. O trio se encontra por acaso e forma uma pequena comunidade de sobrevivência, enfrentando abusos, repressão policial e fome.
Os jovens diretores baianos Adler Kibe Paz e Pedro Léo Martins se inspiraram em situações e pessoas reais de bairros periféricos que conheceram em trabalhos sociais. A encenação usa elenco local, formado por não-atores, e locações reais. A câmera observa com naturalismo o cotidiano dos adolescentes, permitindo improviso e expressividade. A relação entre os protagonistas — especialmente a amizade entre Café e Pépi — sustenta a tensão emocional do filme, que alterna cenas de violência com momentos de ternura.
Apesar de reconhecimentos em festivais, a obra gerou debates. Parte da crítica apontou excesso de miséria e estereótipos, sugerindo que a representação pode cair no niilismo. Por outro lado, houve quem comparasse, de forma elogiosa, ao realismo do Cinema Novo. Apesar das controvérsias, “Café, Pepi e Limão” é um registro contundente de uma juventude esquecida, raramente mostrada com tanta proximidade no cinema.
The Chosen – Última Ceia

A produção reúne os dois primeiros episódios da 5ª temporada da série bíblica que se tornou um fenômeno global. A nova fase acompanha os últimos dias de Jesus, preparando o público para um momento central da fé cristã: a Última Ceia. O tratamento é emocional, com foco nas interações íntimas entre Jesus e seus apóstolos, diante da crescente tensão com as autoridades religiosas de Jerusalém.
A série se destaca pela abordagem humanizada. Jonathan Roumie interpreta um Jesus acessível e afetuoso, e sua relação com Simão Pedro (Shahar Isaac) e Maria Madalena (Elizabeth Tabish) é desenvolvida com naturalidade. As cenas da Ceia são marcadas por simbolismo, mas também por emoção contida — a construção desse momento é feita com sobriedade, sem exageros nem teatralidade.
A produção prioriza autenticidade, desde o elenco, formado por atores de origem compatível com os personagens históricos, até a ambientação, filmada em locações reais. Com cinco temporadas e milhões de espectadores em mais de 180 países, “The Chosen” se consolidou como a mais ambiciosa representação audiovisual da vida de Jesus na era do streaming. A nova temporada mantém esse padrão, com episódios que buscam intensidade dramática e fidelidade espiritual ao mesmo tempo.
Kaijo No. 8 – Missão de Reconhecimento

O longa adapta os primeiros episódios do popular anime da Crunchyroll para exibição no cinema, acrescentando um capítulo inédito ao final. Baseado no mangá criado por Naoya Matsumoto, o anime é ambientado em um Japão constantemente ameaçado por monstros gigantes, os kaijus. Para lidar com essas ameaças recorrentes, o governo mantém uma força especial encarregada de combatê-los.
Kafka Hibino sonhava desde a juventude em integrar a Força de Defesa, movido por uma promessa feita à amiga de infância Mina Ashiro. Mas enquanto ela seguiu carreira militar e se tornou líder da unidade, ele acabou trabalhando como agente de limpeza, recolhendo os restos dos monstros abatidos.
O rumo da história muda após Kafka sofrer ferimentos durante um novo ataque. Em sua recuperação no hospital, um pequeno kaiju alado aparece e, surpreendentemente, é engolido por Kafka. Este evento o transforma em um híbrido humano-kaiju, dotado de uma força extraordinária. O novo poder lhe dá uma nova oportunidade para realizar seu sonho de se tornar um membro da força de combate aos monstros, mas também atrai suspeitas do governo, que sem saber de sua origem humana o classifica como “Kaiju Nº 8”, título reservado para ameaças não neutralizadas.
A série da Toho (produtora dos filmes de “Godzilla”) e Production I.G (de “Ghost in the Shell: Stand Alone Complex” e “Psycho-Pass”) tornou-se um fenômeno no Japão, com sua mistura envolvente de ação, comédia e aventura repetindo o sucesso do mangá, que vendeu mais de 13 milhões de cópias.
As Primeiras

O documentário esportivo registra o surgimento da seleção brasileira feminina de futebol e o apagamento histórico que se seguiu. Após décadas de proibição oficial do esporte para mulheres, durante a ditadura militar, o Brasil enfim monta uma equipe para competir na China em 1988. A obra recupera as vozes dessas pioneiras — Elane, Fanta, Roseli, China, Marisa e outras — que enfrentaram machismo institucional, precariedade e esquecimento.
A direção de Adriana Yañez (“Um Crime Entre Nós”) opta por uma narrativa íntima. Sem locução externa, são as próprias ex-jogadoras que contam suas histórias, entre reuniões caseiras e visitas aos campos onde treinaram. A simplicidade da estrutura contrasta com o peso das revelações: muitas vivem hoje de bicos, apesar de terem aberto caminho para gerações vitoriosas.
Imagens de arquivo, recortes de jornal e vídeos raros do torneio de 1988 ilustram um passado pouco conhecido, marcado por improviso e resistência. “As Primeiras” não apenas informa, mas repara. Ao dar espaço e dignidade às atletas invisibilizadas, o filme contribui para reconstruir a memória do futebol brasileiro de forma mais justa e completa.
Antonio Bandeira – O Poeta das Cores

O documentário biográfico aborda o pintor cearense que ganhou projeção internacional com sua arte abstrata. A narrativa parte da busca pessoal de seu sobrinho, Francisco Bandeira, que viaja até Paris para visitar o túmulo do tio e recuperar as memórias de sua trajetória artística e pessoal. A partir dessa viagem, o filme conduz uma investigação afetiva e histórica, apoiada em documentos, entrevistas e imagens de arquivo.
A direção é do cineasta Joe Pimentel (“Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito”), que divide o roteiro com a historiadora Aíra Bonfim. O projeto evita a reconstituição dramática e foca nos testemunhos reais, entre eles críticos de arte e artistas contemporâneos que comentam o impacto da obra de Bandeira no Brasil e no exterior. A fotografia enfatiza os contrastes entre Fortaleza e a França, lugares marcantes na vida do artista.
Exibido na 34ª edição do Cine Ceará, onde venceu o prêmio de Melhor Longa da mostra regional. Ao mostrar um artista pouco lembrado fora dos círculos especializados, o documentário cumpre função pedagógica e memorial.