Walter Salles revela que faria discurso político no Oscar: “Ditadura nunca mais”

Walter Salles revela que faria discurso político no Oscar: “Ditadura nunca mais”

Cineasta teve que improvisar por não encontrar anotações ao receber a estatueta de Melhor Filme Internacional por "Ainda Estou Aqui"

Instagram/The Academy

Troca inesperada de discurso

Walter Salles subiu ao palco do Oscar no último domingo (2/3) preparado para um discurso contundente sobre democracia e regimes autoritários, mas precisou improvisar. O diretor de “Ainda Estou Aqui” revelou que perdeu suas anotações momentos antes de receber a estatueta de Melhor Filme Internacional, o que o levou a um pronunciamento mais breve e diferente do planejado.

A revelação aconteceu nesta terça-feira (4/3), em coletiva de imprensa realizada em Los Angeles, ao lado de Fernanda Torres e Selton Mello. “Fiquei com os óculos, mas sem ter o que ler”, comentou o cineasta, rindo da situação. Ele explicou que, apesar de lembrar parte do texto, acabou deixando muitos pontos de fora e optou por homenagear Eunice Paiva, personagem real que inspirou o filme, além das atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que interpretam a protagonista em diferentes fases da vida.

“Ainda Estou Aqui” conta a história de Eunice Paiva (Fernanda Torres), que luta para provar que seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), foi assassinado pela ditadura militar após ser levado por agentes do regime. O longa é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, e garantiu ao Brasil sua primeira vitória na categoria de Melhor Filme Internacional.

O discurso que não foi ao ar

Após a cerimônia, Salles encontrou o discurso e decidiu divulgá-lo. O texto original fazia uma defesa incisiva da democracia e alertava sobre o ressurgimento de regimes autoritários. Confira o texto integral:

“O cinema sempre foi uma ferramenta poderosa para a memória e a resistência. Hoje, ao receber este prêmio, não posso deixar de lembrar de todos aqueles que tiveram suas vozes silenciadas por regimes que negaram a verdade e reprimiram a liberdade. Esta estatueta não é apenas um reconhecimento ao nosso filme, mas uma homenagem a Eunice Paiva e a todas as mulheres que lutaram incansavelmente por justiça.

Rubens Paiva foi arrancado de sua família, desaparecido pelo Estado, mas sua história nunca foi apagada. O Brasil já viveu dias sombrios, e a memória desses tempos precisa ser preservada para que nunca mais se repitam.

A democracia é um compromisso diário, e cabe a cada um de nós defendê-la. O cinema tem a responsabilidade de contar histórias que incomodam, que desafiam e que nos fazem lembrar que o silêncio nunca pode ser uma opção.

Este Oscar é do Brasil, das vítimas da ditadura, dos que ainda buscam respostas e dos que jamais desistiram de encontrar a verdade. Obrigado.”