Os cinemas recebem nesta quinta-feira (27/3) nada menos que 15 filmes, com destaque para produções de ação estreladas por Jason Statham e Jack Quaid, que recebem distribuição mais ampla. A maioria dos títulos visa o circuito limitado, incluindo um documentário de K-Pop, três novos dramas europeus e nove títulos brasileiros, divididos entre dramas vencedores de festivais, animação, comédia, documentários e um resgate histórico do cinema nacional.
NOVOCAINE À PROVA DE DOR
O thriller de ação, que estreou em 1º lugar nas bilheterias dos Estados Unidos há duas semanas, traz Jack Quaid (o Hughie de “The Boys”) no papel de Nate Caine, um homem comum que possui uma rara condição genética de insensibilidade à dor. Quando sua namorada é feita refém durante um assalto a banco, Nate transforma sua aflição em superpoder para enfrentar os criminosos. Em várias cenas de luta, ele demonstra sua invulnerabilidade a ferimentos graves, sorrindo ao ter uma faca cravada na mão ou nem ligar quando enfia a outra mão numa panela com óleo fervente. O problema é que, ao se tornar um herói improvável para resgatar o amor de sua vida, ele se torna suspeito do crime.
Dirigido pela dupla Dan Berk e Robert Olsen (“Uma Obsessão Desconhecida”), e com roteiro de Lars Jacobson (“Herança Maldita”), o lançamento ainda conta com Amber Midthunder (“O Predador: A Caçada”), Ray Nicholson (“Licorice Pizza”), Betty Gabriel (“Corra!”), Matt Walsh (“Veep”), Lou Beatty Jr. (“Um Milhão de Coisas”), Conrad Kemp (“Mandela: Longo Caminho para a Liberdade”) e Jacob Batalon (“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”) no elenco.
RESGATE IMPLACÁVEL
O diretor David Ayer e o astro de ação Jason Statham retomam a parceria bem-sucedida de “Beekeeper” (2024) num novo thriller no mesmo estilo. A trama acompanha Levon Cade, ex-agente das forças especiais que tenta levar uma vida discreta trabalhando em construções. Seu passado violento, porém, vem à tona quando a filha de seu chefe e melhor amigo é sequestrada por criminosos. Disposto a resgatar a jovem, Cade recorre às suas habilidades letais e embarca em uma jornada brutal de vingança que remete tanto aos clássicos de ação dos anos 1980 quanto aos genéricos mais recentes inspirados por “Busca Implacável” (2008).
O roteiro é baseado no livro “Levon’s Trade”, de Chuck Dixon, e foi coescrito por Ayer com ninguém menos que Sylvester Stallone, colega de Statham na franquia “Os Mercenários”. O elenco também conta com Michael Peña (“O Homem-Formiga e a Vespa”), David Harbour (“Viúva Negra”), Jason Flemyng (“X-Men-Primeira Classe”) e Arianna Rivas (“The Harvest”).
QUANDO CHEGA O OUTONO
O novo drama do celebrado cineasta francês François Ozon (“Jovem e Bela”) narra a história de Michelle, uma avó exemplar que desfruta de uma aposentadoria tranquila em uma vila na Borgonha, próxima à sua melhor amiga, Marie-Claude. No Dia de Todos os Santos, sua filha Valérie chega para deixar seu neto Lucas para passar a semana de férias. No entanto, os eventos não ocorrem conforme o planejado. Uma intoxicação alimentar acirra as tensões já existentes entre mãe e filha, levando Valérie a retornar abruptamente a Paris com Lucas. Sentindo-se isolada e enfrentando um vazio emocional, Michelle encontra uma nova fonte de companhia e propósito quando Vincent, filho de Marie-Claude e ex-presidiário, retorna à comunidade após cumprir pena.
Ao abordar a solidão da velhice, a narrativa atingiu 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, com 20 resenhas positivas. O elenco principal reúne Hélène Vincent (“Graças a Deus”), Josiane Balasko (“Baile das Loucas”), Ludivine Sagnier (“Napoleão”) e Pierre Lottin (“Notre-Dame – Desastre em Paris”).
MEU NOME É MARIA
A cinebiografia retrata a vida da atriz Maria Schneider, conhecida por seu papel em “O Último Tango em Paris”. A narrativa explora os desafios enfrentados por Maria após sua ascensão à fama, destacando os impactos pessoais e profissionais decorrentes de sua participação no filme controverso de Bernardo Bertolucci.
O filme foi inspirado no livro “Tu t’appelais Maria Schneider”, escrito por Vanessa Schneider, prima da atriz, que detalha os bastidores conturbados de “O Último Tango em Paris”, inclusive a cena polêmica da suposta tentativa de estupro com manteiga. O momento está no filme da diretora Jessica Palud (“Revenir”), que optou por manter o foco no rosto de Maria Schneider, interpretada por Anamaria Vartolomei (“Mickey 17”), para evidenciar sua angústia e vulnerabilidade durante as filmagens originais. A abordagem busca destacar o abuso sofrido pela atriz no set, já que a cena foi realizada sem seu consentimento prévio, mas a execução dividiu opiniões da crítica.
O elenco ainda traz Matt Dillon (“Quem Vai Ficar com Mary?”) como Marlon Brando e Giuseppe Maggio (“Bardot”) no papel de Bertolucci.
PARTHENOPE OS AMORES DE NÁPOLES
O drama de amadurecimento escrito, produzido e dirigido por Paolo Sorrentino (do vencedor do Oscar “A Grande Beleza”) é ambientado em Nápoles, terra natal do cineasta italiano, e acompanha a vida de Parthenope, uma mulher nascida em 1950 e batizada com o nome da mítica sereia associada à fundação da cidade. Reconhecida por sua beleza estonteante, Parthenope desperta paixões intensas ao seu redor, incluindo sentimentos de seu irmão Raimondo e de Sandrino, filho da empregada da família. Durante sua juventude, ela estuda Antropologia e considera uma carreira como atriz, mas desiste após interações com antigas estrelas de cinema. Em 1973, Parthenope, Raimondo e Sandrino passam um verão inesquecível em Capri, onde ela conhece o escritor americano John Cheever. Décadas depois, em 2023, Parthenope retorna a Nápoles, refletindo sobre sua vida e escolhas.
A protagonista é vivida por Celeste Dalla Porta, revelada como figurante no longa anterior do diretor, “A Mão de Deus” (2021), e pela sex symbol dos anos 1970 Stefania Sandrelli (“O Conformista”) em sua fase madura. O inglês Gary Oldman (vencedor do Oscar por “O Destino de uma Nação”) também participa da produção, ao lado de Silvio Orlando (“O Melhor Está por Vir”), Luisa Ranieri (“A Mão de Deus”), Peppe Lanzetta (“007 Contra Spectre”) e Isabella Ferrari (“Baby”).
“Parthenope” foi selecionado para competir pela Palma de Ouro no Festival de Cannes passado, onde recebeu uma ovação de nove minutos e meio. Entretanto, a recepção crítica foi mista. Enquanto o trabalho de cinematografia de Daria D’Antonio (que já havia dirigido a fotografia de “A Mão de Deus”) foi elogiada, a narrativa pretenciosa, que busca um tom quase enigmático, acabou se revelando o oposto: simplista. Para complicar a recepção, uma cena envolvendo um cardeal, a protagonista Parthenope e o milagre do sangue liquefeito de San Gennaro gerou controvérsia na Itália, sendo considerada sacrílega pela Igreja Católica Italiana.
MUNDO PROIBIDO
A animação brasileira combina ação, aventura e humor em uma narrativa de ficção científica inspirada nos clássicos do gênero. O desenho dirigido por Alê Camargo e Camila Carrossine é uma expansão da série “As Aventuras de Fujiwara Manchester”, exibida na TV Cultura em 2017, e acompanha o aventureiro espacial Fujiwara Manchester, criado por Camargo na adolescência, enfrentando diversos perigos ao lado da parceira Lydia Moshivah em sua busca por um tesouro lendário. Com a ajuda de Li, uma jovem especialista em explosivos, e da nave inteligente Cara-de-Cavalo, o grupo enfrenta robôs gigantes, alienígenas selvagens e trens carnívoros em sua jornada ao enigmático Mundo Proibido.
A produção é fruto da colaboração entre as produtoras Buba Filmes e UM Filmes. Notavelmente, “Mundo Proibido” foi selecionado para a sessão Midnight Specials do Festival de Annecy em 2022, destacando-se no cenário internacional de animação. Também recebeu reconhecimento em premiações, como Melhor Longa de Animação no Festival Anima Córdoba e Menção Honrosa no Festival Cinefantasy.
OESTE OUTRA VEZ
O faroeste caboclo do cineasta goiano Erico Rassi (“Comeback: Um Matador Nunca se Aposenta”) foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado 2024. Filmado na Chapada dos Veadeiros, conquistou o Kikito de Melhor Filme, além de prêmios para Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante, com uma narrativa centrada em um universo masculino rural, marcado pela ausência de mulheres.
O segundo longa de Rassi explora a vida vazia e angustiante dos personagens em uma trama que equilibra o trágico, o cômico e o absurdo. O enredo explora a vida de homens rudes incapazes de lidar com suas fragilidades, frequentemente abandonados pelas mulheres que amam. Esses indivíduos, tristes e amargurados, acabam direcionando sua violência uns contra os outros. O elenco reúne Ângelo Antônio (“Mania de Você”), Adanilo (“Marighella”), Babu Santana (“Tim Maia”), Antonio Pitanga (“Casa de Antiguidades”), Daniel Porpino (“Cangaço Novo”) e o coadjuvante premiado Rodger Rogério (“Bacurau”).
A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA
Vencedor do Festival do Rio 2023, o drama histórico narra um conflito de estudantes paulistas em 1968, durante a época da ditadura militar. A ação se passa em torno da noite que ficou conhecida como “Batalha da Rua Maria Antônia”, um conflito vivido por professores e estudantes no prédio da Faculdade de Filosofia da USP, que montaram uma vigília para garantir a votação de um pleito do movimento estudantil e acabam enfrentando ataques da extrema direita, autodenominada de Comando de Caça aos Comunistas, que vêm do outro lado da rua, de estudantes da Universidade Mackenzie. Quando o confronto explode, gritos, molotovs, pedras, paus e bombas caseiras são atiradas, e as 24 horas vividas com a paixão da juventude dos anos 1960, em defesa da democracia, se misturam com a iminência da invasão dos militares ao prédio da USP.
O confronto resultou na morte do estudante secundarista José Carlos Guimarães, que estudava no Colégio Marina Cintra da Rua da Consolação, atingido na cabeça por um tiro vindo da Mackenzie, e no incêndio do prédio da USP pelos estudantes de direita. O acontecimento influenciou a transferência dos cursos da USP da rua Maria Antônia para a Cidade Universitária, no bairro do Butantã, cuja obra já estava em andamento.
Primeiro longa dirigido por Vera Egito (da série “Todxs Nós”), “A Batalha da Rua Maria Antônia” foi filmado em preto e branco em 21 planos sequências, o que lhe dá um tom documental e realista. O elenco jovem destaca os atores Pâmela Germano (“Dois Tempos”), Caio Horowicz (“Lov3”), Philipp Lavra (“Rotas do Ódio”), Gabriela Carneiro da Cunha (“Anna”), Isamara Castilho (“3%”) e Juliana Gerais (“Dente por Dente”).
CÂNCER COM ASCENDENTE EM VIRGEM
A comédia dramática é inspirada na história real de Clélia Bessa, produtora do filme, que compartilhou sua experiência ao enfrentar um câncer de mama no blog “Estou com Câncer, e Daí?”. A história acompanha Clara, interpretada por Suzana Pires (“De Perto Ela Não é Normal”), uma professora de matemática e influenciadora digital que vê sua vida controlada ser abalada ao receber o diagnóstico de câncer de mama. Durante o tratamento, Clara conta com o apoio de sua mãe Leda (Marieta Severo, de “A Grande Família”), de sua filha adolescente Alice (Nathália Costa, de “Os Farofeiros”) e das amigas Dircinha (Fabiana Karla, de “De Repente, Miss!”) e Paula (Carla Cristina Cardoso, de “Os Suburbanos”).
O enredo aborda, com sensibilidade e bom humor, os desafios e as transformações pessoais decorrentes da doença, destacando a importância das relações familiares e das amizades nesse processo. A direção é da autora de novelas Rosane Svartman (“Vai na Fé”).
ESTRANHAS COTOVELADAS
O romance dirigido por Reinaldo Volpato explora os dilemas afetivos de uma médica envolvida em um triângulo amoroso com dois homens de realidades opostas. A trama se desenrola na fictícia Torre de Pedra, município onde Ella Trieste, interpretada por Eliandra Caon Marcolino, se vê dividida entre um jovem usineiro de cana-de-açúcar e um agrônomo defensor da agricultura familiar e orgânica. O elenco conta com Domingos Meira e Rafael Montassier nos papéis principais.
A produção homenageia a cultura caipira, utilizando como cenário cidades paulistas como Botucatu, Pardinho e a própria Torre de Pedra. O diretor Reinaldo Volpato, natural do interior paulista, tem uma carreira dedicada a retratar a realidade interiorana em suas obras, como o documentário “A Moda é Viola” (2013) e o programa “Viola, Minha Viola”. Não por acaso, sua nova obra integra o projeto Núcleo de Distribuição Cinema do Interior, que visa ativar um circuito exibidor no interior paulista e abrir novos horizontes para a indústria cinematográfica regional. O lançamento privilegia este mercado em detrimento das capitais.
ONDA NOVA
O filme de 1983, dirigido por José Antonio Garcia e Francisco “Ícaro” Martins, ressurge após mais de 40 anos marcado por sua interdição durante a ditadura militar. Classificado pelas autoridades da época como “libertino” e “desrespeitoso”, o longa foi proibido e só chegou aos cinemas com o começo da abertura democrática. A censura mencionava cenas de nudez, aborto, uso de drogas e lesbianismo como justificativa para o veto.
Produzido nos moldes da Boca do Lixo, o longa nasceu de um acordo entre os diretores e o produtor Adone Fragano, que exigia cenas de sexo como contrapartida para bancar a filmagem. Mesmo inserido nesse circuito, “Onda Nova” rompeu com os estereótipos da pornochanchada tradicional ao adotar uma abordagem mais libertária, feminista e contrária à visão moralista do gênero.
A trama se passa em um fictício time de futebol feminino, o Gayvotas Futebol Clube, e acompanha a rotina das jogadoras em um cenário ainda marcado pelo preconceito de gênero. Lançado no mesmo ano da regulamentação do futebol feminino no Brasil, o filme usa o esporte como metáfora para a emancipação das mulheres, tocando em temas como sexualidade, aborto e de drogas de forma naturalizada. O forte elenco feminino destaca Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Regina Casé e Tania Alves e ainda há participações especiais de Caetano Veloso, Walter Casagrande e Osmar Santos como eles mesmos.
A restauração acontece após a obra ganhar status de cult, ao ser redescoberto em exibições no Canal Brasil. Os planos dos produtores, que incluem a filha do falecido José Antonio Garcia, são relançar os outros dois filmes da “Trilogia do Desejo” dos cineastas, “O Olho Mágico do Amor” (1982) e “A Estrela Nua” (1984), também estrelados por Carla Camurati, no momento em que a atriz virava protagonista das novelas da Globo.
MÁRIO DE ANDRADE O TURISTA APRENDIZ
O drama de Murilo Salles (“Como Nascem os Anjos”) é uma livre adaptação das anotações feitas por Mário de Andrade durante sua viagem pelo Rio Amazonas em 1927, antes da publicação de seu livro mais consagrado, “Macunaíma”. Essas anotações foram organizadas e publicadas postumamente em 1976 sob o título “O Turista Aprendiz”.
A produção propõe uma narrativa que se desenrola na mente do escritor, mesclando memórias e ficção, e busca homenagear Mário de Andrade em sua incessante reflexão sobre a identidade cultural brasileira. O elenco destaca atores pouco conhecidos, como Rodrigo Mercadante, que tem o papel de Mário.
RUA AURORA REFÚGIO DE TODOS OS MUNDOS
O documentário de Camilo Cavalcante (“A História da Eternidade”) entrevista migrantes de várias partes do mundo e de diferentes regiões do Brasil no centro de São Paulo. Os depoimentos revelam um mosaico humano que reflete suas experiências, pontos de vista, lutas, angústias e superações.
O SILÊNCIO DAS PALMAS
Impedida de trabalhar por causa da pandemia de Covid-19, uma família circense precisa abandonar o picadeiro e se reinventar para sobreviver. Tempos depois, eles se preparam para a tão esperada reabertura do circo, sob as lentes do documentarista Vinicius Pessoa.
ZEROBASEONE: THE FIRST TOUR – TIMELESS WORLD IN CINEMAS
O documentário acompanha a primeira turnê do grupo de K-pop Zerobaseone, trazendo performances gravadas em Seoul, imagens de bastidores e depoimentos exclusivos dos nove cantores. Os hits apresentados pela produção incluem “In Bloom”, “Feel the Pop” e “Good so Bad”, além de faixas do reality “Boys Planet”, que marcou a formação do grupo sino-coreano há dois anos.