A torcida venceu, o público perdeu. Game over para o BBB?

A torcida venceu, o público perdeu. Game over para o BBB?

Eliminação de Aline expõe colapso da produção e deixa o programa nas mãos de torcidas que não se importam com narrativas

X/BBB

Quem manda no BBB?

A eliminação de Aline Patriarca no 10º Paredão do BBB 25 expôs um impasse central: quem manda no programa — a produção ou as torcidas? A participante que mais incorporou o discurso oficial sobre coragem, confronto e jogo aberto deixou a casa, enquanto seguem intocados participantes que não se expõem e evitam confrontos.

Ao ser retirada do jogo mesmo após vencer no voto único — que representa a vontade popular —, Aline foi derrotada no voto das torcidas pela mobilização organizada do Team Ballet, fãs de Renata Saldanha e Eva Pacheco, que explodiram a narrativa interna do reality para contar uma história oposta ao que os produtores tentavam emplacar até então.

A consequência desse resultado não afeta apenas a atual edição. Muda o tipo de mensagem que o programa transmite para quem o assiste — e, sobretudo, para quem pretende participar do BBB 26.

Jogar virou risco

Desde o início da temporada, marcada por imenso marasmo, o apresentador Tadeu Schmidt foi claro: o público recompensa quem se compromete, quem enfrenta, quem arrisca. Aline fez isso. Assumiu conflitos, articulou jogadas, provocou rachas e imprimiu ritmo ao jogo. Não houve dúvidas: sua ação gerou rixas, criou memes e aumentou a audiência.

Mas sua eliminação deixa uma lição inevitável para qualquer futuro participante: que esse caminho leva ao Paredão e à saída. E que o verdadeiro segredo para se dar bem no reality é não jogar. A falta de combatividade é estratégia, a apatia é proteção. A vitória pode ser definida em gracinhas dentro do quarto, sem comprometimento algum, para conquistar fãs, porque a disputa do Big Brother Brasil claramente não se dá mais com participantes dentro da casa, mas entre torcidas fora dela.

Esse modelo já havia sido testado no BBB 21, quando o favoritismo de Juliette se impôs com apoio massivo. Mas, ali, havia um arco de construção interna, com uma jornada de perseguição e empatia, com uma conexão com o público em tempo real. No BBB 22, Arthur buscou se isolar e usar charme para ter uma trajetória igual. No BBB 23, a campeã Amanda foi definida por uma fanfic, mas o favoritismo assumido da produção ao grupo oposto também contribuiu para torcidas terem maior empatia. Davi Brito foi uma nova Juliette.

Mas e o BBB 25?

Não houve protagonista estabelecido. Nenhum personagem conquistou a audiência de forma orgânica. A produção tentou provocar conflitos, mas esbarrou em um elenco que resistia a se comprometer com o jogo. E quando alguém finalmente reagiu — Aline —, foi eliminado. Não por rejeição, mas por mobilização externa. A história contada pelo programa foi sabotada pelas torcidas que criaram uma narrativa própria, desconectada da casa.

A ausência de um favorito natural fez do BBB 25 um território virgem, onde torcidas ocuparam o vácuo com estratégias de ocupação. Não se trata mais de defender alguém que cativa, mas de vencer uma guerra simbólica. É a institucionalização do fandom como protagonista — em que os participantes não passam de coadjuvantes da trama que acontece fora da casa.

Público sem poder de decisão

O que se vê nesta temporada é a consolidação de um novo tipo de lógica: o programa como plataforma para medição de força entre grupos organizados, e não como termômetro da vontade do telespectador. A consequência disso é que o conteúdo deixa de importar. O enredo, o carisma, o conflito, tudo se torna irrelevante se não houver torcida de adolescentes dispostos a militar por trás. O que resta é um tabuleiro vazio onde qualquer tentativa de jogar é rapidamente neutralizada — ou punida.

A eliminação de Aline é simbólica porque ela tentou participar do BBB como a produção idealizava o reality. O que as torcidas decidiram tirar do jogo foi exatamente aquilo que a direção pedia: coragem, exposição, conflito, risco — tudo o que faltava à temporada até sua chegada.

O discurso oficial valorizava o enfrentamento e a quebra da neutralidade. Aline foi a única a assumir essa proposta com consequência e foi eliminada por isso. O que as torcidas decidiram eliminar foi exatamente aquilo que a produção mais queria ver. E não só a produção. As redes sociais deixaram claro a insatisfação com o marasmo, enquanto a audiência naufragava com a falta do que ver. Aline entregou ao programa exatamente o que se cobra de um participante num reality de convivência — e foi eliminada por isso.

O paradoxo expõe a desconexão entre o que a audiência quer ver e o que as torcidas permitem mostrar. Esse descompasso coloca o BBB diante de uma encruzilhada. Ou o programa retoma o controle da narrativa, ajustando as regras para que o jogo dentro da casa volte a importar, ou continuará sendo refém de disputas externas que ignoram o conteúdo exibido.

Formato comprometido

Se a leitura dominante entre os futuros participantes for a de que se destacar significa ser eliminado, quem entrar no BBB 26 tenderá a buscar se fundir com a vegetação, apostando na suposta beleza ou charme, e só falar mal dos adversários onde eles não possam ouvir, garantindo não gerar qualquer tipo de confronto.

O risco real do BBB 25 não é o desgaste de uma temporada. É o esvaziamento completo do formato.

A eliminação de Aline é um ponto de ruptura. Se nada mudar, o BBB deixará de ser um reality sobre convivência e estratégia para se tornar uma plataforma de validação de nichos. Um concurso de simpatia onde o que se faz dentro da casa pouco importa — desde que se tenha um fandom forte o bastante fora dela.

Sem reação da produção, só vai piorar

Se o BBB quiser sobreviver além de 2025, precisa decidir que jogo quer jogar, e isto inclui mudanças nas regras, mudando os pesos dos votos. Votação única tem que ter peso maior que o voto das torcidas ou nada vai mudar. Maike recebeu 53,32% do voto individual de espectadores reais, não bots de votação, e mesmo assim foi Aline quem saiu – com 9% menos votos do público.

Do jeito como a temporada se encaminha para terminar, a produção terá trabalho dobrado em suas próximas seleções, pois precisará garantir que seus futuros participantes entendam que vale a pena jogar. As torcidas, por sua vez, seguirão empenhadas em mostrar que jogar é perder.

QUAL GRUPO VAI VENCER O BBB 25?

O campeão do reality virá de qual quarto da edição?