Por que arquitetos odeiam “O Brutalista”?

Por que arquitetos odeiam “O Brutalista”?

Filme indicado a 10 prêmios no Oscar 2025 ignora brutalismo e distorce história da arquitetura

Divulgação/Universal Pictures

Ausência de brutalismo no filme

O Brutalista”, dirigido por Brady Corbet e indicado a dez Oscars, prometia ser um épico sobre arquitetura, mas decepcionou especialistas da área. O longa, que acompanha a trajetória do arquiteto fictício László Tóth, interpretado por Adrien Brody, apresenta poucas referências ao brutalismo, movimento arquitetônico que lhe dá nome.

A estética brutalista, marcada pelo uso de concreto aparente e formas geométricas imponentes, praticamente não aparece ao longo das três horas e meia de duração do filme. “Os cineastas disseram que leram todos esses livros sobre brutalismo, mas absolutamente nada disso foi usado para fins dramáticos, nem parece ter sido absorvido”, criticou Alexandra Lange no podcast “Por que ‘O Brutalista’ é um filme terrível?”.

O filme revela um dos projetos de Tóth apenas no desfecho, mas Victoria Young, professora da Universidade de St. Thomas, afirmou à AFP que a construção não é brutalista, mas sim modernista inicial. “Isso causa uma confusão cronológica”, destacou.

Faltou às aulas de História da Arquitetura

A cronologia do filme também levantou críticas entre historiadores da arquitetura. A trama retrata Tóth como um sobrevivente do Holocausto que, ao chegar aos Estados Unidos no pós-guerra, enfrenta dificuldades financeiras e chega a fazer fila para conseguir pão grátis.

No entanto, figuras como Marcel Breuer e Walter Gropius, associados à Bauhaus, emigraram para os Estados Unidos nos anos 1930, antes da 2ª Guerra Mundial, e foram recebidos com posições de prestígio. “A arquitetura modernista já estava bem estabelecida nos Estados Unidos muito antes da época retratada no filme”, apontou Young.

“Como historiadora de arquitetura, minha cabeça ainda está girando após ver este filme”, ela completou.

Inspiração e exposição

A Abadia de São João, projetada por Marcel Breuer em Minnesota, foi uma das principais inspirações para “O Brutalista”. Brady Corbet afirmou que um livro sobre a construção do templo influenciou a narrativa do filme e a trajetória do protagonista László Tóth. No entanto, especialistas contestam a fidelidade da representação.

Alan Young, membro da abadia, criticou a concepção estética do filme, afirmando que o brutalismo retratado “parece mais com edifícios modernos russos… que lembram parapeitos para armas ou um monte de caixas empilhadas”. Apesar disso, disse que seus colegas monges estão “animados” com a visibilidade que o local ganhou.

Além disso, a cinebiografia apresenta Tóth como um arquiteto religioso e viciado em heroína, enquanto Breuer, verdadeiro criador da Abadia, era secular e não tinha histórico de dependência química.

Uso de inteligência artificial levanta polêmica

Outro ponto controverso foi o uso de inteligência artificial para criar as imagens dos projetos arquitetônicos fictícios de Tóth. David Jancso, editor do filme, confirmou que a tecnologia foi usada para gerar versões estilizadas das construções.

Corbet negou que os desenhos tenham sido feitos por IA, garantindo que os planos foram criados manualmente. No entanto, admitiu que a ferramenta foi utilizada para produzir “reproduções digitais intencionalmente rudimentares” para o epílogo do filme. Além disso, a IA foi aplicada para suavizar o sotaque húngaro dos atores.