Estreias | “Borderlands” e “Armadilha” são as principais novidades de cinema

Além da sci-fi com Cate Blanchett e o suspense de M. Night Shyamalan, a programação recebe um melodrama com Blake Lively, o novo apelo social de Ken Loach e três filmes brasileiros

Divulgação/Paris Filmes

A adaptação do game “Borderland” chega aos cinemas com a maior distribuição da semana, na tentativa de emplacar como blockbuster. Aventura espacial cômica, a produção se destaca por seu elenco famoso, encabeçado por Cate Blanchett, mas não deve agradar aos fãs do jogo original ou a quem espera algo realmente parecido com um blockbuster. Para complicar, além de enfrentar os sucessos ainda em cartaz, vai dividir atenções com o igualmente fraco suspense “Armadilha”, novo filme de M. Night Shyamalan, diretor que tem um público fiel desde “O Sexto Sentido” (1999). Em escala menor, a programação também recebe um melodrama com cara de telefilme de alerta social estrelado por Blake Lively, o novo apelo socialista do diretor britânico Ken Loach e três longas brasileiros – com destaque para “Mais Pesado que o Céu”, premiado no Festival de Gramado. Confira os detalhes.

 

BORDERLANDS

 

A adaptação do game “Borderlands”, que ganhou o subtítulo desnecessário de “O Destino do Universo Está em Jogo” no Brasil, se esforça bastante para ser um novo “Guardiões da Galáxia”, mas copia muito mal o original. Assim como no filme da Marvel, a produção acompanha um grupo disfuncional de heróis espaciais, que enfrenta inimigos numa galáxia distante enquanto solta piadinhas. Só que a realização, com todos os clichês imagináveis, fica mais próxima das produções de sci-fi B dos anos 1980, lançadas diretamente em VHS, do que daquilo que se espera de um blockbuster. É um trashão – não do tipo cultuável e sim do tipo pior filme do ano.

Assim como no game de 2009, “Borderlands” se passa em um planeta chamado Pandora, que foi explorado por uma mega-corporação e, após ser abandonado, se tornou uma terra sem lei à la “Mad Max”. A trama segue Cate Blanchett (“Thor: Ragnarok”) como Lilith, uma infame caçadora de tesouros com um passado misterioso, que retorna a Pandora, seu planeta natal, para encontrar a filha desaparecida de Atlas, interpretado por Édgar Ramírez (“Um Homem da Flórida”), que é considerado o homem mais poderoso do universo. A menina pode ser a chave para um poder inimaginável.

Lilith forma uma aliança com um grupo diversificado de desajustados, incluindo Roland (Kevin Hart, “Jumanji: Próxima Fase”), um ex-mercenário em busca de redenção; Tiny Tina (Ariana Greenblatt, “Love and Monsters”), uma jovem especialista em demolição; Krieg (Florian Munteanu, “Creed II”), o protetor musculoso de Tina; Tannis (Jamie Lee Curtis, “Halloween”), uma cientista excêntrica; e Claptrap (voz de Jack Black, “Jumanji: Próxima Fase”), um robô sarcástico. Juntos, eles enfrentam a exótica fauna local, monstros alienígenas e bandidos perigosos, e nem assim exibem a menor química coletiva, com piadinhas ruins substituindo relacionamentos e desenvolvimento dos personagens.

 

ARMADILHA

 

M. Night Shyamalan, diretor de “Sexto Sentido”, “A Vila”, “Fragmentado” e “Tempo”, é conhecido por apresentar finais com grandes reviravoltas, que são mantidas em absoluto segredo durante a divulgação de seus filmes. Entretanto, desta vez a reviravolta está na premissa e é parte integral da história. O longa traz Josh Hartnett (“Oppenheimer”) como um pai de família, que se vê preso no show da cantora pop Lady Raven (interpretada pela filha do diretor, Saleka Shyamalan) com sua filha adolescente, enquanto a polícia instala câmeras de segurança e fecha o local do evento. Preocupado com a cena, ele acaba descobrindo que o show é uma armadilha para pegar um serial killer que estaria no local. Tudo muda diante desta ameaça, que coloca em risco não sua filha adolescente, mas ele próprio, pois é neste ponto que o diretor revela que o pai de família é o próprio serial killer.

Shyamalan baseou a história num fato real, mudando detalhes para apresentá-la como “‘O Silêncio dos Inocentes’ ambientado num show de Taylor Swift”, como descreveu durante a divulgação. Mas a execução do cerco e do jogo de gato e rato entre a polícia e o assassino não empolgou a crítica, que se dividiu na avaliação do filme, deixando-o com uma avaliação medíocre, de 54% de aprovação na média das críticas avaliadas pelo site Rotten Tomatoes.

 

É ASSIM QUE ACABA

 

O melodrama estrelado por Blake Lively (“Um Pequeno Favor”) é baseado num best-seller de Colleen Hoover (“Confess”), com direção de Justin Baldoni (“A Cinco Passos de Você”), que também coestrela a trama com a atriz. A prévia mostra como os dois se apaixonam e iniciam um relacionamento romântico, até que ele começa a demonstrar seu lado violento. O reencontro da personagem de Lively com um crush juvenil (Brandon Sklenar, de “1923”) acelera um processo inevitável. A história de conto de fadas que vira violência doméstica é praticamente uma fábula com mensagem de alerta contra os lobos maus disfarçados de cordeiros.

O elenco também conta com Jenny Slate (“Parks and Recreation”), Hasan Minhaj (“Que Horas Eu Te Pego?”) e Amy Morton (“Chicago PD”).

 

O ÚLTIMO PUB

 

O novo filme do diretor britânico Ken Loach, vencedor de duas Palmas de Ouro no Festival de Cannes – por “Ventos da Liberdade” e “Eu, Daniel Blake” – , passa-se numa cidadezinha decadente no norte da Inglaterra. Com o fechamento de indústrias na região, muitos jovens abandonaram o local, enquanto os mais velhos enfrentam dificuldades para se adaptar às mudanças. A trama se desenvolve em torno do pub “The Old Oak”, um dos últimos locais de encontro comunitário na vila. A tensão aumenta quando um grupo de refugiados sírios se muda para a área, gerando ressentimento e raiva entre os frequentadores do pub. O proprietário do pub, interpretado por Dave Turner (“Eu, Daniel Blake”), tenta manter a calma no local, abalado pelo ódio despertado pela presença dos refugiados e o impacto disso na comunidade local. Seus esforços o aproximam da jovem imigrante Yara (a estreante Ebla Mari), com quem se alia para vencer o preconceito e criar conexões entre os velhos e os novos moradores.

Conhecido por seu estilo realista e por abordar temas sociais em seus filmes, o diretor traz mais uma vez à tona questões relevantes do mundo atual sobre imigração, solidariedade e luta contra o preconceito. Exibido em première mundial no Festival de Cannes, o filme recebeu aclamação por sua abordagem humanística e sensível de um tema que divide a Europa politicamente. Venceu o Prêmio do Público no Festival de Locarno, na Suíça, e atingiu 83% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes.

 

SAIDEIRA

 

“Saideira” é um filme brasileiro dirigido por Pedro Arantes e Júlio Taubkin.

A comédia brasileira segue duas irmãs vividas por Thati Lopes (“Esposa de Aluguel”) e Luciana Paes (“Férias Trocadas”), que não se veem há mais de dez anos e se reencontram no funeral do avô. Obcecadas pela cachaça lendária que o avô produzia, elas descobrem que ele deixou um mapa indicando a localização das últimas garrafas, consideradas um verdadeiro tesouro. Motivadas a encontrar a rara Saideira, as irmãs embarcam em uma jornada pelo interior de Minas Gerais, vivendo uma aventura divertida de caça ao tesouro, cheia de descobertas sobre o passado desconhecido do avô, além de ETs, que levam as protagonistas a repensar o valor da família e a importância de suas raízes.

O segundo longa da dupla Pedro Arantes e Júlio Taubkin, que estrou com o policial “Dente por Dente” (2020), também inclui em seu elenco Tonico Pereira (“A Grande Família”), Rogério Fróes (“Durval Discos”), Matheus Abreu (“Malhação”), Jackson Antunes (“Renascer”) e Suely Franco (“A Dona do Pedaço”).

 

MAIS PESADO É O CÉU

 

O novo “árido movie” cearense de Petrus Cariry (“Mãe e Filha”) explora a jornada de dois personagens isolados no sertão. Antônio, interpretado por Matheus Nachtergaele (“Cine Holliúdy”), é um homem solitário que encontra um bebê abandonado e decide cuidar dele. Teresa, vivida por Ana Luiza Rios (“Cabeça de Nêgo”), é uma mulher que também enfrenta suas próprias dores e traumas e decide ajudar Antônio a cuidar da criança. A história não só destaca a beleza árida do sertão nordestino, belamente fotografado por Cariry, mas também a jornada dos protagonistas, enquanto eles tentam construir uma família improvável em meio às adversidades.

Vencedor de quatro Kikitos no Festival de Gramado, o filme é ambientado em locais marcantes do Ceará, como os municípios de Quixadá e Nova Jaguaribara. Este último, conhecido por ter sido submerso pela construção do Açude Castanhão, é quase um personagem da trama, simbolizando a perda e o deslocamento, que ecoam as próprias experiências dos personagens em busca de um novo começo. O passado em comum, para eles, são as memórias da cidade submersa no fundo da represa, que não passam de uma lembrança de tempos melhores. A realidade, porém, é dura de presenciar.

 

DE PAI PARA FILHO

 

O primeiro longa de ficção dirigido por Paulo Halm em 15 anos – desde “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” (2009) – lida com heranças, reconciliação e fantasmas. A comédia fantasiosa gira em torno de José (Juan Paiva, de “Nosso Sonho”)), um jovem de 24 anos que recebe um apartamento de herança de seu pai desconhecido, Machado (Marco Ricca, de “Chatô – O Rei do Brasil”), ex-líder de uma famosa banda de rock dos anos 1980, que morreu em um estado decadente. Ao chegar no Rio para tentar vender o imóvel, ele descobre que o pai deixou suas cinzas para serem espalhadas em seu lugar favorito. No entanto, o jovem não sabe onde esse lugar é, pois Machado o abandonou quando era criança. Sozinho no local, ele encontra o fantasma de Machado, que tenta se reconectar com o filho sem sucesso.

Tudo muda quando José conhece Kat (Valentina Vieira, de “Um Natal Cheio de Graça”), uma menina encantadora de 12 anos que também perdeu o pai e tinha aulas com Machado. A menina ajuda o rapaz a perdoar seu pai, enquanto o espírito de Machado se torna um guia para José conquistar o amor de Dina (Miá Mello, de “O Palestrante”), a divertida mãe de Kat.