Globo usa IA em vozes de série e gera protesto de dubladores

O uso de inteligência artificial na série "Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447" do Globoplay gerou reclamações dos profissionais do setor

Divulgação/Globoplay

A Globo aproveitou uma brecha no acordo feito com dubladores e usou inteligência artificial na série “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447”, que estreou na última semana no Globoplay. Alguns dos entrevistados do documentário receberam vozes geradas pela IA, o que provocou protesto do movimento Dublagem Viva.

A série “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447”

A série documental “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447” narra a história do avião da Air France que caiu no oceano após decolar do Rio de Janeiro para Paris. A produção inclui depoimentos de familiares, reconstituições do acidente e entrevistas com especialistas, além das conversas entre os pilotos baseadas nas gravações das caixas-pretas.

Uso de Inteligência Artificial

No início de cada um dos quatro episódios da produção, o espectador é impactado pela seguinte mensagem: “A versão em português das entrevistas concedidas em língua estrangeira para este documentário foi feita a partir da voz dos próprios entrevistados, com o uso de inteligência artificial, respeitando-se todos os direitos e leis aplicáveis. O conteúdo das dublagens é fiel às entrevistas originais. Os entrevistados que não aceitaram a dublagem foram legendados”.

Isso gerou críticas nas redes sociais, com o perfil Dublagem Viva destacando a perda de empregos para muitos profissionais. “Se todas as empresas adotarem essa prática, muitos empregos serão perdidos”, alertou o comunicado. “Só neste único projeto, estima-se que aproximadamente 50 profissionais, direta e indiretamente ligados à dublagem, perderam trabalho. Imaginem só se todas as distribuidoras, serviços de streaming e produtoras decidirem fazer isso a partir de agora?”, questiona a postagem.

Jeitinho impacta qualidade

A Globo declarou ter respeitado o acordo com as empresas de dublagem, evitando o uso de vozes de dubladores em processos de IA. Ela aproveitou uma brecha e utilizou as vozes originais dos entrevistados com permissão, que foram manipuladas pela IA, reduzindo os custos de pós-produção.

Entretanto, a qualidade do produto final também foi criticada. “O uso de IA para dublagem resulta em um produto de baixa qualidade, com a melodia e o ritmo de outro idioma”, destacou o movimento Dublagem Viva.

“A IA sem regulamentação não é o futuro, infelizmente ela é o presente. Um presente que ameaça empregos e, consequentemente, rendas e famílias inteiras de manterem um padrão de vida minimamente digno”, completou o protesto.

Movimento dos dubladores

O uso de IA em produções foi um tema central durante a greve dos roteiristas de Hollywood em 2023. No Brasil, os dubladores criaram o movimento Dublagem Viva para regulamentar o setor e proteger seus empregos contra a IA generativa. Eles convocaram fãs para uma audiência pública, marcada para o próximo dia 17 na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em defesa dos seus direitos.

A principal reivindicação é que artistas não sejam substituídos por tecnologia de inteligência artificial generativa, que é capaz de recriar falas a partir de registros gravados anteriormente. Um relatório da Universidade de Oxford, publicado em 2013, inclui os dubladores entre profissionais colocados em risco pelo avanço da tecnologia.