Paulo César Pereio, ícone do cinema brasileiro, morre aos 83 anos

O ator deixa um legado de performances intensas em clássicos do cinema brasileiro e uma vida marcada por paixões ardentes e polêmicas

Divulgação/Globo

O ator Paulo César Pereio, reconhecido por sua voz marcante e presença intensa nas telas, faleceu neste domingo (12/5) aos 83 anos, devido a complicações de uma doença hepática avançada. Ele estava internado em estado grave no Hospital Casa São Bernardo, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, desde a madrugada.

Nascido em Alegrete, Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940, Pereio se destacou em mais de 60 filmes, colaborando com diretores renomados como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana, Carlos Diegues e Ruy Guerra. Inspirado por Humphrey Bogart, Pereio era conhecido pelo seu estilo rebelde e imprevisível, características que lhe renderam papéis memoráveis e uma carreira marcada tanto por aclamações quanto por controvérsias.

Fora de cena, sua vida foi marcada por polêmicas. Ele frequentemente ocupava as manchetes por seu estilo de vida boêmio, marcado por festas e um círculo social vibrante que incluía muitas figuras proeminentes da cena artística brasileira. Além disso, suas opiniões fortes e frequentes desentendimentos com colegas e diretores geravam tanta controvérsia que, por vezes, eclipsavam sua própria obra. Ele tinha uma reputação de ser um ator desafiador e, às vezes, entrava em conflito com os diretores com quem trabalhava. Ele era conhecido por seus sumiços e atrasos, o que às vezes causava tensão nos sets de filmagem.

Contribuições Artísticas

Sua trajetória no cinema se intensificou após a colaboração com Ruy Guerra em “Os Fuzis” (1964), e apesar de desentendimentos frequentes com diretores, formou laços duradouros com os cineastas de sua geração, incluindo uma longa amizade com Hugo Carvana, com quem filmou o clássico “Vai Trabalhar Vagabundo” (1973). Sua participação em “Terra em Transe” (1967) de Glauber Rocha e outros filmes icônicos do Cinema Novo, como “Os Inconfidentes” (1972) de Joaquim Pedro de Andrade, além de “Toda Nudez Será Castigada” (1973) e “Eu Te Amo” (1981), ambos de Arnaldo Jabor, e “Chuvas de Verão” (1978), de Cacá Diegues, consolidou sua posição como um dos atores mais influentes de sua geração.

Além do cinema, Pereio teve uma carreira prolífica no teatro, atuando em produções como “Esperando Godot” e “Roda Viva”. Ele ainda trabalhou em importantes novelas brasileiras, como “Gabriela” (1975), “Partido Alto” (1984) e “Roque Santeiro” (1985), e usou sua voz distinta em diversas narrações e propagandas.

Toda a complexidade de Pereio foi explorada no documentário “Pereio, Eu Te Odeio” (2023), dirigido por Tasso Dourado e Allan Sieber, que retratou as excentricidades e o impacto profundo que ele teve sobre colegas e admiradores.

Stepan Nercessian, amigo de longa data e presidente do Retiro dos Artistas, onde Pereio residia desde 2020, refletiu sobre a despedida: “O Pereio foi o ator que mais trabalhou nessa vida. Onde estivesse, estava o Teatro.”

Paulo César Pereio foi casado três vezes e teve quatro filhos, dois deles com a atriz Cissa Guimarães.