Moreno Veloso está preparando um disco com a cantora norte-americana Chrissie Hynde, da banda de rock Pretenders, que terá cerca de 12 músicas inéditas. O projeto também contará com o cantor irlandês Sean O’Hagan, líder da banda High Llamas, no papel de produtor.
Em entrevista ao jornal O Globo, o filho de Caetano Veloso contou que a ideia surgiu após ele e Chrissie dividirem uma turnê no Brasil, onde eles acabaram vaiados pelo público: “O disco vai ser meio inglês, meio português, ela vai cantar, eu vou cantar. Ela me pedia pra cantar nos shows que fizemos. Inclusive, fui vaiado veementemente muitas vezes, por milhares de pessoas. Foi uma experiência”.
“As pessoas esperavam um show de rock. Mas ela tocava Bob Marley, boleros, me pedia pra cantar uma música minha, tranquilinha. Eu falei: ‘Vai dar errado’. Ela: ‘Gosto disso’. E deu bem errado, foi maravilhoso”, disse entre risos. “As pessoas jogavam coisas no palco, e ela dizia: ‘Errou, joga de novo!’. Quase morremos em Goiânia. O show era num estádio de futebol, tinha uns caras de chapéu, cinto e armas, muitas armas”.
Apesar das vaias, Veloso reconheceu que Hyndie é “uma grande compositora, tem personalidade super forte”, além de ser “vegetariana, ativista, defensora dos animais”, algo que incomodou o público do agronegócio que estava presente em seus shows colaborativos.
“[Ela] viu que os caras estavam lá. Nasceu nos Estados Unidos, morou no Texas, conhece… Ela viu e começou a xingar eles em inglês. Os caras tiraram as armas. Pensei: ‘Agora a gente vai morrer’. Domenico saiu correndo de trás da bateria, pegou o microfone e começou a falar em português que ela estava dizendo que a cidade era muito bonita, as cachoeiras. A sorte é que eles não entenderem muito bem inglês. E aí ela começou a xingar o Domenico porque entendeu que ele estava aliviando a situação. Mas a gente sobreviveu”, completou o artista.
O cantor informou que o projeto já está acontecendo: “Sean está no Brasil e Chrissie está chegando (já chegou) para a gente gravar”.
Novo lançamento
Moreno Veloso também voltou recentemente às origens com seu mais novo álbum “Mundo Paralelo”, lançado no começo de maio, após 10 anos do último disco de estúdio, “Coisa Boa”. O novo trabalho é um ode ao bloco afro-brasileiro Ilê Aiyê e é dedicado à sua mãe, a atriz Dedé Gadelha.
“Quis fazer essa volta porque o Ilê Aiyê está completando 50 anos. […] É um bloco constituído dentro de um terreiro de candomblé, força cultural que atravessou essas décadas todas, com várias dificuldades”, descreveu.
“Mundo Paralelo” começou a ser rascunhado ainda na pandemia de coronavírus. “Eu queria que o disco fosse mais dançante, tinha prometido a mim mesmo. Mas não consegui fazer ele todo animado. Tem uma situações dançantes, coisas mântricas também”, acrescentou Veloso. “É o mundo da beleza que vem da alegria, da dança, da música, da cultura negra de Salvador. Onde existe a felicidade que nos resgata. Você fica apaixonado pelo brilho da pele, os traços, a dança.”
Uma das faixas, o samba de roda “A Donzela se Casou”, traz participação em peso da família Veloso: o pai Caetano, a tia Maria Bethânia e os irmãos Zeca e Tom Veloso.
