Filme de Mohammad Rasoulof é aclamado em Cannes após fuga do Irã

"The Seed of the Sacred Fig" tornou-se o filme mais aplaudido do festival francês, com 15 minutos de ovação

Divulgação/Neon

O diretor Mohammad Rasoulof, concorrente à Palma de Ouro deste ano, compareceu ao Festival de Cannes nesta sexta-feira (24/5), após fugir de forma clandestina do Irã, onde foi condenado a oito anos de prisão e chibatadas por causa de seus filmes.

O cineasta enfrentou 28 dias de jornada a pé e muitos perigos para acompanhar a exibição de “The Seed of the Sacred Fig” (A Semente do Figo Sagrado), que se tornou o filme mais aplaudido do festival francês, com 12 minutos de ovação – ou 15 se contar o tempo inicial durante a exibição dos créditos. O filme retrata uma família em Teerã dividida pelas práticas opressivas do governo iraniano.

“Eu quero agradecer ao público por seu apoio e solidariedade. Este filme é um grito por liberdade e justiça no Irã”, disse Rasoulof em Farsi durante a première.

Desafios enfrentados pelo diretor

O diretor foi condenado por produzir filmes sem autorização, considerados crimes contra a “segurança nacional” pelo governo iraniano. A equipe do filme continua sendo interrogada e intimidada pelas autoridades iranianas.

Rasoulof já havia enfrentado prisões anteriormente devido à natureza política de seus filmes. Em 2020, ele não foi autorizado a deixar o Irã para receber o Urso de Ouro em Berlim por “Não Há Mal Algum”.

Repercussão internacional e apoio

A estreia de “The Seed of the Sacred Fig” em Cannes se tornou um ato político. O público aplaudiu Rasoulof, que agradeceu erguendo fotos dos atores Soheila Golestani e Missagh Zareh, impedidos de deixar o Irã.

O filme segue Iman, um juiz investigador no Tribunal Revolucionário em Teerã, que lida com desconfiança e paranoia enquanto protestos políticos se intensificam no país e sua arma desaparece misteriosamente. Suspeitando do envolvimento de sua esposa Najmeh e de suas filhas Rezvan e Sana, ele impõe medidas drásticas em casa, causando um aumento nas tensões. Gradualmente, normas sociais e regras da vida familiar começam a ser suspensas.

Entusiasmado com a projeção, Ali Abbasi, concorrente de Rasoulof à Palma de Ouro com “O Aprendiz”, foi um dos que encorajou o público a continuar aplaudindo. Slogans de apoio às mulheres iranianas, como “Femme! Vie! Liberté!” (Mulher! Vida! Liberdade!), foram exibidos na plateia.

Favorito à Palma de Ouro

Após a exibição apoteótica, o filme iraniano passou a ser visto como um dos favoritos à Palma de Ouro, a ser anunciada neste sábado (25/4).

A última passagem de Rasoulof pelo festival francês foi em 2017, quando venceu a mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard) com o filme “Lerd”. Em 2020, ele não foi autorizado a deixar o Irã para receber o Urso de Ouro em Berlim por “Não Há Mal Algum”. Este ano, ele concorre contra 21 outras produções, incluindo “Motel Destino”, do diretor cearense Karim Aïnouz.