Dabney Coleman, ator de “Como Eliminar seu Chefe” e “Tootsie”, morre aos 92 anos

O ator americano era conhecido por interpretar personagens sem escrúpulos em comédias de sucesso

Divulgação/20th Century Fox Television

Dabney Coleman, o popular ator de comédia de “Como Eliminar seu Chefe”, “Tootsie” e da série clássica “Mary Hartman, Mary Hartman”, morreu na quinta-feira (16/5) em sua casa em Santa Monica. Ele tinha 92 anos. A informação foi compartilhada por sua filha, a cantora Quincy Coleman, na noite de sexta-feira.

O ator se tornou adorado pelos fãs de comédia, ironicamente, por interpretar personagens detestáveis. Sua galeria de vilões inclui o chefe que Jane Fonda, Lily Tomlin e Dolly Parton queriam matar em “Como Eliminar seu Chefe” (1980), o diretor de TV safado de “Tootsie” (1982), o engenheiro de sistemas responsável pelo programa de computador apocalíptico de “Jogos de Guerra” (1983), o banqueiro avarento de “A Família Buscapé” e o pai mulherengo de Tom Hanks em “Mensagem para Você” (1998). Mas tudo começou com um papel numa série.

Infância e juventude

Dabney Wharton Coleman nasceu em 3 de janeiro de 1932, em Austin, Texas, o mais novo de quatro filhos. Após a morte de seu pai por pneumonia quando ele tinha 4 anos, sua mãe criou a família em Corpus Christi, onde Coleman se tornou um tenista júnior de destaque nacional. Ele frequentou o Virginia Military Institute por dois anos, serviu na Divisão de Serviços Especiais do Exército dos EUA por mais dois anos e, de volta a Austin, estudou direito na Universidade do Texas.

Amigo da família, o ator Zachary Scott (“Alma em Suplício”) convenceu o jovem de que ele também poderia atuar. Coleman deixou a faculdade um semestre antes de se formar e foi para Manhattan para estudar no Neighborhood Playhouse aos 26 anos. O novo ator disse sua primeira fala na tela em um episódio de “Cidade Nua” em 1961, e, no ano seguinte, ele e sua segunda esposa, a atriz Jean Hale (“A Bela do Yukon”), mudaram-se para Hollywood.

Início da carreira

Coleman apareceu em diversas série como “Ben Casey”, “Dr. Kildare”, “Quinta Dimensão”, “Jeannie é um Gênio” e “O Fugitivo”, antes de conquistar seu primeiro papel recorrente como o obstetra Leon Bessemer na 1ª temporada de “Que Garota” (em 1966).

Paralelamente, ele iniciou a carreira no cinema junto com Sydney Pollack. Antes de virar cineasta, Pollack tinha sido professor de Coleman em Nova York e o dirigiu num episódio do drama hospitalar “Breaking Point”, de 1963. Os dois ficaram amigos. Assim, o diretor o chamou para figurar em sua estreia, “Uma Vida em Suspense” (1965), e nos dois filmes seguintes, “Esta Mulher é Proibida” (1966) e “Revanche Selvagem” (1968). As pequenas participações também foram os três primeiros papéis da carreira de Coleman no cinema.

Depois disso, ele apareceu num filme de Elvis Presley, “Lindas Encrencas: As Garotas” (1969), mas não foi muito adiante no cinema, concentrando seu trabalho na TV. Ele apareceu numa infinidade de episódios de produções que marcaram os anos 1960 e 1970, como “A Noviça Voadora”, “Os Invasores”, “Mod Squad”, “Bonanza”, “Kojak”, “Manix”, “Casal McMillan”, “Mary Tyler Moore”, “São Francisco Urgente” e “Os Novos Centuriões”, até que decidiu cultivar um bigode. Segundo disse numa entrevista recente, o bigode mudou seu destino.

Um idiota bigodudo

Seu primeiro papel com o bigode foi também seu primeiro personagem fixo da TV, na série “Mary Hartman, Mary Hartman” (1976–1977). Ele interpretou o prefeito Merle Jeeter, de Fernwood, Ohio, em 148 episódios da atração e também em dois spin-offs (“Fernwood Tonight” e “Forever Fernwood”). Jeeter foi sua estreia na pele de um homem inescrupuloso e corrupto, conhecido pelo comportamento cínico e manipulador. E o sucesso foi tanto que transformou o ator num especialista em imbecis.

Ele mostrou que podia ser um imbecil cinematográfico em “Como Eliminar Seu Chefe”, como o chefe machista e traiçoeiro Franklin Hart Jr. A comédia virou um marco do movimento feminista, ao filmar uma rebelião de empregadas mulheres contra os abusos do patrão – que chega a ser amarrado por sua secretária, interpretada por Dolly Parton, em sua estreia no cinema.

Pollack aproveitou a nova vocação para idiota do velho amigo e o escalou como um diretor de TV sexista em “Tootsie”. E a popularidade do filme, indicado a 10 Oscars, puxou uma sucessão de novos papéis de homens terríveis. Coleman foi mau-caráter até com os Muppets, a quem enganou, como uma agente de talentos picareta em “Os Muppets Conquistam Nova York” (1984).

Seu papel mais memorável, porém, foi em “Sem Jeito para Morrer” (1990), na pele de um policial diagnosticado com uma doença terminal, que descobre que sua filha só poderá receber sua pensão se ele morrer em serviço. Sua determinação em se matar, combinada com sua decepção ao receber elogios pela “coragem” e “valor”, marcou época no cinema e nas videolocadores, onde o filme foi um sucesso de vendas.

Volta à TV

Curiosamente, em meio à melhor fase de sua carreira, Coleman decidiu voltar à TV. Ele conquistou seu primeiro papel de protagonista na série “Buffalo Bill” (1983), como um apresentador de talk show irascível do interior do estado de Nova York. Entretanto, apesar de aclamada pela crítica – e de lhe render duas indicações ao Emmy – , a atração durou apenas 26 episódios. Apesar disso, Coleman ainda insistiu em protagonizar sua própria sitcom com “The Slap Maxwell Story” (1987), “Drexell’s Class” (1991) e “Madman of the People” (1994), mas todas foram canceladas após uma temporada.

Trabalhos mais recentes

Nos últimos tempos, o ator colocou seu icônico bigode na pele de Burton Fallin, o dono de um escritório de advocacia e pai do personagem de Simon Baker na série “O Guardião” (2001-2004), o poderoso chefão de Atlantic City, Commodore Louis Kaestner, em “Boardwalk Empire” (2010–2014) e John Dutton Sr., pai do personagem de Kevin Costner em “Yellowstone” (2018–2024).

Legado

O ator Ben Stiller foi um dos comediantes a prestar tributo ao colega no X (antigo Twitter), citando seu legado: “O grande Dabney Coleman literalmente criou ou definiu, realmente – de uma forma singular e única – um arquétipo como ator de personagem. Ele era tão bom no que fazia que é difícil imaginar os filmes e a televisão dos últimos 40 anos sem ele.”