Julian Sands é declarado morto após 5 meses desaparecido

O ator britânico Julian Sands foi declarado morto aos 65 anos, após cinco meses desaparecido. A informação foi confirmada pelo Departamento de Polícia do Condado de San Bernardino nesta terça-feira (21/6), após […]

Divulgação/IMDb

O ator britânico Julian Sands foi declarado morto aos 65 anos, após cinco meses desaparecido. A informação foi confirmada pelo Departamento de Polícia do Condado de San Bernardino nesta terça-feira (21/6), após encontrarem restos mortais na região montanhosa de Mount Baldy, no sul da Califórnia, onde o ator foi visto pela última vez.

“A causa da morte ainda está sob investigação, aguardando mais resultados de testes”, disseram as autoridades. Desde janeiro, foram conduzidas diversas operações de busca com helicópteros e drones, que precisaram ser interrompidas devido a condições climáticas de risco na região, mas que foram recentemente retomadas em junho.

Sands é conhecido por seu trabalho em filmes de horror com tramas bizarras como “Gótico” (1986), “Aracnofobia” (1990) e “Encaixotando Helena” (1993). Ao longo da carreira, ele também fez diversas participações em séries televisivas, como “Dexter” e “Smallville”, além de interpretar o terrorista Vladimir Bierko em “24 Horas”.

Apesar da fama no gênero de terror, o ator ficou inicialmente conhecido por interpretar George Emerson no romance “Uma Janela para o Amor” (1985), que ele estrelou ao lado da atriz Helena Bonham Carter. O longa de James Ivory é considerado um dos melhores romances de todos os tempos.

Em paralelo a sua carreira artística, o ator era bastante envolvido em atividades ao ar livre que envolviam trilhas e caminhadas. Ele se tornou experiente em andar pelas montanhas e confessou em entrevistas que era uma de suas grandes paixões. Na atuação, ele se considerava um artista de “espírito livre”, aberto a papéis diversificados em gêneros completamente diferentes.

 
Início da carreira marcado em romance

Nascido na cidade de Otley, no Reino Unido, Julian Richard Morley Sands começou a carreira como ator no ano de 1982 em um episódio da série “Play for Today”, produzida pela emissora britânica BBC. O início da sua trajetória ficou marcado por pequenos papéis na televisão britânica e em longa-metragens, como “Uma Aventura em Oxford” (1984) e “Os Gritos do Silêncio” (1984).

Seu primeiro papel de destaque veio no romance “Uma Janela para o Amor” (1985), onde ele encantou o público como arrojado George Emerson. Baseada na obra de E.M. Forster, a história narra o romance de George e a aristocrática Lucy, interpretada por Helena Bonham Carter, que precisam lutar para ficarem juntos, devido às diferenças sociais.

Considerado um dos grandes romances do cinema, o filme foi responsável por alavancar a carreira do ator. A produção dirigida por James Ivory recebeu 7 indicações ao Oscar, incluindo a categoria de Melhor Filme. Ela levou as estatuetas de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino.

Um fato curioso é que a obra quase não saiu do papel. Em entrevista ao Decider em 2019, Sands revelou que o filme quase foi descartado quando um produtor tentou cancelar a produção apenas dois dias antes das filmagens começarem. “Eles disseram, ‘Não podemos fazer isso, ninguém nunca vai ver'”, contou. “E acho que eles disseram: ‘Vamos cancelar a menos que você ofereça o papel de George Emerson a John Travolta!'”.

 
Giro na carreira pelo terror psicológico

Logo em seguida, Sands caminhou por um caminho bastante alternativo: o terror psicológico “Gótico” (1986), do diretor Ken Russell. Na trama, que recria de forma fantasiosa a noite em que a história de Frankenstein foi concebida, ele interpretou o poeta romântico Percy Bysshe Shelley. “Eu não queria me tornar um ator de Hollywood. Eu estava procurando por algo exótico, coisas que me tirassem de mim. Acho que me achei um pouco chato”, revelou ao The Guardian em 2018 sobre as escolhas que se seguiram.

Nos anos seguintes, o ator mergulhou em produções sombrias. Ele esteve no suspense sobrenatural “Marcas de uma Paixão” (1987), ao lado de Ellen Barkin e Jodie Foster, e “Manika – A Menina Que Nasceu Duas Vezes” (1989), cuja trama era baseada em uma história real de reencarnação. Dirigido pelo francês François Villiers, o filme foi premiado no Festival de Cannes.

Seguindo com papéis cada vez mais excêntricos, o ator interpretou um poderoso feiticeiro medieval ressuscitado nos dias atuais em “Warlock” (1989), horror apocalíptico dirigido por Steve Miner, que ganhou sequência em 1993. Ele seguiu trilhando esse caminho no suspense “Aracnofobia” (1990) e em “Mistérios e Paixões” (1991), ambas narrativas perturbadoras envolvendo insetos e eventos bizarros.

Já em “Encaixotando Helena” (1993), o ator interpreta um cirurgião obcecado por uma mulher a níveis absurdos. Após ela sofrer um acidente de carro, ele amputa das pernas da personagem e a mantém em cativeiro em sua casa, realizando várias cirurgias para mantê-la perto dele. O filme aborda temas como obsessão, controle e desejo, explorando a relação perturbadora entre os dois personagens principais.

Dirigido por Jennifer Chambers Lynch, filha de David Lynch, o longa R-Rated gerou controvérsias e foi um fiasco nas bilheterias. Seu orçamento foi de US$ 4 milhões, enquanto arrecadou apenas US$ 1,79 milhão. Apesar do fracasso, Sands confessava que se interessava mais em interpretar personagens em filmes com essa pegada. “Considero uma grande sorte ter tido a oportunidade de trabalhar com independentes tão bizarros e abrangentes”, disse à BBC Radio 2 em 2011.

Naquela época, o ator apareceu em longas como “Assassinato no Tennessee” (1989), “Noites com Sol” (1990), “Cattiva” (1991), “Vingança em Nome do Amor” (1991), “Vampiro – Paixão Imortal” (1992) e produções menores do circuito alternativo.

 
Aparições na televisão e gêneros diferentes

No final dos anos 1990, ele fez três dramas com o diretor Mike Figgis, o premiado “Despedida em Las Vegas” (1995), “Por Uma Noite Apenas” (1997) e “A Perda da Inocência” (1998), mas logo voltou ao terror com “Um Vulto na Escuridão” (1998), uma releitura italiana de “O Fantasma da Ópera” dirigida pelo mestre do gênero Dario Argento.

Diversificando sua filmografia, ele entrou nos anos 2000 filmando com Mel Gibson o suspense “O Hotel de Um Milhão de Dólares” (2000), do alemão Win Wenders, foi o rei Luís XIV no drama histórico “Vatel, um Banquete para o Rei” (2000), do inglês Roland Joffé, e o vilão da fantasia “O Medalhão” (2003), estrelada por Jackie Chan.

Nessa época, Sands começou a se destacar também em séries televisivas, geralmente como vilão. Ele viveu Vladimir Bierko, principal antagonista da 5ª e melhor temporada da série “24 Horas”, lançada em 2005. O personagem era um terrorista russo líder de um grupo radical que planeja realizar ataques terroristas nos Estados Unidos, incluindo o lançamento de gás letal em Los Angeles.

Na mesma época, também fez sua aparição no universo dos super-heróis como Jor-El, o pai biológico do Superman interpretado por Tom Welling em “Smallville”. “Fiquei muito honrado em interpretar Jor-El, porque ele só havia sido interpretado antes, eu acho, por Marlon Brando”, disse à BBC Radio 2 em 2011. “Gostei de ‘Smallville’. Achei muito comovente. Quero dizer, é uma história familiar sobre pessoas crescendo”.

Ele ainda esteve em “Dexter”, “Gotham”, “The Blacklist”, “Medici: Mestres de Florença”, “Elementary” e “Into the Dark”, enquanto seguiu trabalhando no cinema, inclusive em filmes populares como “Treze Homens e um Novo Segredo” (2007), “Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (2011) e “Último Samurai” (2012).

Seus últimos trabalhos incluem o impactante drama tcheco de guerra “O Pássaro Pintado” (2019), premiado no Festival de Veneza, os terrores “A Casa Mal-Assombrada” (2021) e “The Ghosts of Monday” (2022), e o longa germano-marroquino “Sêneca – Sobre a Criação dos Terremotos”, lançado no 73º Festival de Berlim em fevereiro deste ano, um mês após seu desaparecimento nas montanhas da Califórnia.