Produtor mineiro ganha Oscar com o filme “Nada de Novo Front”

Teve brasileiro premiado no Oscar 2023. O produtor mineiro Daniel Dreifuss, de 44 anos, recebeu a estatueta na categoria de melhor filme internacional por seu trabalho no drama de guerra “Nada de […]

Instagram/Daniel Dreifuss

Teve brasileiro premiado no Oscar 2023. O produtor mineiro Daniel Dreifuss, de 44 anos, recebeu a estatueta na categoria de melhor filme internacional por seu trabalho no drama de guerra “Nada de Novo no Front”.

Há cerca de 20 anos, o produtor de cinema belo-horizontino se mudou da capital mineira para Los Angeles, onde reside atualmente, mas nunca deixou de amar o Brasil e a sua cidade natal. “Sou amante do samba, fascinado pela história de Minas, pela gastronomia”, disse ele em entrevista recente ao jornal O Tempo.

Em duas décadas nos Estados Unidos, Dreifuss se estabeleceu na indústria cinematográfica e assinou a produção de alguns projetos famosos como “No”, de Pablo Larraín, primeiro longa chileno indicado ao Oscar de melhor filme internacional, em 2013, com Gael García Bernal (“Tempo”), e “Sérgio”, estrelado por Wagner Moura (“Agente Oculto”) e Ana de Armas (“Blondie”), biografia do saudoso diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

Com surpreendentes 9 indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Filme, “Nada de Novo no Front” conta a história do jovem soldado alemão Paul (Felix Kammerer), que se alista para lutar na 1ª Guerra Mundial. O roteiro é baseado no romance homônimo do escritor Erich Maria Remarque, lançado em janeiro de 1929.

O longa foi um dos maiores vencedores da noite, conquistando quatro categorias: Melhor Filme Internacional, Fotografia, Direção de Arte (Design de Produção) e Trilha Sonora.

Daniel Dreifuss recebeu o roteiro de “Nada de Novo no Front” há mais ou menos 10 anos. Originalmente, o filme seria todo falado em inglês e tinha uma pegada mais comercial, com muitas cenas de ação e explosões. A trama focava mais no último dia do conflito, horas antes do armistício do dia 11 de novembro de 1918, às 11h.

Depois que o texto passou por outros diretores e produtores, Dreifuss decidiu retomar o projeto com mudanças importantes. “Lutei pela autenticidade que sempre norteou minha carreira. Eu pensei: ‘por que alemães estariam falando em inglês entre si?’. Fui para a Alemanha em 2019 com a ideia de voltar ao texto original e tentar levantar a produção em alemão”, explicou para o jornal mineiro.

“Nada de Novo no Front”, cuja direção é assinada por Edward Berger (“Jack”), foi rodado em 2021 e há poucos meses chegou ao streaming como grande aposta da Netflix para a temporada de premiações. Até conseguir financiamento para o filme, Daniel Dreifuss ouviu muitas recusas nos Estados Unidos. Contudo, voltar ao texto original e buscar parceiros na Alemanha tem uma explicação muito particular.

“A família do meu pai é toda da Alemanha, da fronteira com a França. Meu avô Max nasceu em 1899, se alistou em 1917 e foi lutar pela Alemanha na 1ª Guerra. Ferido nas costas e no pulmão, foi mandado de volta para a casa. O primo dele é uma das pessoas das quais o filme fala. Ele morreu a 40 horas do fim da guerra. O meu avô, 20 anos depois, foi mandado para uma campo de concentração por ser judeu-alemão”, relatou o produtor.

“Quando eu recebi o roteiro, eu sabia que aquelas pessoas existiam na minha vida, existiam em mim. Eu queria honrá-las depois de tantos ‘nãos’ seguidos, de tanta carga negativa. Eu pensava nessas pessoas e continuava no empenho de contar essa história”, ele completa.

O seu avô sobreviveu ao terror do nazismo e fugiu para o Uruguai, onde nasceria o pai do produtor, o cientista político e historiador René Dreifuss. Daniel nasceu em Glasgow, em 1978, quando o seu pai fazia doutorado na Escócia. Um ano e meio depois, ele chegou a Belo Horizonte.

O produtor fala com saudade de BH. Foi na capital mineira que ele se apaixonou por cinema em sessões no Cine Pathé, no Cine Acaiaca, no Belas Artes e em outros cinemas de rua da cidade, levado por sua mãe, Aurea, ainda quando era criança. Essas memórias acompanham Dreifuss até os dias de hoje, e assim sempre será. Há tantos anos fora do Brasil, o produtor não quer que seus laços com o país se enfraqueçam com o tempo. Amizades, família, culinária, música e visitas pontuais ao país ajudam a manter forte essa relação.

Já com o mercado cinematográfico brasileiro, Daniel Dreifuss espera criar uma relação que gere futuros trabalhos: “Gostaria que o Brasil se lembrasse mais que eu sou brasileiro, adoraria levantar projetos no Brasil. Nosso país tem muitos talentos no cinema, diretores interessantíssimos, tem a turma de Recife, dos meus conterrâneos do ‘Marte Um’, da Filmes de Plástico. Espero que eu tenha o privilégio de acabar me conectando mais com a indústria brasileira. Eu vou onde as histórias estão, e elas não têm fronteiras”.

“Nada de Novo no Front” tornou-se o filme alemão mais premiado da história do Oscar. E além das quatro estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, o longa também foi o grande vencedor da premiação da Academia Britânica de Artes e Ciências Cinematográficas e Televisivas, vencendo sete BAFTA Awards, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Após o sucesso estrondoso da obra, Daniel relata que atualmente está cheio de novos projetos e trabalha no desenvolvimento de duas minisséries e um filme. E o produtor revela que adoraria ver todas essas obras serem gravadas no Brasil: “Não quero me distanciar do meu país. O Brasil é emocionante”.