James Caan: Morre o astro de “O Poderoso Chefão”

O ator James Caan, que marcou a história do cinema como Sonny Corleone em “O Poderoso Chefão” (1972), morreu na noite de quarta-feira (6/7) em Los Angeles, de causa não revelada, aos […]

Divulgação/NBC

O ator James Caan, que marcou a história do cinema como Sonny Corleone em “O Poderoso Chefão” (1972), morreu na noite de quarta-feira (6/7) em Los Angeles, de causa não revelada, aos 82 anos.

Caan é sempre lembrado por sua atuação explosiva como o filho mais velho de Dom Corleone (Marlon Brando) no clássico de Francis Ford Coppola. De presença hipnotizante em cena, o papel de herdeiro do império do crime da família Corleone lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Originalmente, a Paramount havia escalado outro ator no papel, mas Coppola, que era um velho amigo e já havia dirigido Caan em “Caminhos Mal Traçados” (1969), insistiu que só ele poderia fazer justiça ao personagem. Nascido em Nova York, Caan tinha até o sotaque do personagem e se encaixou como uma luva na produção.

James Edmund Caan nasceu em 26 de março de 1940. Filho de imigrantes judeus da Alemanha, cresceu em Sunnyside, Queens, e estudou na faculdade de Long Island na mesma classe de Coppola.

O início da carreira de ator foi em peças do circuito off-Broadway e participações em séries de TV no começo dos anos 1960. Seus primeiros papéis nas telas se materializaram em episódios de “Cidade Nua” e “Rota 66”, em 1961. Já a estreia no cinema foi uma figuração na comédia “Irma La Douce” (1963), de Billy Wilder.

Ele começou a se destacar a partir do western “Assim Morrem os Bravos” (1965), escrito por Sam Peckinpah. Por seu papel, como um soldado da cavalaria dos EUA, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de estreante mais promissor.

O reconhecimento lhe rendeu escalação no clássico “El Dorado” (1967), penúltimo filme de Howard Hawks, ao lado de John Wayne e Robert Mitchum, e abriu caminho para seus primeiros trabalhos como protagonista – no suspense “O Terceiro Tiro” e na sci-fi “No Assombroso Mundo da Lua”, ambos também lançados em 1967.

Um ano antes de estrelar “O Poderoso Chefão”, Caan ainda foi indicado ao Emmy de Melhor Ator por sua performance em “Glória e Derrota”, telefilme em que interpretou o jogador de futebol americano Brian Piccolo, diagnosticado com câncer terminal logo após se tornar profissional. Muitos críticos consideram a produção da rede ABC um dos melhores telefilmes já feitos.

Com a enorme diferença de tom entre “Glória e Derrota” e “O Poderoso Chefão”, Caan mostrou a versatilidade que o acompanharia por toda a carreira, permitindo-lhe alternar-se entre dramas sensíveis, thrillers nervosos e comédias malucas.

Foram mais de 100 papéis e muitos destaques. Só nos anos 1970, a lista inclui o drama criminal “O Jogador” (1974), de James Toback, a sci-fi “Rollerball: Os Gladiadores do Futuro” (1975), o thriller “Elite de Assassinos” (1975), de Sam Peckinpah, a comédia “A Última Loucura de Mel Brooks” (1976), de Mel Brooks, e o épico de guerra “Uma Ponte Longe Demais” (1977), de Richard Attenborough.

Mas poderia ter feito filmes ainda mais populares. No auge da carreira, ele recebia tantas ofertas que não conseguiu encaixar alguns clássicos, como “Conexão Francesa” (1971), “Um Estranho no Ninho” (1975) e “Kramer vs. Kramer” (1979), três produções que renderam Oscars de Melhor Ator para seus intérpretes. Além disso, deixou passar o papel de Han Solo em “Star Wars” – foi a opção original de George Lucas.

Coppola também tentou convencê-lo a viver o Capitão Willard em “Apocalypse Now” (1979), mas os dois só voltaram a trabalhar juntos em “Jardins de Pedra” (1987).

Determinado a não desempenhar o mesmo papel repetidamente, Caan preferiu desafios que contrariavam expectativas, como viver o cantor e dançarino Billy Rose ao lado de Barbra Streisand em “Funny Lady” (1975) ou fazer dueto com Bette Midler em “Para Eles, com Muito Amor” (1991).

Mesmo ao encarar tramas mafiosas, como em “Profissão: Ladrão” (1981), de Michael Mann, ele buscou cercar essas produções com escolhas inesperadas, como dois dramas do cineasta francês Claude Lelouch – “Outro Homem, Outra Mulher” (1977) e “Retratos da Vida” (1981).

Mas Caan ficou cansado de atuar e decidiu dirigir um filme em 1980: “Hide in Plain Sight”, baseado na história real de um homem que descobre que seus filhos e ex-mulher sumiram, quando o namorado dela foi colocado no programa de proteção a testemunhas.

O filme não fez sucesso e, junto com a perda de sua irmã por leucemia e o desgosto com os trabalhos que lhe ofereciam, o astro resolveu largar Hollywood, ficando ausente das telas de 1983 a 1986. Neste período, se dedicou a treinar crianças em times de futebol americano e basquete. Até que seu velho amigo Coppola o convenceu a retornar à atuação, interpretando um sargento do Exército dos EUA no traumático drama de guerra “Jardins de Pedra”.

Em sua volta, Caan decidiu aceitar cheques mais altos para enveredar por gêneros mais comerciais e, por isso, também deixou sua marca na sci-fi “Missão Alien” (1988), que deu origem a uma franquia, na adaptação de quadrinhos “Dick Tracy” (1991) e no terror “Louca Obsessão” (1991), que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para sua colega de cena, Kathy Bates.

Em contrapartida, também ajudou a deslanchar a carreira de alguns diretores estreantes – ou no segundo filme – , como Wes Anderson, com quem trabalhou em seu primeiro longa independente, “Pura Adrenalina” (1996), além de James Gray em “Caminho sem Volta” (2000), Christopher McQuarrie em “À Sangue Frio” (2000) e Jon Favreau em “Um Duende em Nova York” (2003), antes mesmo que Hollywood reconhecesse devidamente seus talentos.

Ele também fez duas comédias com Adam Sandler, “À Prova de Balas” (1996) e “Este é o Meu Garoto” (2012), e, ao se cansar da fama de mafioso, zoou dos clichês em “Mickey Olhos Azuis” (1999).

Quando os filmes começaram a ficar repetitivos, Caan resolveu ir para a TV, passando quatro temporadas como dono de cassino em “Las Vegas” (2003-2007), outra como chefe da máfia de Miami em “Magic City” (2013) e mais uma na pele de um antigo astro de beisebol em “Back in the Game” (2013-2014). Além disso, virou dublador na animação “Tá Chovendo Hambúrguer” (2009) e sua continuação de 2013.

Assim como sua filmografia, a vida pessoal de Caan também foi uma montanha-russa. Ele foi casado quatro vezes e teve cinco filhos. O mais famoso é Scott Caan, que seguiu os passos do pai, estrelando a franquia “Onze Homens e um Segredo” e o reboot da série “Hawaii-Five-0” – que contou com participação do velho Caan num episódio de 2012.

O quarto casamento terminou após três pedidos de divórcio e a denúncia do ator de que a esposa estava gastando todo o seu dinheiro e forçando-o a aparecer em filmes muito ruins, como “Sicilian Vampire” (2016), simplesmente para pagar as contas. E, de fato, seus últimos filmes passaram longe da qualidade das obras que lhe renderam reconhecimento.

Seu último filme, “Fast Charlie” (também conhecido como “Gun Monkeys”), foi finalizado neste ano e representa uma volta aos papéis mafiosos. Dirigido por Phillip Noyce, será lançado em 2023.