Rejeição de Gustavo reflete percepção de que BBB virou Disney

Gustavo Marsengo entrou no “BBB 22” prometendo acabar com o clima de “BBB do Amor” instaurado no começo do programa. Munido de informações privilegiadas pelo ingresso tardio, o vidraceiro prometeu acontecer e […]

Divulgação/Globo

Gustavo Marsengo entrou no “BBB 22” prometendo acabar com o clima de “BBB do Amor” instaurado no começo do programa. Munido de informações privilegiadas pelo ingresso tardio, o vidraceiro prometeu acontecer e saiu rejeitado do programa na noite de terça (19/4), após fazer o oposto do anunciado: apaziguar todos os conflitos com a ideia de um rodízio de paredões. Na prática, suas ações apenas fortaleceram o “BBB do Amor”.

Sua elevada votação – 81,53% dos votos no paredão – indica que o público descobriu tardiamente ter caído numa cilada, que o tornou cúmplice daquilo que sempre lamentou: a transformação do “BBB 22” numa Disneylândia.

O combinado entre Gustavo, Pedro Scooby, Paulo André Camilo, Pedro Scooby e Arthur Aguiar foi tão anti-“BBB” que fez até o apresentador Tadeu Schmidt manifestar sua insatisfação, numa inédita crítica negativa aos emparedados. Ele chamou a iniciativa de criar um paredão light de “esdrúxula” em pleno discurso da eliminação. Gustavo foi rejeitado pelo público e pelo texto oficial do programa.

“Rodízio de pessoas no paredão? No fundo, no fundo, é uma maneira de não se comprometer. ‘Olha, eu não queria te mandar, mas chegou sua vez na fila, então…’. Aquilo que parecia um mérito de chamar todo mundo para a briga, na verdade criava uma zona de conforto para fazer escolhas sem sofrimento”, expôs Tadeu.

“Isso só ficou claro quando cinco meninos do grupo invencível foram obrigados a votar entre eles. E aí decidiram manter a ideia. ‘Ah, vamos mandar para o paredão quem está há mais tempo sem ir’. Ou seja, é como dizer: ‘Ó, não é decisão minha, não sou eu, é o rodízio’. E tudo mundo ri. ‘Ah, vou botar você no paredão, hahaha’. Ou ainda uma forma dizer: ‘Aqui dentro desse grupo, é todo mundo igual, o sentimento é absolutamente o mesmo por todos, o tempo todo.’ Para, gente. É claro que não é. A gente está vendo 24 horas por dia e não tem nada de errado com isso”, apontou o apresentador.

A ideia do “BBB do Amor” foi trazida por Tiago Abravanel e encampada por Pedro Scooby logo no começo do programa. Queriam uma edição sem conflitos, com todo mundo zen e se dando bem.

O que poucos comentam é que esse movimento, supostamente rejeitado pela audiência, acabou se materializando no jogo apenas pelo apoio explícito do público.

As pessoas que reclamaram sem parar que o “BBB” estava flopado buscaram colocar a culpa da falta de atritos na escalação de um elenco supostamente desinteressante. Mas foram elas que votaram em peso para tirar todos os confinados que criavam atritos na casa: Rodrigo Mussi, Jade Picon, Lucas Bissoli, Laís Caldas e Linn da Quebrada. Até o começo da briga entre Eslovênia Marques e Paulo André foi encurtado pelo voto popular.

Foi Rodrigo quem batizou o grupo dos camarotes masculinos de Disney, lembrando uma definição de Felipe Prior logo nos primeiros dias da edição. Rodrigo identificou quem não queria jogar e seu apelido foi tão certeiro que é usado até hoje, meses após sua saída do programa.

Gustavo entrou em cena bem depois disso, falando em “movimentar” o jogo e acabar com “zonas de proteção”. Mas o aparente discurso de malvadão só foi usado para atacar integrantes do quarto Lollipop, e ele logo juntou-se à “zona de proteção” do grupo Disney. Com o fim de seu único “movimento”, ficou na sombra dos camarotes amigões, repetindo a mesma estratégia que considerava anti-jogo quando praticada por lollipoppers.

A decisão do público de comprar a narrativa e votar sem parar até eliminar os “inimigos” da Disney provou-se fatal para o desenvolvimento do programa, que chega em sua reta final exatamente como o público votou para ver: totalmente Disneyficado, com rodízio de paredão e ainda menos conflitos que no começo da exibição.

Com a percepção tardia do que fez, o público recompensou o autoproclamado caçador de Lollipops – que na verdade só colocou dois integrantes do quarto colorido no paredão – , com uma rejeição maior do que a atingida por Vyni e Eslovênia, os dois que ele acredita ter eliminado.

Vyni postou em seu Instagram um vídeo com Taylor Swift cantando sobre karma. Eslô nem deu bola, festejada pelo público noite adentro, num show animado com o trio do piseiro João Gomes, Vitor Fernandes e Tárcisio do Acordeon.

Mas há outra explicação possível para a saída de Gustavo, uma análise que superestima o fã-clube de Arthur. Nesta leitura, os fãs do ex-“Rebelde” teriam sido responsáveis pela eliminação, porque Gustavo ousou se indispor com seu ídolo. Arthur seria, portanto, tão forte que bastaria mentalizar para seus seguidores realizarem seus desejos.

Por esta visão, os fãs teriam eliminado todos os que o contrariaram, um a um, até sobrarem apenas seus amiguinhos. E, de fato, muitos se vangloriam por esta façanha nas redes sociais. Só que isto também transfere toda a culpa pela exclusão dos conflitos na conta da padaria, como os fãs-clubes do Arthur se batizaram, tirando o peso do público em geral.

A ação orquestrada destes fãs realmente aconteceu, e de uma forma nunca antes vista, a ponto de levantar suspeitas de abuso de poder econômico ou robotização. E este é um ponto que precisa ser investigado a fundo, especialmente pela produção do programa, num balanço geral de tudo o que deu errado para levar o “BBB 22” a uma conclusão sem impacto.