Grammy faz melhor festa do ano, mas evidencia problemas em noite de recorde de Beyoncé

Muito bem produzida e supostamente democrática, a premiação do Grammy 2021 vai ficar conhecida como a edição em que Beyoncé bateu o recorde de artista com a maior quantidade de prêmios da […]

Instagram/Recording Academy

Muito bem produzida e supostamente democrática, a premiação do Grammy 2021 vai ficar conhecida como a edição em que Beyoncé bateu o recorde de artista com a maior quantidade de prêmios da Academia Fonográfica em todos os tempos. Indo além da superfície, porém, foi uma edição que evidenciou os problemas que, nos últimos meses, geraram acusações de falta de representatividade e corrupção contra os responsáveis pela distribuição dos prêmios.

Em primeiro lugar, mesmo com uma grande pulverização de troféus, artistas negros venceram majoritariamente “categorias negras” – isto é, disputas de rap e R&B. Houve exceções, em especial a vitória de “I Can’t Breathe”, de H.E.R., inspirada no movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) como Música do Ano. Nisto, entra sentimento de culpa branca em período de combate midiático ao racismo. Mas não nega os sinais que apontam tendência, indicando porque The Weeknd, com um som que não cabe nas caixinhas negras tradicionais, nem sequer foi indicado.

Em segundo lugar, a presença de Beyoncé no evento.

Ela disse que não participaria do Grammy. Mas apareceu com o marido Jay-Z. Manteve a promessa de não cantar e pulou a apresentação de “Savage”, que Megan Thee Stallion cantou sozinha, e foi a única artista a não interpretar a música indicada a Melhor Gravação do ano. Mas surgiu, na metade do evento, a tempo de receber dois prêmios que foram assinalados com alarde pelo apresentador Trevor Noah, por representarem um empate e um recorde histórico no Grammy.

Curiosamente, o 28º Grammy de sua carreira, a marca preciosa, aconteceu na categoria de Melhor Performance de R&B, geralmente incluída nos anúncios que antecedem a cerimônia. A mudança da apresentação para o palco principal só faz crescer a suspeita sobre conhecimento prévio do conteúdo do envelope premiado. Beyoncé teria ido ao Grammy para a foto de seu recorde.

Sua músicas, “Black Parade” e “Savage” (a parceria com Megan), eram as melhores na disputa de Melhor Gravação. Mas mesmo com Beyoncé em dose dupla, a categoria premiou Billy Eilish, com uma faixa que sobrou do disco passado.

Em noite das mulheres, Taylor Swift também celebrou um recorde, ao se tornar a primeira artista feminina a vencer a prestigiosa categoria de Álbum do Ano por três vezes. Por sinal, mulheres venceram as quatro principais categorias. Uma novidade.

De resto, a cerimônia pulverizou seus prêmios entre os principais artistas, conseguindo deixar (quase) todo mundo satisfeito. Teve gramofoninho dourado para Beyoncé, Megan Thee Stallion, Billie Eilish, Taylor Swift, Dua Lipa e até Harry Styles (o primeiro ex-One Direction agraciado com o Grammy), entre outros.

Sem surgir no palco para enfrentar as questões do evento, o presidente interino da Academia, Harvey Mason Jr., preferiu aparecer num vídeo, com participação de músicos de várias etnias, ao som de uma trilha de propaganda de banco, em que reconheceu o problema, prometendo mudanças para agora, não para amanhã, e ainda pediu engajamento dos artistas por mudanças “conosco e não contra nós”. Nenhuma proposta, decisão ou ação para aumentar a representatividade e enfrentar a corrupção foi apresentada, além do vídeo com slogans publicitários.

Não são poucos os problemas. Mas todos são anteriores à cerimônia em si. Já o evento, por outro lado, passou incólume pela crise e merece todos os elogios. A começar pelo formato adotado para sua transmissão televisiva.

Ponto alto da temporada de premiações deste ano, com um Trevor Noah muito à vontade no comando da festa, o Grammy 2021 evitou as participações por videoconferência que vinham tornando todas as cerimônias iguais e monótonas, ao adotar as regras simples de distanciamento social e uso obrigatório de máscaras de proteção.

A iniciativa resgatou os eventos presenciais e ainda inaugurou uma nova era fashion nos tapetes vermelhos: as combinações de máscaras e trajes de gala.

A utilização de cinco palcos rotativos, ao estilo do antigo programa musical britânico “Later… with Jools Holland”, também possibilitou apresentações sequenciais de artistas. Já na abertura, Harry Styles, Billie Eilish, Haim e Dua Lipa emendaram um show atrás do outro, dando a tônica da noite. A criatividade também tirou do tédio o tradicional momento in memoriam, dedicado aos artistas falecidos, que foi reformulado com homenagens de grandes astros, responsáveis por covers emocionantes, intercalados por uma multidão de fotos e lembranças, num dos melhores blocos da noite.

As apresentações também capricharam na cenografia, com muitos shows assumindo a aparência de clipes ao vivo. Ponto alto: a parceria de Cardi B e Megan Thee Stalion na adulta “Wap” foi de surtar e mandar ficar “de quatro” em bom português, ao terminar com o ritmo acelerado do remix funk do carioca Pedro Sampaio.

Ao final, teve até um feito digno do filme “Truque de Mestre”, em que o BTS recriou o palco do Grammy em Los Angeles, para revelar ao final de sua apresentação no suposto teto do Staples Theater que nunca saiu da Coreia do Sul.

Espetacular como programa de TV. De fato, o Grammy 2021 consagrou-se como a melhor festa de premiação do ano. Foi tão bom que nem pareceu ser uma premiação. Especialmente uma premiação tão complicada quanto o Grammy 2021.

Confira abaixo os vencedores das principais categorias.

Álbum do Ano
“Folklore — Taylor Swift

Gravação do Ano
“Everything I Wanted — Billie Eilish

Música do Ano
“I Can’t Breathe — H.E.R.

Artista Revelação
Megan Thee Stallion

Melhor Álbum Pop
“Future Nostalgia — Dua Lipa

Melhor Álbum de Rock
“The New Abnormal — The Strokes

Melhor Álbum de Rap
“King’s Disease — Nas

Melhor Álbum Country
“Wildcard — Miranda Lambert

Melhor Álbum Pop Latino ou Urbano
“YHLQMDLG — Bad Bunny

Melhor Álbum de Dance/Eletrônica
“Bubba” — Kaytranada

Melhor Álbum de Música Alternativa
“Fetch the Bolt Cutters” — Fiona Apple

Melhor Performance de Grupo ou Dupla Pop
“Rain on Me” – Lady Gaga with Ariana Grande

Melhor Performance de R&B
“Black Parade” – Beyoncé

Melhor Performance de Rap
“Savage” – Megan Thee Stallion featuring Beyoncé

Melhor Performance de Rap Melódico
“Lockdown” — Anderson .Paak

Melhor Performance de Rock
Fiona Apple – “Shameika”

Melhor Música de Rap
“Savage” — Megan Thee Stallion featuring Beyoncé

Melhor Música de R&B
“Better Than I Imagine” – Robert Glasper featuring H.E.R. e Meshell Ndegeocello

Melhor Música de Rock
Brittany Howard – “Stay High”

Melhor Música de Mídia Visual
“007 – Sem Tempo para Morrer” – Billie Eilish

Melhor Trilha Sonora
“Coringa” – Hildur Guðnadóttir

Melhor Filme Musical
“Linda Ronstadt: The Sound of My Voice”

Melhor Vídeo Musical
“Brown Skin Girl” – Beyoncé e Blue Ivy Carter