O que faz um filme dar lucro em Hollywood?

Em muitos sentidos, Hollywood se parece com um cassino de altas apostas. Para criar um blockbuster é preciso apostar alto. Uma fortuna. Que pode render o dobro ou o triplo. Ou fazer […]

Em muitos sentidos, Hollywood se parece com um cassino de altas apostas. Para criar um blockbuster é preciso apostar alto. Uma fortuna. Que pode render o dobro ou o triplo. Ou fazer o estúdio perder todo o investimento e ainda ficar no negativo num lance errado.

Uma análise dos filmes mais caros de todos os tempos mostra como é difícil acertar essa aposta.

Entre os exemplos positivos está “Star Wars: O Despertar da Força” (2015). O filme custou US$ 248 milhões, mas arrecadou US$ 2,13 bilhões, passando na frente de muitos longas de super-heróis em faturamento, para comprovar que o investimento da Disney na aquisição da Lucasfilm – por US$ 4 bilhões em 2012 – mais que compensou.

Por outro lado, um lançamento mais recente da mesma Lucasfilm, “Han Solo: Uma História Star Wars” (2018), resultou num dos maiores prejuízos da história recente da Disney.

O filme que conta a origem do icônico piloto Han Solo enfrentou diversos problemas de bastidores, culminando na demissão de sua dupla original de diretores na reta final de filmagens. Ron Howard foi contratado às pressas para concluir o longa, mas acabou refilmando várias cenas, o que fez o orçamento atingir US$ 275 milhões e transformar o longa no mais caro de todos os títulos “Star Wars”. Ao final, porém, rendeu apenas US$ 392,9 milhões mundiais. E gerou um prejuízo estimado entre US$ 50 e 80 milhões para os cofres do estúdio, que só não foi maior devido à venda de direitos para a TV (US$ 125 milhões), vídeo (US$ 64 milhões) e streaming (US$ 181 milhões).

A diferença que define lucro e prejuízo leva em conta o fato de que a bilheteria de um filme não retorna completa para os produtores. Ela é dividida com o parque exibidor e ainda sofre taxação, que varia de país para país. Os lançamentos na China, por exemplo, retornam apenas 25% da bilheterias para os estúdios. Mas os estúdios amortizam fracassos com outras fontes de renda, como exemplificado acima.

Além disso, filmes não custam apenas o orçamento de produção. O investimento em P&A (publicidade e divulgação) é quase tão elevado quanto as filmagens – em “Han Solo” foi de US$ 130 milhões. Isto inclui desde a criação de todo o material de apoio, como pôsteres, que precisam ser impressos para milhões de cinemas ao redor do mundo, trailers, etc, até o pagamento de campanhas publicitárias, eventos de marketing, etc, sem contar salários fixos de profissionais que cuidam dos lançamentos em todos os países.

Geralmente, uma produção começa a dar lucro quando sua bilheteria se torna três vezes maior que seu orçamento, mas isso costuma variar de produção a produção – algumas gastam tanto em marketing que precisam faturar quatro vezes mais.

Apesar do tombo com “Han Solo”, a Disney é o estúdio que mais acerta ao investir algo em blockbusters. Seus filmes mais recentes da Marvel estão entre os maiores orçamentos de todos os tempos, numa escalada monumental. “Vingadores: Era de Ultron” (2015), por exemplo, custou US$ 365 milhões. E para evitar que seus dois longas seguintes com a reunião de todos os heróis da Marvel superassem esse recorde, a Disney teve a ideia de filmá-los simultaneamente, economizando em despesas de locação, hospedagens e transporte. Deu certo, ainda que o alívio tenha sido relativo. “Vingadores: Guerra Infinita” (2018) foi orçado em torno dos US$ 316 milhões e “Vingadores: Ultimato” (2019) atingiu o custo de US$ 356 milhões.

Só nestes três filmes, o estúdio investiu mais de US$ 1 bilhão! O resultado, porém, foi uma bilheteria somada de US$ 6,1 bilhões, com direito a quebra de recorde mundial de arrecadação, atingido por “Vingadores: Ultimato”, que faturou sozinho quase metade desse valor no ano passado, US$ 2,7 bilhões.

A Warner também investiu alto na produção de filmes baseados nos quadrinhos da DC Comics, desembolsando estimados US$ 263 milhões para seu primeiro filme-evento, “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016), e mais de US$ 300 milhões em “Liga da Justiça” (2017). Ambos foram destruídos pela crítica, mas o primeiro praticamente empatou os gastos, atingindo US$ 873,6 milhões nas bilheterias mundiais. O público, porém, evitou o segundo, que também teve bastidores tumultuados e troca de diretor na reta final. O longa faturou apenas US$ 657,9 milhões e gerou uma crise enorme, com demissões e reestruturações em vários departamentos do estúdio.

Mas também há alguns fenômenos que surgem de onde ninguém espera. O caso da franquia “Velozes e Furiosos” é um grande exemplo. O primeiro filme, lançado em 2001, era uma produção relativamente barata, que custou apenas US$ 38 milhõe, e surpreendeu a Universal ao atingir mais de US$ 200 milhões em todo o mundo. O estúdio resolveu apostar na marca. E aquela bilheteria inicial já não pagaria os custos do oitavo filme. “Velozes e Furiosos 8” (2017) foi rodado por US$ 250 milhões, com locações em vários países e destruição de centenas de carros caríssimos. E faturou US$ 1,2 bilhão!

Os custos em efeitos visuais tem ajudado a escalar os orçamentos. Mas há também os salários milionários dos astros de ação. A folha de pagamento foi responsável pelas maiores despesas dos filmes dos “Vingadores” da Marvel.

Para entender tanta despesa, é preciso ajuda até de infográfico. O site Lottoland criou um guia com infográficos e vários números que completam essas informações. Confira para conhecer melhor os detalhes financeiros dos filmes gigantescos de Hollywood.