Aves de Rapina é esquadrão de suicídio criativo

A DC/Warner parece não ter se incomodado muito com as críticas negativas de “Esquadrão Suicida”, quase uma unanimidade entre os piores filmes de super-heróis já feitos. Como a presença de Margot Robbie […]

A DC/Warner parece não ter se incomodado muito com as críticas negativas de “Esquadrão Suicida”, quase uma unanimidade entre os piores filmes de super-heróis já feitos. Como a presença de Margot Robbie no papel de Arlequina foi um dos poucos – senão o único – acertos do filme, o estúdio resolveu investir em um novo filme com a personagem, que no anterior aparecia como namorada do Coringa, aqui tratado como Mr. C (ou Mr. J, no original).

Já na época do “Esquadrão Suicida”, muito foi falado sobre a questão do relacionamento abusivo e tóxico dos dois, e “Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” começa justamente com a separação dos dois, o sofrimento da Arlequina e sua posterior volta por cima, com um misto de humor e violência. Aliás, é curioso como as cenas de violência parecem uma fusão dos antigos desenhos da Warner, como Pernalonga, e os filmes de gângster do estúdio – referências esboçadas na série animada do Batman que introduziu a Arlequina nos anos 1990.

As cenas de Arlequina quebrando as pernas de seus inimigos – são duas que se destacam – são até bastante gráficas, mas não jorram sangue, como num cartum. Ao mesmo tempo, há uma certa leveza na condução da personagem, apesar de isso ser um tanto contraditório em relação a seus atos. Como as cenas de ação são apenas o.k., cortesia da inexperiente diretora Cathy Yan (que antes só tinha comandado um único longa indie), o que acaba se destacando é o carisma de Margot, mesmo com sua personagem reduzida a diálogos fracos.

“Aves de Rapina”, começa até interessante, com uma narração que lembra um pouco os primeiros filmes de Quentin Tarantino, com idas e vindas no tempo, a partir do ponto de vista de Arlequina. Mas quando ela deixa de ser a única personagem em foco, o filme sofre. As coadjuvantes femininas que se juntam no último ato do filme acabam tendo bem menos força.

A culpa é do roteiro que relega a Canário Negro (Jurnee Smollet-Bell) ao papel de motorista do gângster vivido por Ewan McGregor, um desserviço para uma personagem tão icônica, e pouco explora a Caçadora vivida Mary Elizabeth Winstead, sem mencionar as demais, completamente diferentes de suas contrapartes dos quadrinhos.

Em relação ao vilão encarnado por McGregor, é impressionante como seu Máscara Negra é irritante. Até dá para relevar, levando em consideração o tom debochado do filme, mas também passa aquela impressão de desprezo do estúdio pela própria produção.

De fato, apresentar heroínas de quadrinhos que não tem nada a ver com as heroínas dos quadrinhos, filmar uma história inspirada em desenhos infantis com censura para maiores e colocar uma cineasta sem experiência em cenas ação à frente de um filme que é, basicamente, uma sucessão de cenas de ação parece mesmo auto-sabotagem.