Bolsonaro: “Não posso admitir que se faça um filme como Bruna Surfistinha”

No discurso do evento que marcou os 200 dias de seu governo, Jair Bolsonaro disse que o dinheiro público não será mais usado para bancar filmes que, segundo ele, contrariam o “respeito […]

No discurso do evento que marcou os 200 dias de seu governo, Jair Bolsonaro disse que o dinheiro público não será mais usado para bancar filmes que, segundo ele, contrariam o “respeito com as famílias”.

“Com o Osmar Terra [ministro da Cidadania] fomos a um canto e nos acertamos. Eu não posso admitir que com o dinheiro público se faça um filme como ‘Bruna Surfistinha’. Não temos problema com essa opção ou aquela. O ativismo que não podemos permitir, em respeito com as famílias”, disse.

“Bruna Surfistinha” foi um dos filmes mais premiados do Brasil em 2012, incluindo troféus do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro para seu roteiro e para as atrizes Deborah Secco e Drica Moraes, o troféu do SESC como melhor filme do ano em votação do público e o prêmio Contigo de Cinema. Também foi um sucesso de grande aprovação popular. O lançamento arrecadou mais de R$ 4 milhões em seu fim de semana de estreia, ficando atrás somente do desenho “Enrolados”, da Disney.

O longa também não promove qualquer ativismo. E teve sua exibição classificada pelo Ministério da Justiça para 16 anos.

Além de discursar, Bolsonaro assinou um decreto transferindo o Conselho Superior de Cinema da Secretaria da Cultura, que estava na pasta de Osmar Terra, para a Casa Civil no Palácio do Planalto.

Insatisfeito com a atual política de fomento ao cinema, o presidente pretende fazer alterações na estrutura. Além da transferência do órgão colegiado para o Palácio do Planalto, em uma tentativa de ter mais influência sobre ele, Bolsonaro ainda avalia extinguir a Ancine (Agência Nacional do Cinema), atualmente em crise.

Segundo informações da colunista da Folha de S. Paulo Mônica Bergamo, o motivo não é exatamente “Bruna Surfistinha”, mas o mesmo que levou à demissão de um diretor de marketing do Banco do Brasil após publicidade com transexual. A insatisfação do Bolsonaro viria de relatos de projetos aprovados pela Ancine que o presidente entende como absurdos, como o reality “Born to Fashion”, cuja premissa é revelar modelos trans.

No evento, o presidente mirou explicitamente os transgêneros, ao falar de sua ordem de suspender vestibular que reservava 120 vagas para transexuais e pessoas não-binárias, o que, para ele, é algo que não pode acontecer. Bolsonaro disse que por ser um vestibular “exclusivo” significa que “não tem espaço para quem for heterossexual”.

Bolsonaro também disse que não sabia o que era “não-binário”, foi pesquisar, mas não ia comentar em respeito aos presentes. A categoria de pessoas que não se definem exclusivamente como homem ou mulher é contemplada em glossário da Organização das Nações Unidas (ONU).

A Ancine, por sua vez, é uma agência reguladora com a função de fomentar e fiscalizar as produções cinematográfica e videofonográfica no Brasil.

A maioria dos filmes feitos no Brasil recebe verbas do órgão, via Fundo Setorial do Audiovisual, que destina para os produtores verbas de taxas federais pagas por empresas do setor, como o Condecine e o Fistel. Este dinheiro não é pago pelo cidadão brasileiro, mas por empresas que lucram com cinema e TV no Brasil.

Bolsonaro já proibiu que as estatais patrocinem eventos culturais, colocando em risco os festivais de cinema do país, e impôs limites impraticáveis para produções cinematográficas nos projetos que podem ser aprovados via Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet).

Tudo isso contribui para a crise econômica do país.

Nenhuma medida de incentivo à economia e combate ao desemprego foi anunciada no evento dos 200 dias do governo.