Exibidores italianos protestam contra inclusão de filmes da Netflix no Festival de Veneza 2018

Deu certo na França, em relação ao Festival de Cannes. Era óbvio que os donos de cinema também esperneariam na Itália contra a presença de filmes da Netflix no Festival de Veneza. […]

Deu certo na França, em relação ao Festival de Cannes. Era óbvio que os donos de cinema também esperneariam na Itália contra a presença de filmes da Netflix no Festival de Veneza.

Duas associações de exibidores italianos lançaram, nesta segunda-feira (30/7), comunicados em que criticam a seleção de produções da Netflix para a competição do Leão de Ouro, no Festival de Veneza 2018.

A ANEC (sigla italiana da Associação Nacional de Exibidores de Cinema) e a ANEM (Associação Nacional de Exibidores de Multiplexes) não citam diretamente a Netflix, mas “serviços de streaming on-line”, ao condenar a prática de lançar filmes simultaneamente nos cinemas e na internet.

As associações citam especificamente o filme “On My Skin”, produção italiana sobre brutalidade policial que vai estrear na mostra Horizons, no Festival de Veneza, e será lançado pela Netflix poucos dias depois. Para a ANEC e a ANEM, esse tipo de lançamento “beneficia uma parte da cadeia de produção em curto prazo, e prejudica outra”.

Na visão das associações, a atitude do Festival de Veneza de selecionar esses filmes é “irresponsável”, citando que as redes de cinema do país já “sofrem com problemas estruturais”. “Vamos continuar lutando contra essa estratégia absurda de fechar a janela entre o lançamento nos cinemas e em outras plataformas”, comentaram ainda.

É uma briga de evidente perfil sindical. Os donos de cinema defendem “direitos adquiridos” e atacam mudanças em seu “status”, como o privilégio de exibir todos os filmes antes dos demais integrantes da cadeia de exibição.

Já a Netflix se tornou o maior estúdio do mundo, lançando mais filmes que qualquer produtora de Hollywood. A questão é que seus lançamentos não são para o cinema.

Deveriam as produções de streaming, como pregam alguns, disputar o Emmy e eventos de TV como os telefilmes da HBO? E os festivais de cinema, deveriam abraçar a causa dos grandes exibidores, que na verdade mal programam filmes de festivais há muitos anos? São pontos que fomentam discussões.

O que se tem de concreto é que o Festival de Cannes, que cedeu a esta pressão e proibiu filmes da Netflix em sua competição, vê agora os filmes de prestígio da plataforma, que fizeram falta em sua seleção, chegar em Veneza. O consenso é que Cannes apresentou sua seleção mais fraca dos últimos anos e premiou filmes que não tiveram repercussão.

Além de “On My Skin”, o Festival de Veneza vai exibir outros cinco filmes da Netflix: “22 July”, thriller de Paul Greengrass (“Jason Bourne”), “Roma”, novo filme de Alfonso Cuarón (“Gravidade”), “The Ballad of Buster Scruggs”, dos Irmãos Coen (“Ave, César”), “The Other Side of the Wind”, obra restaurada de Orson Welles (“Cidadão Kane”), e o documentário “They’ll Love Me When I’m Dead” sobre Orson Welles.

O Festival de Veneza vai acontecer de 29 de agosto a 8 de setembro.