Volta do diretor de O Chamado ao terror, A Cura é constrangedora

O fiasco de “O Cavaleiro Solitário” (2013), aquele filme em que Johnny Deep fazia o papel de Tonto, o índio trapalhão, exigia que o diretor Gore Verbisnki encontrasse urgentemente um filme que […]

O fiasco de “O Cavaleiro Solitário” (2013), aquele filme em que Johnny Deep fazia o papel de Tonto, o índio trapalhão, exigia que o diretor Gore Verbisnki encontrasse urgentemente um filme que recolocasse sua reputação de realizador nas alturas. “A Cura” é essa aposta. Uma tentativa do cineasta de investir num caminho que já tinha trilhado com sucesso anteriormente: o terror – Verbinski se projetou como diretor de “O Chamado” (2002). O que, para os executivos da Fox, pareceu uma barbada.

O resultado, contudo, é constrangedor.

Verbinski e o roteirista Justin Haythe (também de “O Cavaleiro Solitário”) trabalham até um mote interessante, a história de um financista de Nova York (Dane DeHaan) que acaba internado numa clínica suíça e, cada vez que tenta escapar, uma força misteriosa parece prendê-lo ainda mais forte.

Mas nada funciona no filme. O roteiro é mal estruturado, confuso e não revela habilidade nem mesmo para criar sustos. Uma cena é mais previsível que a outra.

DeHaan (o Duende Verde de “O Espetacular Homem Aranha 2”) tem até o perfil ansioso adequado para perambular pelo sanatório dirigido por um médico (Jason Isaacs, da franquia “Harry Potter”) com sotaque alemão muito suspeito. É o tipo de cara que abre as portas e só depois pergunta se era proibido, mas cai tolamente numa armação, e não consegue provar pra polícia que realmente está sendo vítima dos médicos do sanatório.

E essa situação se repete, se prolonga por intermináveis duas horas e meia. Nada prospera em cena, nem mesmo a atriz Mia Goth (“Ninfomaníaca: Volume 2”), que interpreta a filha do médico. Mia acaba sendo a expressão máxima da visão anêmica do filme: ela parece assombrada e morta de fome.

Em seu fracasso, Verbinski é literalmente épico. Se o filme é ruim, pelo menos o visual é caprichado. A fotografia austera de Bojan Bozelli (outro egresso de “O Cavaleiro Solitário”) favorece o cinza e tons de verde, variando de bile a musgo. O vestuário de Jenny Beavan (“Mad Max: Estrada da Fúria”) capricha nas peças retro-góticas e os cenários de Eve Stewart (“Victor Frankenstein”) são opulentos e passam a ideia certa de frieza e morbidez. Depois de uma meia hora de filme, a sugestão de gelidez é perfeita.

Isso, porém, só aumenta a sensação de desperdício. De que adianta o capricho na atmosfera, quando a trama não ajuda, o diretor se enrosca nos chavões e os atores dançam como loucos pelos cenários, já que as boas ideias estão lá, mas ninguém sabe muito bem que direção tomar?

Enfim, se essa era a Cura que Verbinski almejava para seus males, não deu certo. Melhor tentar outra receita.