Suspense intenso de No Fim do Túnel comprova a boa fase do cinema argentino

O cinema argentino, já há algum tempo, mostra força e boa comunicação com o público brasileiro. Tem uma produção diversificada, que vai do cinema de gênero a filmes-cabeça, com maiores pretensões artísticas […]

O cinema argentino, já há algum tempo, mostra força e boa comunicação com o público brasileiro. Tem uma produção diversificada, que vai do cinema de gênero a filmes-cabeça, com maiores pretensões artísticas e que visam a estimular a reflexão. Tem também comédias para consumo fácil. Geralmente com tramas bem urdidas, reveladoras da qualidade dos roteiros, talvez o ponto forte do cinema dos hermanos.

“No Fim do Túnel” é um desses exemplos do bom cinema de gênero. É um thriller que mantém o público em tensão permanente, nas suas duas horas de projeção. Mas não joga areia nos olhos de seus espectadores. Mantém um clima de suspense constante, em função do que vai ou do que pode acontecer, mesmo nos instantes de calmaria aparente. É um filme empolgante naquilo a que se propõe.

Os elementos que compõem a narrativa não chegam a ser originais. Um quarto numa casa é alugado, enquanto um grupo de bandidos constrói um túnel para realizar um grande roubo no banco, passando por baixo da casa sem despertar suspeitas. O morador e dono da casa é um cadeirante com uma vida solitária, mas com talento especial para lidar com elementos tecnológicos, como aparelhos de som e equipamentos de escuta e gravação. Condição necessária para que ele possa intervir no plano dos bandidos.

Sua condição de vida, porém, também é mexida pela personagem que aluga o tal quarto: uma mulher jovem, que trabalha como stripper, e sua filhinha, que aparentemente não consegue mais falar. Os destinos que se cruzarão não serão apenas o do herói-cadeirante e o dos bandidos, mas o dele e o delas. A trama se sofistica e produz um interesse extra.

A condição de herói-cadeirante que tem Joaquín (Leonardo Sbaraglia) mostra a ideia de que uma deficiência física não é capaz de limitar a ação inteligente, brilhante, de um personagem como ele. E produz sequências de tirar o fôlego, visualmente requintadas, ao longo da trama. Como é possível enfrentar as situações, movendo-se numa cadeira de rodas, até entrando, andando e saindo de um túnel em construção, por exemplo? Com malfeitores ao lado e lutando contra o tempo. Ufa!

Leonardo Sbaraglia, bastante conhecido por seu papel em “Relatos Selvagens”, está também em “O Silêncio do Céu”, em cartaz nos cinemas. A cada filme, ele reafirma seu grande talento como ator. Nesse, exigindo uma perícia em cenas com cadeira de rodas e sem poder movimentar as pernas, o que é notável.

Outro grande ator argentino, o veterano Federico Luppi (ainda em cartaz em “A Passageira”), está em “No Fim do Túnel”, num papel menor, como um policial que atua no mundo do crime (outra questão interessante de ser mostrada). É sempre bom vê-lo em cena. Mas os demais integrantes também dão conta de seus papeis: Clara Lago (“Fim dos Tempos”), como a stripper Berta, que convive com Joaquín na casa, Pablo Echarri (“Papéis ao Vento”), vivendo o ladrão Galereto, que comanda a turma no túnel, e até a menina que faz Betty, Uma Salduende, com seu comportamento estranho e limitado em cena.

O jovem diretor Rodrigo Grande (“Historias Breves 2”), que é também roteirista, assina um excelente trabalho, envolvente, tenso, instigante, e com uma trama recheada de elementos que acrescentam coisas importantes à história central e a tornam muito mais interessante, sem perder o foco.