Tônia Carrero (1922 – 2018)

Morreu Tônia Carrero, uma das maiores estrelas do cinema, do teatro e da TV brasileira. A atriz havia sido internada na sexta-feira, na Clínica São Vicente, na Gávea, para a realização de […]

Morreu Tônia Carrero, uma das maiores estrelas do cinema, do teatro e da TV brasileira. A atriz havia sido internada na sexta-feira, na Clínica São Vicente, na Gávea, para a realização de um procedimento cirúrgico simples, mas não resistiu, aos 95 anos de idade.

Nascida Maria Antonietta de Farias Portocarrero, no Rio de Janeiro, ela já era esposa do artista plástico Carlos Arthur Thiré quando começou sua carreira com um pequeno papel no filme “Querida Susana” (1947), de Alberto Pieralisi.

Entusiasmada com a experiência, resolveu se matricular num curso de atuação em Paris, com Jean Louis Barrault, e mudou os rumos de sua vida. Foi fazer teatro, onde conheceu o diretor italiano Adolfo Celi, seu segundo marido. E logo na estreia, em 1949, recebeu o prêmio de atriz revelação pela Associação de Críticos Cariocas.

Em 1951, Tônia se mudou para São Paulo e se tornou estrela da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, por onde atuou em clássicos do cinema nacional como “Apassionata” (1952), de Fernando de Barros, “Tico-Tico no Fubá” (1952), do marido Adolfo Celi, e “É Proibido Beijar” (1954), de Ugo Lombardi.

Dois anos depois, passou a integrar o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), marcando época em montagens teatrais dirigidas por Zbigniew Ziembinski.

De volta ao Rio, em 1956, a atriz formou sua própria companhia teatral com o marido e o amigo Paulo Autran, a Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), que nos anos 1950 e 1960 revolucionou o teatro brasileiro com espetáculos como “Entre Quatro Paredes” (1956), de Jean-Paul Sartre, e “Seis Personagens à Procura de um Autor” (1960), de Luigi Pirandello, pelo qual recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor atriz.

Após se separar de Celi, ela montou sua empresa individual em 1965, a Companhia Tônia Carrero, pela qual montou “A Dama do Maxim’s, de Georges Feydeau, ao lado do parceiro Paulo Autran, e “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, cuja protagonista, a miserável prostituta Neusa Suely, se torna um dos marcos mais importantes de sua carreira. O papel lhe rendeu dois prêmios: o Molière e o da Associação de Críticos Cariocas.

Tônia ainda estrelou duas coproduções internacionais de cinema, “Sócio de Alcova” (1962) e “Copacabana Palace” (1962), que tinham em comum a violência crescente do Rio de Janeiro, tema que ainda a conduziu a “Tempo de Violência” (1969), antes de virar estrela da Globo.

Ela estrelou na rede de televisão em “Pigmalião 70”, que adaptava a trama da peça “Pigmalião”, de George Bernard Shaw, para o ano de 1970. Na peça, um professor tentava transformar uma modesta vendedora de flores numa dama da sociedade. Já na novela, os papéis foram invertidos: era uma mulher rica (papel de Tônia) que se propunha a transformar a vida de um vendedor de frutas (Sérgio Cardoso).

O sucesso da novela a estabeleceu como estrela da Globo, acumulando uma longa sequência de papéis, geralmente como mulher sofisticada, numa atração atrás da outra. Para se ter ideia, em apenas dois anos na emissora, ela estrelou cinco novelas, algumas quase simultaneamente.

Após se afastar para respirar e desenvolver outros trabalhos, ela retornou em 1980 num dos seus personagens mais marcantes, a sofisticada Stella Fraga Simpson em “Água Viva” (1980), de Gilberto Braga. A parceria com Braga voltou a se repetir com outro papel chique de grande sucesso em “Louco Amor” (1983).

No auge de sua popularidade, ela resolveu sacudir a imagem televisiva e interpretar um texto moderno no teatro. Virou estrela de “Quartett” (1986), de Heiner Müller, dirigida por Gerald Thomas, demonstrando a mesma vitalidade e ousadia de sua juventude aos 64 anos de idade. Aplaudida pela crítica, conquistou outro prêmio Molière de melhor atriz.

Tônia seguiu alternando teatro, TV e cinema por mais duas décadas, mas sem a mesma quantidade exasperante de trabalhos, até a saúde a abandonar. Seus últimos papéis na Globo foram participações na novela “Senhora do Destino” (2004) e na série de comédia “Sob Nova Direção” (em 2005), e ela se despediu do cinema com “Chega de Saudade” (2007), de Laís Bodanzky.

Diagnosticada com uma doença chamada de hidrocefalia oculta, ela não se comunicava mais e nem conseguia andar normalmente. Tônia vivia em seu apartamento no Leblon, cercada de familiares e sempre recebia visitas de amigos próximos. Além de mãe do ator Cecil Thiré, ela também era avó de outra geração de atores, Miguel Thiré, Luísa Thiré e Carlos Thiré.