Festival de Berlim: Steven Soderbergh elege celular como sua câmera de cinema favorita

A volta do cineasta americano Steven Soderbergh ao circuito dos festivais rendeu muito assunto, ainda que o resumo da ópera seja um comercial da Apple e seus caros aparelhos de telefonia móvel. […]

A volta do cineasta americano Steven Soderbergh ao circuito dos festivais rendeu muito assunto, ainda que o resumo da ópera seja um comercial da Apple e seus caros aparelhos de telefonia móvel.

Soderbergh presentou no Festival de Berlim 2018 o longa-metragem “Unsane”, que foi inteiramente gravado por meio de um iPhone. A trama acompanha uma mulher (Claire Foy, da série “The Crown”) que sofre o assédio de um psicopata e de uma clínica psiquiátrica que pratica fraudes sistemáticas.

Pela forma como foi realizado, Soderbergh revelou, durante a entrevista coletiva do evento, que inicialmente não pretendia lançar “Unsane” nos cinemas, visando negociar um acordo de distribuição com uma plataforma de streaming. No entanto, mudou de ideia ao ver o filme pronto. “Quando encerramos as gravações e assisti ao filme pela primeira vez, pensei que talvez devêssemos tentar os cinemas e a conversa mudou completamente”.

“Não é um filme sutil”, ele explicou, comparando as diferenças entre câmera de cinema e de celular. “Nunca tinha trabalhado tão perto de um rosto como agora”, disse o cineasta, que defendeu o iPhone pelo “absoluto imediatismo” que permite na captação de imagens, o que combinava com sua abordagem da trama.

Todo o roteiro foi inteiramente gravado em duas semanas e Soderbergh ressaltou que a grande vantagem do iPhone foi sua capacidade de colocar a lente em qualquer lugar “em questão de segundos”. “A capacidade de assistir a um ensaio e depois entrar imediatamente na gravação da cena mantém o nível de energia”, disse ele, acrescentando que será “complicado voltar a uma maneira mais convencional de filmagem”.

A atenção em torno do uso do iPhone acabou repercutindo mais que o tema do assédio. O diretor lembrou que as gravações ocorreram antes da explosão dos escândalos por abusos sexuais e a campanha #MeToo, que sacode Hollywood.

“Gravamos o filme antes do início do #MeToo. Mas, certamente, o assédio é um tema muito presente no filme”, situou o cineasta, ressaltando que o psicopata da história ignora a rejeição da vítima para forçá-la a aceitar seu assédio.

“Essas são questões que sempre existiram, então foi pura coincidência o tema ter se tornado tão relevante, mas estou interessado nesses tipos de dinâmica. Não apenas a dinâmica de gênero, mas a dinâmica de poder, o que acontece com as pessoas quando elas são presas em um sistema projetado para tirar a identidade das pessoas”, acrescentou.

Ele também abordou sua alardeada aposentadoria do cinema em 2013, e o fato de ter retornado ao circuito no ano passado com “Logan Lucky”. “Eu acho que confundi parte da minha frustração com a indústria cinematográfica… e em seguida fiz uma série (‘The Knick’) em que senti mais prazer de trabalhar. Mas uma vez que voltei ao cinema, decidi continuar trabalhando para quebrar barreiras e este filme, mais do que qualquer outro trabalho recente, me fez sentir como se tivesse retomado uma espécie de cinema a que me entreguei quando era adolescente, então foi um prazer”, concluiu.

Entusiasmado pela liberdade permitida pelo iPhone, ele revelou que seu próximo projeto, com gravações marcadas já para a próxima semana, também será feito com celular. Só não disse qual seria esse projeto – ele está em envolvido num drama sobre o escândalo financeiro dos Panamá Papers e o thriller “Planet Kill”.