Diretor de Toy Story se afasta da chefia da Disney após acusação de assédio sexual

O cineasta John Lasseter, atual chefão da divisão de animação da Disney, anunciou nesta terça-feira (21/11) seu afastamento do estúdio para tirar um “semestre sabático”, após admitir que precisa “enfrentar seus erros”. […]

O cineasta John Lasseter, atual chefão da divisão de animação da Disney, anunciou nesta terça-feira (21/11) seu afastamento do estúdio para tirar um “semestre sabático”, após admitir que precisa “enfrentar seus erros”.

O site The Hollywood Reporter chegou a apontar que o afastamento era decorrência de denúncia da atriz Rashida Jones, que deixou a produção de “Toy Story 4”, em que atuava como uma das roteiristas, por conta de um avanço não consensual de Lasseter. Will McCormack, seu parceiro criativo no filme, que tem previsão de estreia para junho de 2019, também pediu demissão em apoio à colega. Mas após ver seu nome citado na reportagem, Rashida Jones veio a público negar a história, contando o motivo de sua decisão: discriminação sexual – o que também não pegou bem para a companhia e seu diretor.

Lasseter é cofundador da Pixar e diretor do primeiro longa da companhia, o clássico “Toy Story”, que também foi o primeiro longa totalmente feito por computador. Considerado um dos visionários responsáveis pela revolução da animação digital no cinema, após a aquisição da Pixar foi promovido a diretor criativo da Walt Disney Pictures, e marcou sua gestão por aproximar os estilos de ambas as companhias, gerando sucessos e prêmios para os dois estúdios. Muitos se esquecem que a Disney vinha de grandes fracassos como “Atlantis – O Reino Perdido” (2001), “Irmão Urso” (2003) e “O Galinho Chicken Little” (2005), quando Lasseter assumiu o comando de suas animações, produzindo sucessos como “Enrolados” (2010), “Detona Ralph” (2012), “Frozen” (2013), “Zootopia” (2016) e “Moana” (2016). Não por acaso, seu nome é listado como produtor de quase cem filmes.

O anúncio de seu afastamento foi divulgado após chegar a seu conhecimento que o THR preparava uma reportagem sobre sua conduta.

Em texto enviado aos funcionários da Pixar, ele disse: “Recentemente, tive uma série de conversas difíceis que foram muito dolorosas para mim. Nunca é fácil enfrentar seus erros, mas é a única maneira de aprender com eles”.

“Minha esperança é que um semestre sabático vai me dar a oportunidade de começar a cuidar melhor de mim mesmo, me recarregar e me inspirar, para então retornar com a visão e a perspectiva que preciso para ser o líder que vocês merecem”, concluiu Lasseter.

A Disney não se pronunciou, mas muitos funcionários falaram com o THR para a reportagem, sob a condição de anonimato por temerem que suas carreiras fossem prejudicadas.

De acordo com relatos, o incidente com Rashida Jones não teria sido isolado. Lasseter é muito conhecido por abraçar seus funcionários e demais profissionais da área, além de gostar de “agarrar, beijar e fazer comentários sobre atributos físicos”. O executivo também costuma ingerir doses altas de bebidas alcoólicas em eventos sociais da empresa, como festas de lançamentos, mas seu comportamento não estaria exclusivamente atrelado ao fato.

Segundo apurou o THR, as funcionárias mulheres da Pixar já sabiam “virar a cabeça rapidamente para evitar seus beijos”. Algumas usavam um movimento que batizaram de “o Lasseter” para evitar que seu chefe passasse a mão em suas pernas.

Uma das fontes que falou de forma anônima lembrou de uma reunião, realizada há 15 anos, em que Lasseter sentou ao lado de uma mulher. “Ela estava curvada e posicionou o braço na coxa. A melhor maneira de descrever é que era uma postura defensiva… John estava com a mão no joelho dela e movendo-a”, contou.

Após a reunião, a fonte conversou com a vítima sobre o ocorrido: “Ela disse que deu azar por usar uma saia naquele dia e que se não estivesse se protegendo com o braço, a mão de John teria viajado…”.

A mesma fonte lembrou um caso em que uma foto corporativa precisou sofrer um corte bizarro porque Lasseter, que estava posicionado entre duas funcionárias, repousou suas mãos no corpo delas.

Em outro relato, uma ex-funcionária lembrou encontros estranhos com Lasseter, que gostava — “como muitos na indústria” — de distribuir abraços em reuniões. “Você o abraçava e ele sussurrava em sua orelha por um longo tempo. Ele abraçava diversas vezes e todos te olhavam. Era uma invasão de espaço”, relatou.

O texto de Lasseter menciona este fato. “Eu especialmente quero pedir desculpas a qualquer um que recebeu um abraço não desejado ou qualquer gesto que ultrapassasse o limite de qualquer forma. Não importa quão benigna fosse minha intenção, todos têm o direito de estabelecer seus próprios limites e tê-los respeitados”, comentou o produtor.