Romance húngaro apolítico vence o politizado Festival de Berlim

O filme húngaro “On Body and Soul” foi o vencedor do Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim 2017. O longa superou outros 17 concorrentes da mostra competitiva para celebrar […]

O filme húngaro “On Body and Soul” foi o vencedor do Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim 2017. O longa superou outros 17 concorrentes da mostra competitiva para celebrar sua vitória na cerimônia realizada neste sábado (18/2) na capital da Alemanha.

“On Body and Soul” já tinha conquistado o prêmio da crítica. O longa da cineasta Ildikó Enyedi (responsável pela versão húngara da série “Sessão de Terapia”) foi apontado desde o começo como um dos favoritos, mas curiosamente sua história de amor era uma das tramas mais despolitizadas da competição, num ambiente marcado por dramas de refugiados e protestos políticos. O filme também venceu um prêmio do público, conferido pelo jornal alemão Berliner Morgenpost, e o prêmio do juri ecumênico.

Pela coincidência com os prêmios independentes, o Urso de Ouro de “On Body and Soul” foi considerado um acerto do júri presidido pelo cineasta Paul Verhoeven (“Elle”). Mas houve quem preferisse maior reconhecimento para o filme de Aki Kaurismãki, um dos mais politizados do festival, que foi contemplado com um Urso de Prata.

O finlandês Kaurismäki recebeu o troféu de Melhor Direção, após seu filme “The Other Side of Hope” ser um dos mais aplaudidos da Berlinale. O longa é uma história tragicômica, que gira em torno de um refugiado sírio. O mestre finlandês já tinha tratado do tema dos refugiados em seu filme anterior, “O Porto” (2011). Com uma filmografia que já abrange três décadas, ele nunca venceu nenhum dos grandes festivais e havia grande torcida por um Leão de Ouro. Mesmo assim, o Leão de Prata de Berlim é o prêmio mais importante de sua carreira.

Outro filme bastante comentado, “Una Mujer Fantástica”, do chileno Sebastian Lélio (do premiadíssimo “Gloria”), venceu como Melhor Roteiro. A produção gira em torno de uma mulher transgênero que tenta superar o luto, e também conquistou o prêmio Teddy, que elege as melhores obras LGBTQ do festival. Mas a torcida também queria ver a transexual Daniela Vega vencer como Melhor Atriz.

Os prêmios de interpretação foram para o veterano austríaco Georg Frederich (de “Faust”) por “Bright Nights”, de Thomas Arslan (“Gold”), e a sul-coreana Kim Min-hee (estrela de “A Criada”), por “On the Beach at Night Alone”, sua segunda parceria com o diretor Hong Sang-soo após “Certo Agora, Errado Antes” (2015).

“Ana, Mon Amour”, do romeno Cãlin Peter Netzer, também teve uma recepção muito boa da parte da imprensa, tendo como único senão o fato de seu cineasta ter vencido o Urso de Ouro recentemente – por “Instinto Materno” (2013). Acabou rendendo um prêmio para sua editora, Dana Bunescu, como Melhor Contribuição Artística.

O júri também deu um prêmio especial a “Félicité”, do senegalês Alain Gomis (“Andalucia”), sobre uma mãe solteira que trabalha como cantora de bar e se desespera pela falta de dinheiro quando o filho precisa ser hospitalizado em Kinshasa. E entregou à veterana Agnieszka Holland (“Na Escuridão”) o troféu Alfred Bauer, voltado a produções que abrem novos horizontes artísticos, por “Pokot”. Esta homenagem destoou das demais, uma vez que longa da cineasta polonesa, sobre uma serial killer vegana que mata caçadores para defender os animais de uma floresta, foi vaiado durante sua projeção.

Completam a premiação principal os troféus de Melhor Filme de Estreia para “Summer of 1993”, da espanhola Carla Simon, e de Melhor Documentário para “Ghost Hunting”, do palestino Raed Andoni. E entre os curtas, vale mencionar a vitória de “Cidade Pequena”, do português Diogo Costa Amarante.

O Brasil foi representado na competição por “Joaquim”, de Marcelo Gomes, que a crítica internacional considerou fraco. Um jornal português chegou a questionar sua inclusão na seleção, mencionando que havia obras brasileiras melhores nas mostras paralelas. Por sinal, “Pendular”, de Julia Murat, recebeu o prêmio da crítica como Melhor Filme da mostra Panorama.

Vencedores do Festival de Berlim 2017

Urso de Ouro – Melhor Filme
“On Body And Soul”, de Ildiko Enyedi

Urso de Prata – Grande Premio do Júri
“Félicité”, de Alain Gomis

Urso de Prata – Prêmio Alfred Bauer
“Pokot”, de Agnieszka Holland

Urso de Prata – Melhor Diretor
Aki Kaursimaki, “The Other Side of Hope”

Urso de Prata – Melhor Atriz
Min-hee Kim, por “On the Beach at Night Alone”

Urso de Prata – Melhor Ator
Georg Friedrich, por “Bright Nights”

Urso de Prata – Melhor Roteiro
Sebastian Lelio e Gonzalo Maza, por “Una Mujer Fantástica”

Urso de Prata para Melhor Contribuição Artística
Dana Bunescu, pela edição em “Ana, Mon Amour”

Melhor Documentário
“Ghost Hunting”, Raed Andoni

Melhor Filme de Estreia
“Summer 1993”, Carla Simon

Urso de Ouro – Melhor Curta-Metragem
“Cidade Pequena”

Urso de Prata – Prêmio de Júri de Curta-Metragem
“Reverie in the Meadow”

Prêmio Audi para Curta-Metragem
“Street of Death”