ONGs brasileiras também planejam protestos contra Quatro Vidas de um Cachorro

Apesar dos desmentidos e dúvidas levantadas sobre a edição do vídeo de supostos maus tratos no set de “Quatro Vidas de um Cachorro”, ONGs de defesa dos direitos dos animais pretendem realizar […]

Apesar dos desmentidos e dúvidas levantadas sobre a edição do vídeo de supostos maus tratos no set de “Quatro Vidas de um Cachorro”, ONGs de defesa dos direitos dos animais pretendem realizar protestos contra a estreia do filme, inclusive no Brasil, onde o lançamento acontece nesta quinta-feira (26/1).

A ONG Peta (People for the Ethical Treatment of Animals) é a principal inimiga da produção e não esconde seus planos de usar o filme como marco de sua campanha para impedir que animais atuem no cinema. Para a Peta, todos os bichos em todos os filmes deveriam ser criados por computador. A entidade promove uma massiva campanha online com a hashtag #BoycottADogsPurpose (#BoicoteQuatroVidasDeUmCachorro) e já anunciou que pretende ir às portas dos cinemas nos Estados Unidos para constranger quem quiser assistir à estreia.

No Brasil, a apresentadora de TV e ativista Luisa Mell revelou que pretende encabeçar uma campanha online com o seu instituto. Mas seu objetivo não é o mesmo da Peta. “Estamos em contato com mais três ONGs para que as pessoas troquem seus ingressos por uma doação para uma delas. A ideia é que elas não assistam ao filme e façam uma doação no valor que gastariam com os ingressos. Assim o dinheiro que iria para o estúdio ajudará no bem-estar de algum animal”, ela explicou, em entrevista ao UOL.

Ironicamente, Luisa Mell era uma das fãs do livro homônimo de W. Bruce Cameron que estava “ansiosíssima” para ver a adaptação. Na história de “Quatro Vidas de um Cachorro”, o cãozinho Bailey morre e renasce várias vezes, como diferentes cachorros, até reencontrar seu primeiro dono, muitos anos depois. Para isso, vários cães de diversas raças foram usados durante as filmagens.

“Li o livro e fiquei apaixonada, é lindo. E aí foi um horror ver que mesmo um filme que vai falar do amor pelos cachorros usa crueldade para fazer isso”, disse, referindo-se ao vídeo publicado pelo site TMZ, que mostra um cachorro aparentemente sendo jogado na água contra sua vontade para fazer uma cena. “Quando se faz um filme, o adestrador tem que ter poder para barrar uma cena como essa. Fiquei super chateada, horrorizada e decepcionada”, completou Mell.

Na página do Facebook do Instituto Luisa Mell, a publicação do vídeo dos maus tratos teve mais de 160 mil compartilhamentos e quase 70 mil comentários. “A parte boa é que hoje em dia tem internet, isso viraliza e ninguém aceita mais. Tenho certeza que muitos filmes já utilizaram de maus tratos e nem ficamos sabendo. Hoje em dia cai nas redes e surge um movimento gigante. Todo mundo indignado. É uma grande lição para Hollywood e para todo o mundo do entretenimento. A sociedade não aceita mais esse tipo de crueldade. Não existe justificativa para maus tratos. Eles vão pensar mais antes de fazer isso, pois já é um fracasso. Que sirva de lição”, opinou a ativista.

Além dela, Juliana Camargo, presidente da Ampara Animal, também planeja uma ação online para estimular o boicote ao filme. A ONG, que é formada exclusivamente por mulheres, atua em ações para cuidar de cães e gatos rejeitados e abandonados. A Ampara conta com o apoio de diversos famosos como Sabrina Sato, Cléo Pires e Fernanda Paes Leme.

“A divulgação que o Peta fez pode colocar tudo a perder. Acredito que isso realmente vá acontecer. Muita gente que eu conheço e ia assistir o filme já desistiu. A manifestação nas redes sociais também tem sido muito maior do que nós imaginávamos. A ideia é fazer que as pessoas leiam o livro e não frequentem o cinema”, explica Juliana.

A presidente da Ampara também lembra que o selo de aprovação de que animais não sofreram nas gravações – uma das justificativas usadas para tentar salvar o filme – pode não significar muita coisa. “Essa questão do selo pode ser uma coisa positiva, o problema é por qual instituição ela vai ser feita. Uma ONG que nós conhecemos há muito tempo e que sempre nos ajudou a trabalhar contra a exploração animal estava trabalhando em prol do hipismo porque recebeu apoio de um atleta. Infelizmente isso acontece, as instituições são corrompidas. Nunca é 100% confiável.”

Fernanda Barros, presidente e fundadora do Projeto Segunda Chance, uma associação que realiza o trabalho de recuperação física e emocional de cães e gatos, contou na mesma reportagem que também estava ansiosa pelo filme e agora aconselha a evitá-lo. “Chorei que nem louca quando assisti o trailer, estava contando os dias para assistir. Mas agora estou decidida que não darei meu dinheiro para quem lucra com sofrimento. As pessoas sempre tentam achar uma justificativa, inclusive nos acusando de radicais. É tudo desculpa esfarrapada e o bem-estar do animal fica por último como sempre.”

A Universal Pictures, distribuidora de “Quatro Vidas De Um Cachorro”, conduz uma investigação ao lado da Amblin Entertainment, que produziu o filme. Em uma nota enviada à imprensa, o estúdio garante que todos os protocolos foram seguidos e que Hercules, o pastor alemão que aparece no polêmico vídeo, está “feliz e saudável”.

Enquanto isso, o autor do livro e roteirista do filme W. Bruce Cameron, o produtor Gavin Polone e a empresa que forneceu o pastor alemão para as filmagens se posicionaram, reforçando a questão de que o vídeo divulgado pelo TMZ foi editado para que parecesse que fosse apenas um take, sendo que as cenas foram gravadas separadamente.

Embora a polêmica tenha levado ao cancelamento da pré-estreia do filme e da entrevistas com o elenco nos Estados Unidos, as datas de estreia foram mantidas em todos os países. No Brasil, “Quatro Vidas de um Cachorro” estreia na quinta (26/1).