Independence Day ressurge sem a mesma potência

Assim como a Terra, o diretor Roland Emmerich teve 20 anos para se preparar para a volta dos alienígenas em “Independence Day: O Ressurgimento”. Mas como um dos personagens conclui de forma […]

Assim como a Terra, o diretor Roland Emmerich teve 20 anos para se preparar para a volta dos alienígenas em “Independence Day: O Ressurgimento”. Mas como um dos personagens conclui de forma metalinguística na metade do filme, não foi suficiente.

Fato: estamos mais velhos desde o primeiro “Independence Day” (1996). Mas não é desculpa para o segundo episódio da (agora) franquia parecer tão velho. E a culpa é do próprio Emmerich. Não pelas soluções fáceis e rápidas que a resistência humana encontra para fazer frente aos alienígenas. Ou pelo filme ser brega, clichê e pregar a mesma diversão escapista de quando os cinemas cheiravam à pipoca e ninguém levava blockbusters a sério. Mas por Emmerich ter estabelecido, com mérito, em 1996, um padrão para destruições em grande escala, que tantos outros aprenderam a copiar.

“Independence Day” foi o grande evento cinematográfico dos anos 1990, quando as superproduções podiam ser contadas nos dedos da mão. Há duas décadas, só dividiu atenções com “Twister” e o primeiro “Missão: Impossível”. Hoje, Hollywood lança um filme desse porte quase toda semana. Fica difícil sentir o prazer de se surpreender, de ficar impressionado, quando a destruição do planeta vira o lugar-comum cinematográfico – só neste ano, os efeitos digitais ameaçaram a Terra em “Batman vs Superman”, “X-Men: Apocalipse” e até “As Tartarugas Ninja”.

Mas Emmerich não estabeleceu um padrão por acaso. Pode-se falar qualquer coisa dele, menos que o diretor se repita na escala de sua destruição. Os efeitos catastróficos do novo “Independence Day” são diferentes dos vistos em “Godzilla” (1998), que não são iguais aos de “O Dia Depois de Amanhã” (2004), que por sua vez são diversos em “2012” (2009). Mesmo assim, como espetáculo, é estranho que “O Ressurgimento” pareça maior em suas ambições e, ao mesmo tempo, menor na execução.

É visível a intenção de Emmerich em tornar as sequências de ação e destruição ainda mais monumentais, porém com durações mais curtas, talvez por ter a noção de que praticamente tudo foi explorado nesse quesito nos anos anteriores. Mas os esforços digitais, embora muito bem trabalhados, já não impressionam como os resultados alcançados pelo filme original, que mesclou os primórdios da tecnologia usada atualmente com os sempre bem-vindos efeitos práticos.

O resultado é que não há uma cena sequer em “O Ressurgimento” que deixe o espectador com o queixo no chão, como aconteceu com a sombra da nave no primeiro filme, o início dos ataques e a clássica explosão da Casa Branca em 1996.

Em parte, isso também se deve à tendência iniciada nesta segunda metade da década de 2010: as continuações que copiam o template dos filmes originais. Não que sejam exatamente iguais, como os remakes, mas utilizam a mesma estrutura de roteiro. Foi a principal reclamação em “Star Wars: O Despertar da Força” (2015), que copiou a estrutura de “Guerra nas Estrelas” (1977). Tudo bem, porque se você vai copiar, copie dos melhores. Acontece que “Independence Day” não é uma obra tão relevante quanto a que George Lucas criou em 1977. Assim, onde o primeiro longa se inspirava nos filmes B, com pitadas do cinema de Lucas e Spielberg, “O Ressurgimento” se inspira basicamente na obra do próprio Emmerich.

No elenco, Bill Pullman, Jeff Goldblum e Brent Spiner brilham sempre que aparecem, agindo como “mestres” e deixando as cenas de ação para uma nova geração de “aprendizes”. Mas se Daisy Ridley, John Boyega e Oscar Isaac convencem como substitutos de Mark Hamill, Harrison Ford e Carrie Fisher em “Star Wars”, o mesmo não acontece com Jessie T. Usher, Liam Hemsworth (ambos péssimos) e Maika Monroe (a melhor do trio, mas não tão aproveitada quanto os dois rapazes), que nem somados conseguem fazer frente à ausência de Will Smith, que não topou fazer a continuação.

Por outro lado, há uma preocupação em transmitir maior tolerância na representação da espécie humana. O mundo que surge no começo do filme é mais harmônico, sem preconceitos raciais e sexuais, após a população mundial perceber que “não estamos sozinhos”. E, pelo jeito, a humanidade precisará se unir ainda mais, porque há um gancho safado no final do longa-metragem para uma continuação.

Infelizmente, esta é outra aposta de Emmerich em seu próprio taco que pode gerar frustração, devido às fracas bilheterias.