Filme espanhol mais premiado do ano, Truman mescla humor e drama com o talento de Ricardo Darín

Dois amigos de infância, separados geograficamente e pelo tempo decorrido, reencontram-se por alguns dias, quando um deles aparece para uma visita surpresa. Tomás (Javier Cámara) vive no Canadá, com sua família, e […]

Dois amigos de infância, separados geograficamente e pelo tempo decorrido, reencontram-se por alguns dias, quando um deles aparece para uma visita surpresa. Tomás (Javier Cámara) vive no Canadá, com sua família, e vem encontrar-se com Julian (Ricardo Darín), que vive na Espanha, separado da mulher, com um filho em outra cidade, em um momento decisivo da vida. O encontro será marcado por muito afeto, estranhezas, cobranças, disputas e também muita solidariedade. É um filme que celebra a diversidade de pessoas e situações, buscando entender, não julgar. E como isso pode ser difícil nos relacionamentos humanos!

O foco da narrativa está numa questão basilar: podemos manejar e controlar a nossa própria vida, mantendo as rédeas até seu último instante e garantindo até mesmo situações posteriores a ela mesma? Que domínio podemos ter sobre a própria morte? Qual a melhor maneira de se despedir da vida? E como nossas decisões podem afetar os outros? Que direito temos de levá-los a compartilhar de nossos desejos fúnebres? Quais são esses limites?

Essa pode ser uma discussão de caráter filosófico, mas comporta também coisas bem prosaicas. Uma delas: com quem ficaria meu cachorro, velho e grande amigo, que vai sentir muito a minha falta? Isso exige uma cuidadosa seleção de a quem caberiam esses cuidados na minha ausência, na falta de um sucessor, digamos, natural.

Não escolhi esse exemplo à toa. “Truman”, o título do filme, é o nome do cachorro em questão, o que mostra sua importância para a trama. O papel cabe ao cão Troilo, que tem o privilégio de ter como parceiros de desempenho dois atores magníficos.

Ricardo Darín (“O Segredo dos Seus Olhos”, “Um Conto Chinês”) é um dos mais talentosos atores de cinema na atualidade. Não só do cinema argentino, mas do mundial. O espanhol Javier Cámara (“Fale com Ela”, “Viver é Fácil Com os Olhos Fechados”) tem uma expressividade e um senso de humor que lhe permitem construir personagens cheios de humanidade e sutileza. O convívio de ambos na telona é impactante.

O diretor Cesc Gay tem especial interesse em mostrar questões humanas num nível mais complexo, inesperado, surpreendente, algumas vezes constrangedor. E o faz mesclando drama e humor de forma muito eficiente.

Em 2012, ele dirigiu “O Que os Homens Falam”, ótimo filme, concebido como antologia de várias histórias, que também contou com a participação de Ricardo Darín e Javier Cámara no elenco. Mas eles não contracenavam no mesmo episódio. Também naquele filme, o roteiro original coube ao diretor e seu parceiro Tomás Aragay. Parcerias bem sucedidas que voltam a se repetir.

“Truman” foi o grande vencedor do prêmio Goya 2016 (O Oscar espanhol). Levou nada menos que os prêmios de Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e para os Atores, protagonista e coadjuvante. Além de prêmios em outros festivais, como o de San Sebastian, pela atuação de Ricardo Darín. Tudo merecido.