Ettore Scola (1931 – 2016)

Morreu o cineasta Ettore Scola, um dos principais nomes do cinema italiano. Ele faleceu na terça-feira (19/1), aos 84 anos de idade. O diretor estava internado em um hospital de Roma desde […]

Morreu o cineasta Ettore Scola, um dos principais nomes do cinema italiano. Ele faleceu na terça-feira (19/1), aos 84 anos de idade. O diretor estava internado em um hospital de Roma desde o último domingo (17), em coma no departamento cardiológico da instituição, de acordo com informações da agência de notícias ANSA.

Nascido em 1931 na pequena comuna italiana de Trevico, na província de Avellino, Scola se dedicou ao cinema após estudar Direito e atuar como jornalista, ocasião em que conviveu com o futuro colega de profissão Federico Fellini. A amizade com Fellini, por sinal, marcou sua carreira. Além de dirigir o colega, que participou como ator de “Nós Que Nos Amávamos Tanto” (1974), Fellini foi o tema do último filme de sua carreira, o documentário “Que Estranho Chamar-se Federico”, de 2013.

Scola começou no cinema como roteirista de comédias ligeiras, como “O Solteirão” (1955), “Um Conde à Italiana” (1957), “Totó na Lua” (1958), “Caprichos de Mulher” (1958), “Aquele Que Sabe Viver” (1962) e outras similares, e continuou no gênero ao passar para trás das câmeras, estreando como cineasta em 1964 com a comédia “Fala-se de Mulheres”, seguida por “Por um Milhão de Dólares” (1964), o início de sua longa colaboração com Victorio Gassman, que o acompanharia em diversos filmes.

Sem abrir mão do humor, sua filmografia foi enveredando pela crítica social, destilando comentários ácidos sobre o país e a humanidade em geral. A mudança de tom começou por “Ciúme à Italiana” (1970), que também marcou sua primeira parceria com Marcello Mastroianni. A trama girava em torno de um triângulo amoroso, formado ainda pela bela Monica Vitti e Giancarlo Giannini, mas era mera desculpa para a sátira social e experimentalismo formal do diretor, que fazia os personagens defenderem seus pontos de vista falando diretamente para o público.

Ele voltou a trabalhar com Mastroianni em “Rocco Papaleo” (1971), focando as dificuldades encontradas por imigrantes no exterior – o filme se passa nos EUA. Mas o ponto de virada se deu com “Nós Que Nos Amávamos Tanto” (1974), um balanço de geração que havia sonhado com um mundo melhor nos anos 1960 e agora via-se obrigada a fazer um balanço de seus fracassos.

Mas a consagração definitiva veio com “Feios, Sujos e Malvados” (1978), pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Povoado por personagens extremos, o filme acompanhava os integrantes de uma família miserável e desregrada, que passavam o tempo planejando como transar ou matar uns aos outros. Considerado uma obra-prima, “Feios, Sujos e Malvados” é também um dos retratos mais impiedosos da raça humana.

Ele realizou muitos outros filmes excepcionais, como “Um Dia Muito Especial” (1977), em que Marcello Mastroianni e Sophia Loren parecem ser os únicos a não se entusiasmar com a visita de Hitler à Itália em 1938, “O Terraço” (1980), que, ao abordar o direito à felicidade, lhe deu o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, “Casanova e a Revolução”, com Mastroianni vivendo um Casanova envelhecido, e o fenomenal “O Baile” (1983), em que a música e a dança contam a história, sem diálogos, de 50 anos da humanidade.

Após a indicação de “O Baile” ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Scolla dirigiu seu segundo filme parcialmente falado em inglês, “Macaroni” (1985), em que Jack Lemmon (“Quanto Mais Quente Melhor”) se juntou a Mastroianni numa viagem à Itália. Ele ainda dirigiu Mastroianni em “Splendor” (1989), uma homenagem ao cinema, e “Che Ora È?” (1989), em que pai e filho tentam acertar suas diferenças.

Outra de suas musas foi a atriz francesa Fanny Ardant, que o diretor comandou nos clássicos “A Família” (1987) e “O Jantar” (1998). Scolla também dirigiu um grande elenco francês em “A Viagem do Capitão Tornado” (1990), sua homenagem ao teatro, que acompanhava uma companhia itinerante da Idade Média, que incluía Emmanuelle Béart, Jean-François Perrier e Ornella Muti.

Mestre do cinema, Scolla não diferenciava entre humor e drama para realizar seus retratos vibrantes, mas bastante cruéis, da experiência humana. Conforme avançou na idade, também aumentaram suas preocupações com a falência dos valores da sociedade – a crise do cinema em “Splendor” (1988), a crise política em “Mario, Maria e Mário” (1993), a crise social em “A História de um Jovem Homem Pobre” (1995) e a crise moral em “Concorrência Desleal” (2001), entre outras obras, cada vez mais dramáticas e desencantadas.

Sua morte foi lamentada por Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, para quem a perda do diretor “deixa um enorme vazio na cultura italiana”.