Melissa Mathison (1950 – 2015)

Morreu a roteirista Melissa Mathison, que foi indicada ao Oscar pela história de “E.T. – O Extraterrestre” (1982). Ela faleceu na quarta-feira (4/11), aos 65 anos, de câncer, em um hospital de […]

Morreu a roteirista Melissa Mathison, que foi indicada ao Oscar pela história de “E.T. – O Extraterrestre” (1982). Ela faleceu na quarta-feira (4/11), aos 65 anos, de câncer, em um hospital de Los Angeles.

Natural de Los Angeles, Melissa nasceu em 3 de junho de 1950, cresceu em Hollywood Hills, perto do emblemático cartaz de Hollywood, e conviveu desde criança com muitos artistas, que frequentavam a casa de seu pai, chefe de redação da revista Newsweek. Essas amizades de infância acabaram mudando seu destino, fazendo com que desistisse de um trabalho na faculdade de Ciências Políticas de Berkeley para trabalhar no cinema.

Sua carreira começou por acaso, com o convite de um amigo da família, que precisava de ajuda no set de seu novo filme. O amigo era Francis Ford Coppola, para quem Melissa costumava trabalhar como baby-sitter. Ela foi ao set de filmagem acompanhar a pequena Sofia, então com três anos de idade, que participaria de uma cena do filme, e auxiliou Coppola a lidar com a filha. O diretor acabou lhe passando outras tarefas e, ao final, a convidou a trabalhar na produção. Melissa estreou no cinema aos 23 anos, como sua assistente no set de “O Poderoso Chefão II” (1974).

Coppola não esqueceu da jovem auxiliar ao organizar sua produção seguinte. Ela voltou a ser sua assistente na jornada épica de “Apocalypse Now” (1979), filme em que conheceu seu futuro marido, o ator Harrison Ford. Durante a filmagem, ela ainda ajudou a revisar o roteiro. O que inspirou o diretor a lhe aconselhar a escrever para o cinema.

Melissa aceitou o desafio e desenvolveu a adaptação do clássico literário infantil “O Corcel Negro”, que Coppola produziu. Lançado em 1979, o filme se tornou um grande sucesso e foi indicado a dois Oscars.

O roteiro de “O Corcel Negro” impressionou outro cineasta no auge de sua criatividade. Há anos, Steven Spielberg queria filmar uma história sobre um alienígena abandonado na Terra, mas, sem consegur encontrar a forma de contá-la, sondou a jovem roteirista. Melissa encontrou o caminho ao escrevê-la como uma fábula sobre um menino e seu melhor amigo, que em vez de ser um cachorrinho era um alienígena perdido, usando sua experiência como baby-sitter para criar diálogos inesquecíveis para as personagens crianças. “E.T. – O Extraterrestre” virou um fenômeno.

“Era um script que me deu vontade de filmar imediatamente”, disse Spielberg, nos extras do DVD de “E.T.”. “A voz de Melissa fez uma conexão direta com o meu coração”, ele completou.

Ela também atuou como produtora assistente e fez uma figuração como enfermeira no filme, que quebrou recordes de bilheteria, faturando US$ 359 milhões só nos EUA – US$ 792 milhões em todo o mundo. Maior sucesso de 1982, ainda foi indicado a nove Oscars, entre eles os de Melhor Filme e Roteiro. Venceu quatro, de trilha (do mestre John Williams) e prêmios técnicos.

Consagrada, ela escreveu outro filme infantil produzido por Coppola, “O Pequeno Mágico” (1983), e o segmento dirigido por Spielberg na antologia “No Limite da Realidade” (1984), homenagem cinematográfica à série clássica “Além da Imaginação” (The Twilight Zone).

Mas a ascenção fulminante foi interrompida após seu casamento com Harrison Ford e o nascimento de seus dois filhos. A família optou por se afastar de Hollywood para ir morar em 1983 numa fazenda de 700 acres no interior do Wyoming, onde Melissa priorizou cuidar dos filhos. “Eu tenho duas crianças pequenas”, ela disse à Newsweek, na época. “Eu não quero perder a infância delas me ausentando para escrever filmes sobre outras crianças”.

A roteirista só foi voltar a trabalhar após mais de uma década, quando os filhos já estavam mais grandinhos. O retorno se deu, para variar, com a história de uma nova fantasia infantil, “A Chave Mágica” (1995), dirigido por Frank Oz, um dos responsáveis pelo sucesso dos Muppets.

Mas a essa altura ela já desenvolvia planos mais ambiciosos. Melissa, que era budista, tinha conhecido o Dalai Lama em 1990, por intermédio do ator Richard Gere, e no encontro o convenceu que sua infância daria um belo filme, capaz de ajudar a promover o budismo. A partir dali, foram várias conversas e revelações, com viagens até a Índia, onde o Lama residia, até a escritora se dar por satisfeita. “Eu sou meio que famosa por histórias de meninhos, e esta é uma história fantástica de menininho, cheia de fantasia, mas totalmente real”, ela explicou, em entrevista ao jornal The New York Times em 1996.

O roteiro rendeu uma parceria com outro mestre do cinema, o cineasta Martin Scorsese, que dirigiu sua história em “Kundun” (1997). O filme foi indicado a quatro Oscars. E pelos anos seguintes Melissa se dedicaria à causa da libertação do Tibete, participando do comitê internacional pela independência do país, invadido pela China em 1951.

Ela se divorciou de Harrison Ford em 2004 e estava curtindo sua aposentadoria quando Spielberg foi procurá-la no ano passado para retomar a parceria.

O cineasta lhe encomendou o roteiro de seu próximo filme, apropriadamente uma fantasia infantil, adaptando o livro “The BFG”, de Roald Dahl, sobre a amizade de uma menina e um gigante camarada, que invade os quartos das crianças para soprar-lhes bons sonhos. Juntos, eles partem para a terra dos sonhos, onde encontram outros gigantes, que não são camaradas e só gostam de crianças como jantar. Mas, com a ajuda da Rainha da Inglaterra, conseguem prendê-los e viver felizes para sempre.

Spielberg estava no meio do processo de pós-produção quando Melissa faleceu. Emocionado, ele divulgou uma nota em homenagem à velha amiga, dizendo: “Melissa tinha um coração que brilhava com generosidade e amor e viveu com a mesma luz que deu a E.T.”.